Baixa das taxas permitiu abater uma maior parcela do valor em dívida à banca. Portugueses amortizaram mais de 10 mil euros em cinco anos. Preço das casas recuou, em média, mais de 14 mil.
A queda das taxas de juro tem permitido às famílias portuguesas beneficiarem de prestações do crédito à habitação mais baixas. E mesmo com mensalidades mínimas, o ritmo de amortização do empréstimo acelerou.
Nos últimos cinco anos, desde que que começou a crise, conseguiram abater, em média, mais de 10 mil euros à dívida junto das instituições financeiras. No entanto, aquilo que pagaram foi mais do que anulado pela queda do valor dos imóveis.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o somatório do capital amortizado mensalmente pelas famílias ascendeu a 10.415 euros entre Setembro de 2008 e o mesmo mês de 2013. Uma soma equivalente a mais de metade (55,6%) do montante total das prestações cobradas pela banca nos empréstimos para habitação. Há muito que não era possível abater tanto capital em tão curto espaço de tempo: a "culpa" é dos mínimos da Euribor.
O facto de terem conseguido amortizar tanto capital em dívida é positivo. O problema é que ele foi comido pela desvalorização dos imóveis. Nos últimos cinco anos, dada a escassez de financiamento para a compra de habitação, assistiu-se a uma quebra do valor do imobiliário que mais do que anulou o que as famílias pagaram das suas casas: encolheu, em média, 11,4%. Tendo em conta a área média de 109,1 metros quadrados dos imóveis em Portugal (Censos de 2011), são menos 14,292 euros.
"Tecnicamente esta conclusão que aponta está correta, mas é uma visão redutora da realidade", diz Ricardo Sousa, administrador da Century 21 Portugal. Isto porque "a avaliação bancária de um imóvel nem sempre corresponde ao valor de mercado", salienta. "No passado, a tendência era de 'hipervalorizar' as casas, e o crédito concedido dava para pagar a casa e outras despesas relacionadas", diz a ERA. Ou seja, o setor acredita que a descida nos preços poderá não ser tão expressiva quanto a anunciada.
Algarve arrasado
Olhando para as 36 cidades médias consideradas nos dados do INE (para outras quatro não há dados), verifica-se que só em 11 o montante amortizado no crédito superou a queda dos preços. Bragança, Penafiel e Fafe são as três cidades que se destacam pela positiva. No extremo oposto está o Sul do País. Foi no Algarve onde o resultado de cinco anos de esforços das famílias para pagarem os créditos se revelou mais infrutífero. A queda do valor dos imóveis nesta região superou em mais de três vezes a amortização.
Olhão, Portimão e Faro foram as cidades onde se registaram as quedas mais expressivas. Em Olhão, o preço do metro quadrado caiu 26,36% para 936 euros, em Setembro. "É uma região menos turística que outras no Algarve", diz Beatriz Rubio, CEO da Remax. Tendo em conta a área média dos imóveis em Portugal, verifica-se que houve uma desvalorização média de 36.549 euros. Tomar, Figueira da Foz, Évora, Torres Vedras e Marinha Grande seguem-se no "ranking" das cidades onde os preços das casas apresentaram as quedas mais expressivas, todas encolhendo entre 20 e 30 mil euros.
Lisboa pior que o Porto
Os imóveis localizados nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, incluindo os respetivos concelhos, sofreram quebras que mais do que anularam o valor amortizado pelas famílias neste período. E a capital apresentou uma desvalorização até mais expressiva que a Invicta: uma queda de 25.420 euros contra 13.856 euros, ou seja, praticamente o dobro.
Olhando para os concelhos das respetivas Áreas Metropolitanas constata-se que apenas Vale de Cambra e Santo Tirso, ambos no Porto, apresentaram um saldo negativo inferior ao capital médio abatido à dívida. Já dentro das respetivas cidades, destaque para uma zona de cada uma: o centro do Porto (que caiu 6.328 euros) e Lapa, Amoreiras e Campo de Ourique, em Lisboa. Nesta última, assistiu-se a uma redução de apenas 1.746 euros. Os "proprietários de imóveis nesta zona não têm tanta necessidade de os vender, logo existe pouca oferta o que mantém os preços mais estáveis", lembra Beatriz Rubio.
Fonte: Negócios
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