20 abril 2015

Há seis milhões de frações para reabilitar a cada 30 anos


Reabilitar é o futuro. A declaração parece simples mas o processo que a sociedade portuguesa e as empresas nacionais passaram ao longo dos últimos 40 anos, obriga a uma profunda reformulação de metodologias. Vasco Peixoto de Freitas, professor catedrático da faculdade de Engenharia da Universidade do Porto-FEUP e diretor do Laboratório de Física das Construções, sintetiza o tema para o OJE. Diz que durante muito tempo a construção teve financiamentos enormes e o resultado foi o excesso de oferta que hoje existe. 



Nos tempos que correm “o que está em jogo é conservar o património edificado, adaptando as empresas às necessidades”. O país tem seis milhões de frações urbanas e de 30 em 30 anos é necessário ações de reabilitação. Isto não foi necessário no passado por que havia grande oferta de habitação nova.


A par da adaptação das empresas, é necessário que exista um ajustamento regulamentar dado que o normativo existente destina-se à habitação nova, diz Peixoto de Freitas. As empresas deverão ter de orientar a sua atividade para a reabilitação, “devendo atuar sobre um objetivo e não apenas conceber um objeto”. Isto também significa uma alteração a nível da formação académica e do ensino em geral. Refere o mesmo interlocutor que as escolas de arquitetura e de engenharia têm e algumas continuam a ter, uma lógica e uma vocação de ensino para a construção nova, embora exista atividade curricular que reflete sobre reabilitação. Defende o professor do Porto que “as metodologias não têm de ser diferentes, mas tem de haver uma abordagem distinta e têm de ser feitos planos curriculares mais vocacionados para a questão da reabilitação”.

Diz que o país tem massa crítica em termos industriais e que há um conjunto de empresas com grande experiência e com quadros de formação elevada e que eventualmente terão de se ajustar à nova realidade. Defendeu, por último, que o plano estratégico na área da reabilitação deve ser pensado para uma década, 2015 a 2025, para que as entidades municipais possam calendarizar um caminho, permitindo aos privados ter condições para tomarem opções na vertente da reabilitação.

O setor da construção civil e obras públicas que chegou a ser responsável por 9% do emprego no país e que de forma direta e indireta significou 50% do crédito do setor bancário, está a transformar-se.

A Lei das Rendas, mas sobretudo a questão fiscal, com o IVA reduzido na obra de reabilitação, deram um novo impulso ao setor. As obras perderam algum do caráter especulativo, para serem obras com clientes pré-definidos. Também as zonas de intervenção passaram a especializar-se, quer a nível do residencial nos centros de Lisboa e Porto, quer no crescimento dos projetos ligados à hotelaria.

Fonte: OJE

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