17 janeiro 2015

Oferta para arrendamento está desajustada da procura e os preços continuam altos


A maioria dos casais que procura casa para arrendar não encontra o que deseja. Isto porque a oferta continua desajustada da procura, tanto a nível de localizações como de preços e tipologias. Uma realidade que foi visível nos últimos anos, que continuou a verificar-se em 2014, e continuará a existir tendo em conta que não há uma política de habitação em Portugal que permita criar medidas de resolvam estas lacunas.


Esta situação é visível em Lisboa e no Porto, mas também em outras cidades do país, com nuances próprias em cada mercado. O "Imobiliário" procurou saber, junto de um conjunto de mediadoras, como se encontra o mercado do arrendamento em Lisboa, e o que precisa para que possa funcionar bem.

Um desses casos paradigmáticos é o do Parque das Nações, onde a procura é, neste momento, várias vezes superior à oferta e onde os preços para uma tipologia T1, com as mesmas características, apresenta rendas mensais de 1.100 a 1.200 euros, na primeira linha de rio, descendo para os 700 a 750 euros, na zona junto à ponte Vasco da Gama. Contudo, se o imóvel se localizar numa das torres do Vasco da Gama, os valores do arrendamento facilmente disparam para os 1.700 euros ou 2.000 euros (T2). Maria João Mateus, consultora da empresa de mediação Markiclasse, considera que o que aparece arrenda-se rapidamente, mas os preços "estão um bocado estabilizados". 

Na sua opinião, quem precisa de uma casa, com valores de arrendamento entre os 500 a 600 euros, tem de procurar outras zonas de Lisboa, como "a Alfama ou o Bairro Alto, Anjos, ou Almirante Reis". "São jovens e estrangeiros, que não se preocupam com a confusão da zona, e de os apartamentos não terem garagem", salienta.

As zonas tradicionais, como as Avenidas Novas, são procuradas por pessoas com um maior poder de compra, sendo que aí um apartamento T2 ou T3 tem uma renda média de 2.000 euros. 

A mediadora Comprar Casa Villa Palace tem na sua carteira de arrendamento, em Campo de Ourique, um T1, com 42 m2 de área útil, pedindo uma renda de 450 euros. Já um T2, na mesma zona, com 70 m2 de área, dependendo dos condomínios, atinge os 600 a 750 euros de renda. "Embora se verifique alguma carência na oferta, os preços mantêm-se mais ou menos estáveis. Também existe um limite, porque as pessoas não estão dispostas a pagar mais", salienta o responsável José de Matos. Acrescenta que as pessoas "querem viver aqui, mas por um preço razoável". 

Para conseguir valores de 500 euros mensais, na sua opinião, terá de procurar zonas como a Graça, Almirante Reis ou Campolide, onde vai aparecendo alguma oferta dentro destes valores.

Alta pressão na Baixa/Chiado

A procura de casa para arrendar na Baixa de Lisboa é significativa, mas a oferta é escassa. Na opinião de José de Matos, existe, nesta zona, "uma alta pressão, porque as pessoas procuram com alguma intensidade, mas não encontram facilmente". Na sua opinião, vão aparecendo algumas frações reabilitadas, mas são logo ocupadas. 

Paulo Carvalho, da loja da ERA Chiado/Lapa, que abriu em Setembro, considera que vai aparecendo alguma oferta no arrendamento tradicional, embora seja rapidamente escoada. 

"A procura é, especialmente, levada a cabo pelos jovens casais, estudantes e alguns estrangeiros, sendo que os preços médios são superiores aos 600 a 700 euros. Simultaneamente existe um arrendamento de gama alta, em condomínios de luxo, cujos valores de renda rondam os dois mil euros, atingindo por vezes os quatro mil euros", adianta Paulo Carvalho. 

De acordo com o profissional da loja ERA, a oferta que aparece é sobretudo constituída por prédios reabilitados. "São apartamentos localizados em bons prédios, já que de outra forma os arrendatários não têm confiança e não querem arrendar", refere.

O que o mercado procura e tem dificuldade em encontrar 

Procuramos saber junto dos profissionais que estão no terreno quais são os maiores entraves ao funcionamento do mercado do arrendamento. Deixamos alguns dos aspetos que são considerados os mais importantes: 
  • Zonas com maior procura: os centros das cidades de Lisboa e do Porto, e de uma maneira geral de cidades mais pequenas, são zonas onde a procura, especialmente por parte dos jovens estudantes, recém-licenciados, casais jovens e estrangeiros, é significativa. Contudo, a oferta, a preços interessantes, é escassa ou quase inexistente. 
  • Valor das rendas: de acordo com o Catálogo de Estudos da APEMIP, a procura é essencialmente centrada nos imóveis de valores entre os 300 e os 500 euros, sendo que esta não é totalmente satisfeita pela oferta. Esta oferta é residual e encontra-se apenas em zonas pouco interessantes para viver. 
  • Escassez de tipologias grandes: essencialmente da tipologia T3. Nos primeiros nove meses de 2014, e ainda de acordo com os dados da APEMIP, a procura por esta tipologia rondou os 31%, enquanto a oferta se fixava nos 14%. 
  • Falta de apoios à reabilitação: o aumento da oferta destinada a colocar no mercado do arrendamento só é possível através do incremento da reabilitação. Contudo, os proprietários e investidores continuam a afirmar que as medidas de apoio que existem são insuficientes e é necessário fazer mais, em especial, a nível fiscal. Recorde-se que nesta altura o mercado aguarda a divulgação das medidas de apoio no âmbito do próximo quadro comunitário (Portugal 2020), cujo montante, anuncia o pelo Governo, atinge os 2,5 mil milhões de euros.
Fonte: VidaEconómica

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