21 março 2014

“Crédito à construção caiu oito mil milhões desde 2010”


“Crédito à construção caiu oito mil milhões desde 2010”
Formação profissional, reabilitação urbana, aposta nas infra-estruturas inteligentes, regularização de dívidas e internacionalização são as soluções do líder da AECOPS contra a crise.

Ricardo Pedrosa Gomes, presidente da AECOPS - Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas, dá uma grande entrevista ao Diário Económico, perspectivando nova quebra de produção para o sector para o ano em curso. A crise está a abrandar mas ainda não foi embora. Ricardo Pedrosa Gomes apresenta as medidas para inverter a tendência.


Que futuro pode existir para o sector da construção em Portugal, se as perspectivas para 2014 apontam para nova quebra de produção, de 4,5%?
A construção em Portugal tem futuro e o sector é essencial para dinamizar o processo de recuperação económica. O maior problema da economia portuguesa é a quebra de investimento, que perdura há uma década. Sem investimento não há crescimento económico sustentado e o País está condenado a perder competitividade. Relançar o investimento é condição essencial para promover exportações e o turismo, para responder aos novos desafios económicos e sociais, para promover uma nova economia verde e a eficiência energética, e uma economia azul que tire partido do mar como recurso estratégico.

Qual a solução para resolver o desemprego de mais de 110 mil pessoas no sector? 
A única forma efectiva de atenuar as consequências do desemprego no sector é a retoma do crescimento da actividade da construção, que possibilite a criação de emprego. Entretanto, a definição e implementação de um programa específico de formação profissional dirigido ao sector terá um papel importante na reconversão dos trabalhadores para o desempenho de tarefas, tanto no mercado interno, nas áreas da reabilitação do edificado, a eficiência energética e o reforço anti-sísmico; de uma política de redes inteligentes de infraestruturas (nomeadamente, de energia, de resíduos, de água e de transportes), e que promova a conectividade internacional e a mobilidade urbana; e, por fim, uma estratégia de internacionalização do sector.

Como poderá ser resolvida a escassez de crédito e as dificuldades financeiras das construtoras? 
Para que se perceba como é que a crise do crédito está a afectar a construção, importa ter presente que o sector esta profundamente endividado, ascendendo o volume total da sua dívida à banca aos 18 mil milhões de euros e o crédito mal parado a quatro mil milhões de euros, cerca de um quarto do crédito concedido à actividade. A este fenómeno, acresce, ainda, a forte contração do crédito que está a ser concedido ao sector, que, em quatro anos, se reduziu em oito mil milhões de euros, de 26 mil milhões para 18 mil milhões de euros, pressionando e criando dificuldades adicionais às empresas do sector.

Mas como se chegou até aqui? 
É preciso não esquecer que este nível de endividamento decorre e é agravado pelas dívidas aos construtores e pelo já longo e persistente atraso nos pagamentos ao sector. E é toda esta confluência de factores que está na base dos problemas financeiros das empresas e as empurra, mormente, para a insolvência, num processo que está, de facto, a gerar uma enorme reestruturarão do tecido empresarial. A contracção do crédito tem um efeito desproporcionado e desestabilizador do normal funcionamento do mercado e no tecido produtivo, traduzindo-se num factor multiplicador da crise.

Além do número elevado de falências, há muitas empresas com situação financeira muito debilitada. Qual a solução da AECOPS para superar esta situação?
Segundo o Banco de Portugal, em 2013, uma em cada cinco empresas insolventes era da construção. o que é preocupante. Para obviar a que empresas economicamente viáveis tenham esse destino, há que gizar três tipos de de soluções: um programa efetivamente eficaz de regularização de dívidas, porque parte dos problemas das empresas estão relacionados com o facto de não receberem dos seus clientes ou, pelo menos, atempadamente. A redução dos encargos financeiros que recaem sobre o exercício da atividade das empresas e a definição de instrumentos financeiros, adaptados e adequados às necessidades de gestão de tesouraria numa atividade com ciclo produtivo muito longo ou plurianual são as outras medidas que defendo.

Como é que o sucesso da internacionalização das construtoras tem minorado o impacto desta crise?
O sector deu uma resposta extraordinária à crise. Perante unta crise extrema, num contexto de devastação do mercado interno, que perdeu 55% da sua actividade, um número significativo de empresas foi capaz de se afirmar no exterior, condição essencial para sobrevivência e manutenção das maiores empresas nacionais. Um estudo recente do Banco de Portugal refere que, em 2012, o peso das exportações do sector da construção só por si era semelhante ao agregado de todas as empresas não financeiras, tendo o contributo da construção para o equilíbrio das contas externas sido de 9%. Os números falam por si: em 2012, mais de 20% do volume de negócios das construtoras portuguesas já era oriundo do exterior, percentagem que se eleva aos 50% ou até 80%, nas empresas de maior dimensão. Tudo isto sem nenhuma ajuda pública ou programa específico de internacionalização de apoio comunitário.

Fonte: Diário Económico

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