02 outubro 2016

Saiba se compensa optar por fixar a taxa


Se for contratar hoje um crédito à habitação, muito provavelmente vai deparar-se com esta questão: taxa fixa ou taxa variável? Se, até há poucos meses, o mais provável seria contratar um crédito indexado à taxa Euribor a três ou seis meses, hoje, a oferta bancária está limitada a taxa variável com indexante a 12 meses ou a taxa fixa.


Filipe Garcia, economista da IMF, começa exatamente por notar que o forte volume de novo crédito concedido a taxa fixa "não é um reflexo da procura mas sim da oferta" uma vez que "os bancos portugueses estão a procurar formas de serem menos prejudicados pelas taxas negativas". Resta saber se aquilo que é bom para o banco também pode ser favorável para si. 


Numa primeira leitura, a resposta tende a ser negativa. Ou seja, a expetativa é de que a taxa fixa não compense, principalmente se fixada a prazos mais curtos. "Os bancos, tipicamente, preferem fazer créditos com taxa a cinco ou a dez anos, o que acaba por não dar tempo para compensar. Sabemos que as taxas de juro de longo prazo são mais elevadas do que as de curto prazo, pelo que, ao fazer um crédito, a taxa fixa irá estar a pagar um "prémio de segurança". Ou seja, paga mais na expetativa da taxa vir a subir acima do valor fixado", explica João Morais Barbosa, administrador da Reorganiza, empresa que faz intermediação de créditos, procurando no mercado as melhores soluções de crédito para os clientes. 

Ora, tendo em conta que a opinião generalizada dos especialistas é de que as taxas de juro de mercado permaneçam historicamente baixas durante, pelo menos, mais dois ou três anos, então, o "prémio de segurança" que irá pagar deverá ficar mais caro do que optar por taxa variável. João Barbosa nota que "se em prazos longos, como 30 anos, por exemplo, é possível [compensar este prémio], em prazos curtos é praticamente impossível. Assim, se a escolha for entre taxa fixa, a cinco ou dez anos, ou taxa variável, deverá optar sempre por taxa variável".

Já para prazos mais longos (como 20, 25 ou 30 anos), a resposta é mais difícil, pelo menos quando considerado apenas o racional financeiro. Se é verdade que, por um lado, quanto mais longo for o prazo de fixa-ção da taxa, maior será o juro cobrado pelo banco, por outro, ninguém consegue conceber atualmente qual poderá ser o valor médio de um indexante para esses prazos. "Se vai compensar em termos financeiros, só o saberemos posteriomente", nota Filipe Garcia. No entanto, concede que existe "um valor nesta opção, que não é financeiro, mas que passa pela estabilidade dos 'cash flows'", ou seja, a estabilidade de saber exatamente quanto vai pagar ao banco todos os meses durante 20 ou 30 anos. Em contrapartida, João Barbosa lembra que a taxa variável pode funcionar como um "amortecedor" para os piores momentos da economia: "Em momentos de crise, a taxa de juro tende a cair, o que acaba por aliviar os orçamentos familiares. Em momentos de crescimento, a taxa de juro sobe mas, com ela, tende a subir também o rendimento disponível das famílias".

Fonte: Jornal Económico

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