17 abril 2013

Olhão quer desenvolver frente ribeirinha


António Pina, vice-presidente da edilidade de Olhão, tem novos projetos para o desenvolvimento do concelho. A sustentabilidade está nos serviços, na indústria e no turismo. A chave para voltar a colocar o município no mapa do crescimento está em saber ligar todos os setores de atividade.

Em que setores assenta hoje a economia do município de Olhão? E em que setores deverá assentar a médio prazo?
A realidade económica e empresarial em Olhão tem vindo, ao longo das últimas décadas, a sofrer alterações. O tecido empresarial era, há 30 anos, diferente dos últimos dez, e hoje, fruto da crise, tem vindo a readaptar-se aos novos paradigmas, realidade e nichos de mercado. A pesca, a aquacultura, o marisqueiro e a indústria conserveira são setores económicos fundamentais na estrutura económica do concelho e, fruto desta nova realidade, tem existido por parte de todos os agentes (autarquia e empresários) um esforço numa aposta concertada nestes setores: lembro os offshores de aquacultura e as novas fábricas de conserva e transformação/comercialização de pescado e marisqueiro. Também temos vindo a fomentar (agilizando dentro das nossas competências) outros investimentos, nomeadamente na hotelaria, na agricultura e na floricultura. Há que potenciar todos os setores agrícolas e piscícolas, bem como uma aposta sustentada no setor do turismo de nichos, ligado a estas áreas e à natureza.

A forte aposta no turismo e hotelaria está a gerar frutos? A construção do primeiro hotel de cinco estrelas no sotavento algarvio trouxe alterações em termos de turistas na região?
Sem dúvida. A construção do hotel do Grupo Real e do conjunto de apartamentos na zona envolvente - venda e exploração hoteleira - foi, como se diz, "a cereja em cima do bolo". Veio dar uma visibilidade à cidade e trazer um turismo que até então desconhecia Olhão e esta bela realidade banhada pela Ria Formosa. Mas também não podemos esquecer que o concelho tem outras unidades hoteleiras de excelente qualidade, como o Vila Monte, do grupo Quinta das Lágrimas, e o Colina Verde, com uma oferta no segmento grupos desportivos. O turismo rural, com a Quinta dos Poetas, entre outros, é igualmente uma realidade. Associada ao crescimento na área do turismo, temos vindo a fomentar uma estratégia na promoção, nomeadamente transformando Olhão na capital da Ria Formosa, uma das 7 Maravilhas de Portugal. Olhão é hoje um concelho e destino turístico falado além fronteiras. No ano passado, o The New York Times colocou Olhão, o hotel Real Marina, o turismo de natureza e a Ria Formosa num honroso 27.º lugar a nível mundial. Toda esta estratégia, toda esta visibilidade e promoção são sentidas diariamente pelos agentes económicos - comércio, restauração, turismo setorial -, tendo ainda potenciado o surgimento de novas empresas de passeios turísticos e outras a atuarem na reabilitação do casco urbano para construção de pequenas unidades hoteleiras. 

Estão previstos novos projetos de dimensão no município na hotelaria e no imobiliário turístico?
Temos de ter consciência de que o investimento deve caber principalmente aos privados. O papel do Estado, nomeadamente, da autarquia, é fazer o "trabalho de casa": angariar novos investidores para o concelho. Para tal, deverá criar e mostrar as condições existentes para esse investimento. Há que criar políticas de gestão urbana que potenciem as atividades empresariais; há que fazer a ponte e ajudar a agilizar a burocracia e os entraves de que alguns institutos (Estado central) são responsáveis, nomeadamente no atraso e na inércia de quem quer investir e ter, obviamente, o retorno do seu investimento. Irá ser uma das bandeiras da minha campanha a Frente Ribeirinha de Olhão. Temos de potenciar a dinâmica turística, começando por avançar tão rápido quanto possível com as obras da requalificação da zona poente de Olhão - dos estaleiros da Câmara até à marina, bem como fazer pressão junto do Estado central para, de uma vez por todas, resolver a concessão daquele equipamento, que é uma mais-valia para a cidade. Também é minha intenção apostar fortemente nas ilhas: a da Armona, com a construção de um meio de transporte entre a Ria e o mar, bem como um plano de desenvolvimento turístico. Na ilha da Culatra (na ponta junto à barra com a Armona, zona que pertence a Olhão), implementar amarrações para embarcações de turismo e apoios de praia concessionados. O chamado "cais T" e as zonas envolventes também serão fruto de intervenção e melhoramento com vista à potenciação do turismo e da economia, que já é uma realidade em Olhão.

