17 maio 2014

Edifícios de luxo mudam a paisagem de Bogotá


O novo edifício residencial Vitrvm planeado pelo arquiteto Richard Meier terá nas suas caraterísticas planos salientes e superfícies esculpidas em vidro e aço branco. Dos 37 apartamentos, com preços de aproximadamente US$ 2 milhões, 73% já foram vendidos, apesar de as obras só começarem em junho. O projeto, chamado Vitrvm, e o alvoroço em torno dele, é o que se poderia esperar do arquiteto que desenhou o Getty Center, um sofisticado museu de Los Angeles, exceto por um fator: fica em Bogotá, na Colômbia.

"Por que não Bogotá?", pergunta Meier. "A economia está forte e há pessoas que desejam edifícios de qualidade para morar e trabalhar."

Com dois apartamentos por andar, a torre prismática é dividida ao meio a fim de proporcionar para ambas unidades acesso à luz natural ao longo do dia. Em contraste, o volume retangular abriga apenas um apartamento, organizado a partir de uma configuração linear com áreas sociais e escritórios orientados em direção ao norte.

A ser construído com placas metálicas, pedras naturais e um sistema de paredes de alumínio, o edifício terá uma fachada vitrificada, com esquadrias e detalhes em tons claros. “A forma minimalista e transparente da estrutura é uma adição à paisagem urbana de Bogotá. Durante o nascer e pôr do sol, a luz será filtrada através dos vidros modulares promovendo vistas muito particulares”, comenta o arquiteto Richard Meier.

O mercado imobiliário de Bogotá, cidade de 8 milhões de habitantes, apresenta hoje um aspeto mais positivo do que se poderia esperar dessa capital, que tem uma história de violência vinculada a política e drogas. O preço por metro quadrado para novas construções mais que triplicou entre 2003 e 2013, segundo um relatório do Banco de la República, o banco central colombiano. O preço das casas construídas também aumentou nesses dez anos.

Edifícios novos com amenidades de luxo, à venda por quase US$ 4.000 o metro quadrado, vêm surgindo por toda a cidade, oferecendo comodidades como academia, sala de media e campos de ténis ou squash. Alguns edifícios de mais alto padrão dispõem de salas de conferência para reuniões executivas. Empresas internacionais do setor imobiliário, como a Engel & Völkers, corretora alemã de imóveis de luxo que tem filiais em 38 países, estão se instalando em Bogotá.

Ao mesmo tempo, os sequestros que causaram a temível reputação da Colômbia caíram em mais de 90% entre 2002 e 2009. Ocorreram 43 sequestros na cidade no ano passado, segundo um relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos baseado em dados do governo colombiano. As negociações de paz entre o governo e grupos guerrilheiros buscam encerrar um conflito de 50 anos, dizem autoridades locais.

"A Colômbia ainda tem má reputação, mas é um lugar bem diferente da imagem que as pessoas têm", diz Angel Seda, diretor-presidente da incorporadora Royal Property Group.

O que está alimentando a procura por imóveis de luxo é uma classe de empresários locais em ascensão e também executivos bem pagos vindos da Venezuela, Argentina, Espanha e outros países. O produto interno bruto colombiano vem crescendo a uma média de 4,3% ao ano desde 2007, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Francisco Leal, de 35 anos, e sua esposa, Karen Daccarett, de 34, são exemplos desse novo tipo de compradores de imóveis. O casal colombiano, ambos estilistas e donos da Leal Daccarett, marca de luxo de roupa feminina, vendeu um apartamento de 93 metros quadrados, comprado em 2008, pelo triplo do preço pago. Eles queriam uma casa nova, com um terraço grande e planta aberta, e acabaram visitando uns cem apartamentos numa faixa de preço entre US$ 619.000 e US$ 773.000, diz Leal.

"Se você vai pagar essa quantia, precisa realmente gostar" do imóvel, diz.

O casal, que tem um filho de 2 anos, decidiu-se por um apartamento de 288 metros quadrados num prédio concluído no ano passado. O apartamento tem vista para o parque El Virrey, num bairro cheio de residentes estrangeiros.

A incorporadora Neos Group concluiu recentemente dois edifícios residenciais de luxo na cidade e tem mais quatro programados para entrega até 2016. As vendas têm sido rápidas, a preços entre US$ 4.300 e US$ 6.500 o metro quadrado, diz a diretora de vendas e marketing da Neos, Valentina Grajales, que se mudou para a Colômbia no ano passado depois de dez anos vendendo imóveis em Miami.

Ela está incentivando a Neos a usar mármore veneziano e eletrodomésticos e acessórios Thermador e Teka, que são apreciados nos condomínios de luxo de Miami. A empresa também está planeando banheiros e cozinhas maiores para tornar os imóveis mais atraentes, diz ela.

Alguns projetos, como o Neos Vitra, também têm amenidades tipicamente colombianas: salas de descanso e lazer para motoristas e guarda-costas.

Embora a segurança tenha melhorado, ainda existe uma cultura de preocupação devido a problemas políticos mais amplos. O prefeito de Bogotá foi afastado do cargo há seis semanas por supostos problemas na recolha de lixo da cidade, mas foi reintegrado na semana passada. A prefeitura não quis comentar. Uma reclamação mais rotineira é sobre o trânsito terrível da cidade.

Seda, do Royal Property Group, que se mudou de Los Angeles para a Colômbia em 2007, está obtendo permissões para construir 60 apartamentos e 80 quartos que vão integrar o Charlee Hotel, projeto em que investidores individuais serão donos da maioria dos quartos. Para ele, uma boa base de clientes são os executivos de multinacionais que recentemente se instalaram na cidade, diz. Nos últimos anos, empresas internacionais como a consultoria AT Kearney, a HRG Logistics e o Facebook abriram filiais em Bogotá.

"O nosso entendimento é que todas essas empresas precisam de algum lugar para colocar suas sedes na América Latina e por isso estão comprando escritórios e imóveis residenciais", diz Seda.


Fonte: The Wall Street Journal

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