Com o resgate da Troika e o ajustamento a que os portugueses foram sujeitos para salvar a banca, a construção civil foi um dos setores que mais sofreu com falências e desemprego notados, especialmente na estrutura de um tecido maioritariamente de médias, pequenas e, sobretudo, micro empresas com menor capacidade para a internacionalização.
Com 12 anos de crise e após três anos de muito acentuado decréscimo do volume de negócios, o ano principiou com tímidos indicadores macro de crescimento económico. Há mais concursos, mas menos adjudicações de obras públicas e contratos de valores abaixo do preço-base, levando as organizações do setor a antecipar uma quebra de somente 4,5% para 2014. Apesar de alguns investidores internacionais considerarem haver mais confiança e viabilidade no sul da Europa, quando registamos entre nós, reiteradamente, uma das maiores quedas da produção, qualquer recuperação face ao período homólogo é positiva e bem-vinda, mesmo se temos empresários a referirem que assim, com preços tão baixos, se inviabiliza a possibilidade de se apresentarem propostas de valores ajustados à manutenção da qualidade.
Entretanto, dão-nos conta de que só as grandes empresas do setor e, em particular, o segmento da engenharia civil têm tido rendibilidade dos capitais próprios positiva, forçando a dependência de capitais alheios. Contudo, é reconhecida a persistente contração do crédito, bem como spreads manifestamente desadequados e asfixiantes face à avaliação do risco e ao preço do dinheiro quando a taxa básica já está em 0,15%! Todavia, alguns empresários denotam estar mais confiantes, mormente devido aos dados relativos ao consumo de cimento, bem como à variação positiva das avaliações referentes à sua carteira de encomendas e às perspetivas de evolução do emprego, num setor que é o terceiro maior empregador em Portugal.
Não despiciendo, a atrofia também advém de o Estado continuar a não pagar as suas contas, registando dívidas ao setor de quase oitocentos milhões, não podendo nós esquecer que os municípios têm um débito da ordem dos quatrocentos milhões, mesmo com o Programa de Apoio à Economia Local (PAEL). Isto quando o Governo se prepara para adjudicar praticamente todos os projetos incluídos no seu Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas (PETI), ainda antes das legislativas de 2015.
Praticamente sem obra nova e com um novo regime transitório – que, creio, incentiva muito a má construção – facilitador aplicável, a reabilitação urbana continuará a ser alvo para muitas empresas que persistem e para proprietários e promotores que aproveitem a oportunidade prevista no Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), que terminará só em 2020. Como estamos em maré de simplificar, facilitar, desregulamentar, o novo e mais fácil acesso à criação e manutenção de empresas no setor, abre enormemente a porta a maior concorrência, o que pode não ser benéfico para um mercado fragilizado como o nosso, mesmo quando vemos empresários chineses a comprarem construtoras insolventes neste novo “paraíso fiscal” que parece ser Portugal. Apesar de o pouco ambicioso Visto Dourado português fazer furor, o Programa para Residentes não Habituais (NHR) também está a dar o seu contributo, já que os investidores procuram investimentos (sobretudo os institucionais) de mais baixo risco e, talvez por isso, continuamos a ter os britânicos – seguidos dos franceses e escandinavos – a liderar as aquisições de imobiliário nacional.
A “sairmos” da recessão orgulhosamente empobrecidos, com uma impressionante emigração e fuga de mão-de-obra qualificada, a fileira da construção – atualmente altamente deficitária – com um ambiente internacional de crescente confiança (no ano pretérito foram transacionados cerca de 322 milhões de euros só em imobiliário comercial), façamos votos para que o contributo para o equilíbrio das contas externas, captação de IDE e geração de emprego, sejam significativamente melhores este ano.
Por SÉRGIO CORDES ANICETO, CONSULTOR IMOBILIÁRIO
Fonte: OJE
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