Quatro anos passados sobre a entrada da troika em Portugal os últimos dados disponíveis apontam para urna notória recuperação dos valores de mercado da habitação nos principais centros urbanos. O impacto da crise nos preços do imobiliário foram profundos e transversais, atingindo fortemente os principais centros urbanos, que viram descer os preços de mercado entre 20 e 30%, em termos médios, com especial incidência nas zonas mais periféricas das cidades.
Muitos analistas têm sublinhado a recente subida de preços nos mercados de Lisboa e Porto, fruto de uma "nova procura" para segunda habitação e investimento, nomeadamente por estrangeiros.
Além disso, os dados mais recentes apontam já para uma notável recuperação dos valores de mercado nos principais centros urbanos. De facto, em relação a junho de 2011, os valores médios de avaliação bancária apresentam agora uma redução de apenas 13% na área metropolitana de Lisboa e de 9% na área metropolitana do Porto, para os principais concelhos selecionados. Alguns concelhos, como o Porto, já. regressaram inclusive a valores de 2011.
Esse indicador parece ter atingido o ponto mais baixo em finais de 2013 e nos últimos meses a recuperação parece ser sustentada, porém bastante lenta e progressiva. Embora alguma prudência seja aconselhável, os dados parecem agora indicar uma subida tímida mas visível dos preços na generalidade dos principais polos urbanos.
O facto da subida de valores médios de mercado ser transversal e comum à maioria das principais cidades é assinalável e um dado assaz surpreendente face às atuais condições da procura primária, fortemente condicionada pela demografia adversa.
Na base estarão fatores como a recuperação ligeira do consumo e do investimento privado, notória no aumento dos índices de confiança dos consumidores, e, sobretudo, a falta de alternativas de investimento, as baixas taxas de juro e a maior concessão de crédito por parte do sistema financeiro. A procura por não residentes poderá ser uma explicação adicional mas apenas nos poios urbanos mais turísticos.
Além disso estará, sobretudo, é minha convicção, embora de difícil evidenciação empírica, a "saturação" da prolongada crise. A maioria dos portugueses começa a perceber que esta crise é, na sua essência, diferente das anteriores e que se deverá prolongar por muitos e bons anos em larga medida devido ao "espartilho" ditado pela zona euro, moeda a que, na realidade, nunca nos adaptámos com o necessário vigor e pragmatismo.
Uma moeda muito forte tem duas faces. A face do crédito abundante foi largamente estimulada é experimentada por mais de uma década. A segunda face chegou depois, dura e austeritária e tem-se vindo a prolongar no tempo.
"Cansados" de restrições ao consumo e investimento, as famílias parecem agora ter optado por não adiar indefinidamente as suas opções de investimento. Muitos aproveitam para renovar a sua casa e muitos optaram por comprar uma nova. O mercado residencial está assim mais dinâmico, mas os seus alicerces mantêm-se frágeis e uma alteração económica conjuntural poderá ditar uma recaída.
Para já, a tendência parece ser de crescimento e animação como que acompanhando o ritmo de um verão quente mas relativamente ventoso.
Por Pedro Pimentel, Mestre em Gestão
artigo publicado no Expresso de 8 de Agosto de 2015
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