10 julho 2016

A nova (e boa) invasão francesa


Depois dos seniores, Portugal começa a ser procurado por todo o tipo de franceses. E Lisboa já não monopoliza todo o investimento. Os franceses compraram em média 17 casas por dia em Portugal (números da APEMIP), durante o primeiro trimestre deste ano. Os números atualizados do semestre ainda estão a ser apurados pela Associação dos Profissionais e das Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal mas Luís Lima, que preside à instituição, não tem dúvidas: “Os franceses vão continuar a ser o maior investidor estrangeiro no nosso país em número de unidades vendidas, uma tendência crescente. Com uma vantagem em relação aos outros estrangeiros: não estão concentrados só em Lisboa, compram um pouco por todo o lado”.


Pascal Gonçalves, CEO do grupo Libertas, empresa promotora do empreendimento Quinta da Trindade, no Seixal (paredes-meias com o Centro de Estágio do Benfica), sabe bem que assim é. Ainda a ser construído, o condomínio River Terraces inserido neste empreendimento vendeu 70 unidades (com preços a partir dos 200 mil euros) neste primeiro semestre. Metade foi a franceses (a outra metade foi assegurada por portugueses). A localização fora de Lisboa, no Seixal, não os demoveu. “Afinal, estão a 10 minutos do Terreiro do Paço, pelo catamarã que se apanha no terminal a dois passos do condomínio. E a vista aberta que o condomínio desfruta para o eixo ribeirinho da capital é algo que valorizam muitíssimo”, diz Pascal Gonçalves. O mesmo fenómeno está a acontecer com outro empreendimento do grupo, o condomínio Praia do Sal, em Alcochete. Com 30 apartamentos vendidos este ano, 15 foi a franceses e belgas.

Ao interesse pela diversidade geográfica que começa a moldar o perfil de compra deste mercado francês soma-se uma novidade: aos seniores juntam-se agora pessoas de todas as idades que fogem à pesada fiscalidade imposta pelo governo de Hollande, casais mais jovens que procuram segurança para os filhos e profissionais liberais que estão a transitar a sua atividade para Portugal.

No escritório de advogados CMS Rui Pena & Arnaut, as questões que envolvem o imobiliário ganharam um peso crescente nos anos mais recentes. "Entre 2010 e 2013 o departamento que mais cresceu no escritório foi o laborai por causa das reestruturações. Desde 2014 até agora sentimos um fenómeno semelhante mas aplicado ao imobiliário, um sector que está a ser uma alavanca muito importante da economia portuguesa nos últimos dois anos", apontou Patrick Dewerbe, sócio da CMS Rui Pena & Arnaut.

E os franceses estão entre os principais clientes. "A maior parte dos nossos clientes tem entre 35 e os 50 anos. E há de tudo um pouco: pessoas que venderam tudo e vieram para cá, devido à pressão fiscal, pessoas que trabalham internacionalmente, outros de profissões liberais e muitos da classe média que nos dizem que a França está demasiado cara e procuram uma cidade europeia para viver. E Portugal concorre hoje com destinos tradicionais deles que incluem a Bélgica ou a Suíça", refere o mesmo responsável.

Aos clientes individuais juntaram-se fundos imobiliários e empresas, uma outra escala de investimento que captou o potencial imobiliário que o país oferece, reforça Luís Abreu Coutinho, também sócio do mesmo escritório de advogados.

"Compram prédios para reabilitar e vão angariar clientes para os seus empreendimentos na França e vendem quase tudo diretamente lá, como assisti há pouco tempo num 'road show' em Paris com uma empresa francesa que comprou 70 prédios na Mouraria e está a vender em planta", exemplifica Patrick Dewerbe. Para além do segmento residencial, o escritório tem clientes que estão a instalar residências seniores e para estudantes em Lisboa e no Porto.

O Porto, aliás, como sublinham os advogados, está em alta: "Temos pelo menos três clientes com filhos em idade escolar que escolheram o Porto porque o Liceu Francês em Lisboa está cheio e não conseguiram vaga. E no Liceu Francês do Porto, sim".

Luís Lima, presidente da APEMIP, confirma a tendência: "A rota para os franceses foi aberta e eles começam a instalar-se um pouco por todo o lado. O Porto é uma das zonas que mais está a conseguir captar estes clientes. Eles começam a conhecer bem o mercado imobiliário e a comparar preços e quando se compra no Porto estamos a falar de reduções que podem chegar aos 40% quando comparado com Lisboa".

Para este responsável, agora que o regime do Residente Não Habitual abriu portas para esta rota, importante é consolidar não só o mercado francês "mas os que estão a ser positivamente contaminados por ele e onde se incluem os mercados belga e suíço".

Eduarda Godinho, presidente da Câmara de Comércio Luso-Belga-Luxemburguesa (CCLBL), confirma que a associação a que preside é "contactada diariamente por belgas interessados em vir para Portugal". Um fenómeno que se intensificou depois dos atentados. "As autoridades portuguesas deveriam apostar mais nas pessoas destes países francófonos que estão interessadas em vir residir para Portugal. Há muito potencial neste mercado", realça a advogada, referindo que a segurança e as benesses fiscais que aqui podem usufruir estão entre os principais motivos referidos por quem procura a CCLBL.

Atentos a este filão que é cada vez maior, a Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa que organizou o já tradicional Salão Imobiliário e Turismo Português em Paris no passado mês de maio, vai realizar entre 20 e 22 de setembro um 'road show' em Lyon, Lille e Nantes. Para fazer chegar uma amostra do que existe no mercado imobiliário português a um número cada mais alargado de franceses.

Fonte: Expresso

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