Por Guilherme Godinho*
É impossível passear pelo trendy neo-Chiado sem passar pelas ruas Serpa Pinto, Ivens ou Capelo.
As viagens que estes exploradores levaram a cabo no último quartel do séc. XIX foram determinantes para o reconhecimento territorial e consequente mapeamento das nossas - então - províncias ultramarinas de Angola e Moçambique e dos territórios centrais que as unem.
É impossível passear pelo trendy neo-Chiado sem passar pelas ruas Serpa Pinto, Ivens ou Capelo.
As viagens que estes exploradores levaram a cabo no último quartel do séc. XIX foram determinantes para o reconhecimento territorial e consequente mapeamento das nossas - então - províncias ultramarinas de Angola e Moçambique e dos territórios centrais que as unem.
O objetivo destas expedições, como nos lembraremos, foi a elaboração do denominado mapa cor-de-rosa. Rasgando as selvas e as savanas africanas, estes heróis nacionais procuraram dar uma nova dimensão à nossa economia. Percorreram e uniram os territórios africanos do Atlântico ao Índico. Luanda, Malange, Benguela, Moçâmedes, Huila, Bié, Tete, Quelimane, Ibo... bem como outra enorme quantidade de povoações e regiões foram registadas e cartografadas. Tal foi a importância estratégica deste mapa, que o seu resultado prático foi o Ultimatum Britânico de 1890. Os nossos aliados históricos marcaram a sua posição, esclareceram as suas pretensões e defenderam os seus interesses de uma maneira eficaz e definitiva.
Neste início de século confuso, esgotados os recursos, as oportunidades e a vontade no nosso pequeno império, nasceu uma nova classe de exploradores, também eles com uma vontade de dar outra dimensão à economia. São os novos Serpa Pinto da indústria e da logística, os Ivens da promoção imobiliária e da construção, os Capelo da agricultura e das pescas.
Mas, centremo-nos nas atividades que aqui importam tratar: promotores, construtores, arquitetos, engenheiros e urbanistas que procuram nestas geografias longínquas suportes sustentados para novos projetos e produtos imobiliários que a metrópole já não pode garantir.
Estes novos heróis, abandonando uma zona de conforto miserável, construem futuro, adaptam-se ao mundo. A concorrência é mais estruturada e global que no séc. XIX, é certo; já não nos debatemos com potências europeias, mas com países com dimensão (quase) continental: a China, o Brasil e mesmo a África do Sul. Há que saber ler a história e evitar mapas de uma só cor. O pluralismo económico, social e profissional devem ser um objetivo.
Os nossos concorrentes são fortes. Se uns têm know how, outros têm preços devastadores. Se uns têm a proximidade geográfica, outros partilham a mesma língua. O que nenhum deles tem é um conhecimento profundo e multissecular da cultura, dos territórios e dos recursos de que falamos, essa é a nossa grande mais-valia nestes territórios. Estamos cada vez mais presentes na diáspora da língua portuguesa, ativos e a produzir desenvolvimento e riqueza.
Há milhares de hectares de solo agrícola, há novas descobertas de recursos energéticos, há animadoras estatísticas e previsões demográficas e económicas, há oportunidades turísticas únicas, há necessidades elevadas de construção e de obras públicas... Os novos exploradores imobiliários estão em campo, solidificam posições e não olham para trás.
Mas, como dizia o José Cardoso Pires, a carta já vai longa de mais, e de isso me penitencio.
*Arquiteto, associado na Ventura Valcarce Magdalena Arquitectos, Barcelona
Fonte: OJE
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