01 julho 2013

Consolidar créditos. Ideia tentadora que sai cada vez mais cara


Ao associarem pequenos créditos ao empréstimo à habitação, os bancos mudam geralmente o spread aplicado.
Juntar ao crédito habitação pequenos empréstimos - como o automóvel, viagens e pequenos electrodomésticos - tem sido o truque utilizado por muitos consumidores para conseguirem aliviar os seus encargos mensais. Mas, se parece ser uma ideia tentadora para conseguir suspirar de alívio ao final do mês, na prática não funciona da melhor forma.

"Quem recorre a essa solução pode sentir uma mensalidade ligeiramente mais reduzida, mas no final do prazo vai ver que irá pagar mais juros e, há casos, em que a subida é brutal", revela ao i, o economista João Fernandes da Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (Deco).

O cenário poderá ser ainda pior se os bancos alterarem o spread tendo em conta que os clientes, ao agregarem várias mensalidades no crédito à habitação, estão a alterar as condições iniciais contratadas. De acordo com o economista, "é natural que as instituições financeiras passem de um spread de 0,5% para um de 4%, o que representa alterações significativas ao seu empréstimo".

"Nestes casos, a diferença poderá não ser assim tão grande ou pode ser mesmo quase nula e aí é preferível ficarem como estão", admite João Fernandes.

Outro factor a ter em conta diz respeito ao indexante no crédito à habitação. A explicação é simples: os créditos mais pequenos têm taxa fixa e a maioria dos empréstimos à habitação está indexada à taxa Euribor. "Neste momento as taxas de juro estão historicamente muito baixas, mas é expectável que subam, pelo menos, 1% daqui a uns anos e aí os juros serão bem mais elevados. Por isso, nessa altura, será muito pouco compensador fazer essa consolidação".

Além disso, ao consolidarem os diversos créditos - liquidando os anteriores - os clientes vão pagar uma comissão por amortização antecipada desses empréstimos. Por isso mesmo, há que fazer muito bem as contas a essas comissões e verificar se vale ou não a pena.

Mas como funciona? É simples: geralmente, o crédito da casa tem o prazo mais longo e a taxa de juro mais baixa, pelo que compensa associar os restantes a este. Fica a pagar, por exemplo, em 30 anos, a acumulação de vários empréstimos. A curto prazo, ganha em liquidez, mas a longo prazo, paga mais juros. Há ainda que ter conta outro factor, o total das prestações não deve ultrapassar os 35% do rendimento mensal familiar. Caso contrário, corre o risco de estar no limiar de uma situação de sobreendividamento.

COM OU SEM HIPOTECA Ao consolidar, pode optar pelo crédito com ou sem hipoteca. No primeiro caso, pode obter um prazo mais alargado e uma taxa de juro inferior. Mas suporta custos iniciais mais elevados. No segundo, as despesas iniciais são menos pesadas, mas os montantes e o prazo são inferiores.

Caso não tenha um crédito hipotecário, a consolidação passa por um crédito pessoal. Mas a redução mensal das prestações é inferior (cerca de 20%), já que o volume total de juros aumenta substancialmente.

Não se esqueça, no entanto, que muitas instituições financeiras exigem, como garantia, a disponibilização de um imóvel e este deverá ter um valor comercial igual ou superior ao dobro do total de créditos. "Muito dificilmente os consumidores irão conseguir uma consolidação se não tiverem uma habitação para dar como garantia", refere a Deco.

A verdade é que o recurso à consolidação poderá ter tendência para crescer ainda mais. Esta procura tem vindo a subir com o sobreendividamento das famílias e com a diminuição do rendimento disponível.

DICAS PARA CONSOLIDAR

1 - Previna-se primeiro
Rendimento mensal Faça as contas às suas prestações mensais e verifique se o total não ultrapassa 35% do rendimento mensal. Além disso, deverá criar um pé de meia para prevenir eventuais imprevistos. O ideal é que este montante corresponda a cinco ou seis vezes o rendimento mensal familiar. Este montante poderá ajudá-lo a fazer face a eventuais despesas extra. Por exemplo, uma situação de desemprego ou um problema de saúde.

2 - Fale com o seu banco
Renegociar condições Fale com o seu banco e tente renegociar as actuais condições de crédito. Por exemplo, renegociar o crédito à habitação poderá permitir uma maior folga mensal. Não se esqueça que a consolidação permite baixar a prestação, mas é uma opção que pode sair bem mais cara. Além dos juros, conte ainda com os custos de abertura de processo ou com a penalização por amortização antecipada dos créditos.

3 - Opte pelo crédito hipotecário
Hipoteca sobre imóvel Nem sempre é fácil encontrar instituições financeiras que permitam juntar vários créditos num só. Mas, quando isso acontece, e se optar pela consolidação de créditos, prefira um crédito hipotecário – em que é constituída uma hipoteca sobre esse imóvel como garantia em favor do credor – em detrimento de um crédito pessoal. O conselho é da Associação de Defesa do Consumidor (Deco).

4 - Questione sempre tudo
Analise taxas Quando estiver a negociar o crédito questione sempre os custos do processo. Não se esqueça de analisar ao raio-X as taxas praticadas. É o caso da taxa anual efectiva (TAE) e da taxa anual efectiva global (TAEG), já que estas vão reflectir o custo total do crédito. Deve também tentar uma redução ou uma isenção das comissões, como a que incide sobre a amortização antecipada dos créditos. Depois disso, faça bem as contas.

5 - Avance se for indispensável 
Compare propostas Segundo a Deco, só deve consolidar os seus créditos se for mesmo indispensável. Ou seja, quando chegar mesmo à conclusão que não consegue pagar as suas prestações. Se for esse o seu caso, consulte várias instituições de crédito, apresente os valores em dívida e depois compare as várias propostas apresentadas. Só desta forma está em condições para optar pela proposta mais vantajosa para o seu caso. 

Fonte: iOnline

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