Que papel podem desempenhar as indústrias de pesca artesanal e do cultivo de ostras da Ria Formosa na ligação ao turismo?
O turismo de sol e praia é um segmento onde Olhão tem uma excelente oferta, porém não queremos ficar spor aqui, temos de marcar a diferença. As indústrias de pesca artesanal, de aquacultura, de cultivo de ostras e outras são, ou devem ser, vistas também como potenciadoras dessa diferença: turismo de experiências. Mostrar a quem nos visita como é a apanha de bivalves, como é a aquacultura em offshore, como funciona a pesca artesanal e depois dar-lhe a possibilidade de provar ou degustar, é o expoente máximo da ligação do homem às raízes, à realidade. 

Que ofertas poderão ser lançadas para a indústria turística a nível ambiental e cultural?
Serão todas aquelas que os investidores vejam que são importantes para o turismo local. Olhão tem as ilhas-barreira, um dos melhores ex-líbris do sotavento algarvio. Praia, sol, passeios de barco pela Ria Formosa, turismo de natureza e de experiência são já uma realidade. Há algumas empresas a operar no turismo ambiental, com os passeios de observação da natureza, seja de aves ou de espécies marinhas. Também a visita à comunidade de golfinhos que de verão habita na nossa costa (ao largo da Ilha da Armona) é um dos passeios mais requisitados. Na área cultural, estamos a desenvolver roteiros de interesse, começando com as visitas guiadas ao centro histórico. Em breve vamos iniciar outras visitas ligadas ao património arquitetónico (atalaias, salgas romanas, vias romanas), bem como ambientais.

Que indústrias tradicionais de Olhão poderão vir a ser revitalizadas?
Olhão sempre foi um concelho com uma forte indústria pesqueira e de conservas. Face aos vários fatores económicos, sociais e políticos dos últimos 30 anos, a realidade da indústria conserveira e pesqueira foi definhando. Muitos outros concelhos ficaram dizimados na sua indústria conserveira e pesqueira. Felizmente, em Olhão algumas fábricas mantiveram-se em funcionamento, reinventando os seus produtos, encontrando nichos e quotas de mercado cada vez mais apetecíveis; criaram produtos de alto valor (gourmet), a conserva em azeite e foram à procura da internacionalização. Olhão tem a maior zona industrial dentro de água (offshore) explorada e por explorar, pelo que faz todo o sentido essas empresas criarem produto para que em terra as fábricas possam crescer e desenvolver-se. Veja-se o caso da Tunipex, engorda de atum para exportação, e da Companhia de Pescaria do Algarve, com a produção de mexilhão, também na sua maioria para exportação.

Estão previstas obras de reabilitação na zona portuária?
Sim. Toda a zona ribeirinha e portuária está sob a jurisdição da DGRM - Direcção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, logo, cabe a este instituto a gestão desta área. É minha intenção requalificar a zona da marina em frente ao jardim Patrão Joaquim Lopes e aumentar o espaço para embarcações de maior dimensão. Uma marina com dinâmica tem um efeito multiplicador semelhante à de um hotel de 5 estrelas. Também é necessário intervir em toda a zona envolvente ao porto de pesca (junto à antiga lota, criando zonas pedonais, de estacionamento e comércio/lazer.

Olhão tem previsto novas centralidades habitacionais? 
Num futuro próximo, penso que não será necessário ter essa visão estratégica, porquanto o parque habitacional de Olhão é (nesta fase de estagnação de pessoas e bens) suficiente. O que iremos apostar fortemente é na requalificação da zona histórica, onde pretendemos agilizar processos e procedimentos e isentar taxas para incentivar os privados a apostarem nesta zona da cidade, quer para habitação própria quer para rentabilizar com pequenas unidades de alojamento local (hostels).

Que dinâmica futura deverá Olhão vir a ter para retomar o crescimento empresarial sustentado?
O turismo de qualidade, ligado às vertentes de experiência e ambiente; o ordenamento e implementação de novas infraestruturas e reorganização do espaço nas ilhas-barreira; reorganizar trânsito e acessibilidades, facilitando acessos a zonas de lazer e empresariais; apostar na requalificação zona histórica, atraindo investimento privado. Na agricultura e pesca, incentivar novos nichos de mercado com a criação de uma agência de desenvolvimento, procurando atrair projetos. Caber-nos-á juntar os cidadãos com ideias/projetos com quem tem o capital (business angels/capital de risco) e quem ajude a gerir (consultores/gestores).

Fonte: OJE

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