
Comprar um prédio para reabilitar no centro de Lisboa custa hoje o dobro do que custava há três anos, antes de a vaga de novos investidores estrangeiros - principalmente chineses e franceses - ter descoberto o Eldorado português. Atualmente, o metro quadrado de um edifício devoluto em zonas como a Baixa, Chiado ou Príncipe Real já está a ser comercializado por valores que variam entre os €2.000 e os €2.500.
"O mercado de edifícios por reabilitar está a atingir valores recorde de vendas, e o preço que está a ser atualmente comercializado mais do que duplicou, em alguns casos, o que era praticado à três anos. Aliás, nessa altura, o mercado da reabilitação em Lisboa estava absolutamente parado", confirma Fernando Vasco Costa, diretor do departamento de Consultoria Estratégica da consultora JLL (na foto).
A dinâmica provocada pelos interessados nos vistos gold e no estatuto dos residentes não habituais, aliada a um boom turístico que ninguém quer deixar escapar, está a gerar esta procura acentuada de edifícios para recuperar nas zonas mais centrais de Lisboa, criando, consequentemente, uma pressão nos preços dos imóveis para recuperar.
Nova área de negócio
"Há efetivamente, muita procura de imóveis. O centro de Lisboa está identificado a nível a internacional como sendo uma oportunidade para investir. E quem investe até procura projetos de grande dimensão que podem chegar até aos €50 milhões. Mas há muita oferta a este nível", acrescenta ainda Fernando Costa, referindo que a média de capital aplicado varia entre os €2 e os €5 milhões na aquisição de edifícios para reabilitar nas zonas nobres.
A consultora, que tem vindo a acompanhar este mercado de investidores estrangeiros ao nível de consultoria e aconselhamento estratégico, resolveu agora apostar numa área que, em 17 anos de existência da multinacional em Portugal, não era explorada: o mercado habitacional. Para liderar este departamento, criado há cerca de um mês, a JLL foi buscar Patrícia Barão, que há pouco tempo dirigia a área comercial e de marketing da Espírito Santo Property.
"Fazia todo o sentido criar este departamento residencial na JLL que funciona em grande sinergia com outros departamentos, como o do investimento ou da consultoria estratégica. No fundo, isto vem fechar um ciclo de investidores internacionais e não só, permitindo também a colocação do seu produto", especifica a responsável, lembrando que serão aproveitados os canais já existentes na estrutura mundial da JLL, multinacional presente em mais de 80 países.
O departamento residencial tem, neste momento, em carteira cerca de oito projetos em curso, bem distribuídos pelos já tradicionais investidores portugueses, chineses, franceses e não só. Patrícia Barão dá como exemplo o Lumiares, um projeto promovido pelos ingleses da Brigdehead Capital, que vão reabilitar um palácio do século XVI, localizado no coração do Bairro Alto - o Palácio dos Condes de Lumiares -, e o vão transformar num aparthotel de cinco estrelas onde é possível adquirir um apartamento e usufrui-lo por seis semanas ao longo do ano, ficando o resto do tempo a ser explorado para o mercado turístico.
O processo de compra do imóvel devoluto, licenciamento e obra é, agora, muito rápido. "Este imóvel, que está a ser colocado nos canais internacionais da JLL, foi adquirido em abril do ano passado e no próximo mês já avança para obra", diz Patrícia Barão.
Aliás, a agilidade nos licenciamentos e a desburocratização de todo o processo de reabilitação junto da Câmara Municipal de Lisboa (CML) é, para Patrícia e Fernando, um dos fatores de sucesso para esta revolução urbanística que está a envolver a cidade que há uns anos não estariam, de todo, no radar dos investidores e agora estão. A cidade está a ficar diversificada, e, se agora já se nota, dentro de dois anos será ainda mais notório. Neste processo, a CML está entre os principais motores de toda a transformação", reforça ainda Patrícia Barão, acrescentando que esta regeneração da cidade já se alonga num eixo que começa na Avenida da Liberdade, passa pela Baixa e o Chiado e só para em Santos.
Até localizações improváveis são agora disputadas pelos investidores mais atentos, acrescenta Fernando Vasco Costa. "Veja-se a Rua do Ferragial [em Santos], há um ano uma zona sem ninguém, decadente. Neste momento são vários os projetos em curso e, dentro de dois anos, todos os edifícios estarão recuperados e bem recuperados, com muita graça", exemplifica.
Fonte: Expresso
0 comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.