05 fevereiro 2016

Escritórios de Lisboa para arrendar estão obsoletos


Procura por espaços novos faz esgotar edifícios que ainda não estão construídos. O parque de escritórios de Lisboa tem atualmente cerca de meio milhão de metros quadrados disponíveis para arrendar mas "a maioria são espaços obsoletos que não correspondem à atual procura do mercado". A constatação vem de Paulo Silva, diretor-geral da consultora Aguirre Newman, e espelha a opinião de todos aqueles que trabalham neste sector.


A prova evidente de que há urna falta premente de novos espaços é que praticamente todos os projetos que estão neste momento em curso, sejam de construção nova ou reabilitações integrais, e que deverão ficar terminados nos próximos dois anos, já estão tomados. "São claros indicadores da exiguidade de espaços que existe neste momento no mercado de escritórios", reforça Paulo Silva. 

Os 18.000 m2 da Lisbon Tower, edifício que vai ser construído na Fontes Pereira de Melo em frente ao Fórum Picoas e que só vai ficar terminado em 2017, já estão praticamente tomados. O Marquês de Pombal 14, dos chineses da Narcipromov, também tem uma boa parte já reservada e o edifício do Edge Group na Avenida 24 de julho tem um contrato de pré-arrendamento com uma só multinacional para ocupar a totalidade dos 10 mil m2. Previsto para finalizar este ano o edifício da sede operacional , do Santander, localizado perto da Praça de Espanha e com capacidade para cerca de 2000 postos de trabalho, está obviamente todo alocado à instituição bancária e o República Center, construção nova que vai nascer na Avenida da República pelo promotor Puaça (do universo Sonangol) apesar de constar no pipeline das consultoras, "está parado há dois anos, por indefinições do projeto", segundo fontes do mercado. Resta o novo edifício do Lagoas Park ainda com área disponível para arrendar, mas que se situa na chamada zona do Corredor Oeste, no parque empresarial Lagoas Park, no eixo da A5 (Lisboa-Cascais).

"Faltam espaços de qualidade e com dimensão no centro da cidade. A crise fez parar os projetos e o que está a surgir acaba por ser canalizado para residencial, onde as taxas de rentabilidade são maiores", diz Marta Esteves Costa, responsável pelo departamento de Consultoria da Cushman&Wakefield. Mas não só. Se é certo que a banca voltou a financiar as famílias, o mesmo não se passa com as empresas promotoras. "O financiamento para promoção de obra nova não está fácil. Até porque as rendas não estão altas, o que condiciona a promoção especulativa. Por isso, os promotores estão a avançar só quando garantem contratos de pré-arrendamento, reduzindo assim os seus riscos", explica ainda a responsável da Cushman. 

Também a Aguirre Newman fez as contas ao que está disponível no mercado e concluiu que nas zonas mais procuradas, a chamada zona prime (eixo da Avenida da Liberdade até ao Saldanha) e na zona 2 (eixo Avenida da República-Amoreiras), restam 150 mil m2 em escritórios, a maioria espaços datados, e no Parque das Nações apenas uns escassos 17.400 m2, dispersos e de pequena dimensão, o que impossibilita a instalação de grandes empresas.

Paulo Silva, diretor-geral da Aguirre, destaca a evolução nos últimos dois anos no stock de edifícios novos: "Em 2013 existiam 603 mil m2 de escritórios para arrendar dos quais 98 mil m2 eram novos. Em 2015 já só restavam 25 mil de produto novo num total de 500 mil m2 disponíveis no mercado". 

Esta "escassez de oferta nova pode condicionar o número de transações", alerta, por seu turno, Pedro Salema Garção, diretor-geral da Worx. "Efetivamente existe pouca oferta para ocupação imediata para empresas que procurem grandes áreas. Como exemplo temos o Parque das Nações (zona 5) onde atualmente é difícil encontrar disponibilidade de áreas acima dos 500 ou 1000 m2 para ocupação".

No centro de Lisboa, a grande questão, diz, "é que uma boa parte dos imóveis pertence ao Estado ou à banca, são edifícios habitacionais que foram reconvertidos em escritórios durante décadas e a maioria precisa de obras para entrarem de forma competitiva no mercado, estando neste momento a ser repensados para o uso futuro".

Porto também sem stock novo 

No Porto, onde a Worx presta também consultoria imobiliária para o mercado empresarial, "o problema é exatamente o mesmo mas numa escala mais pequena", sublinha Pedro Salema Garção. 

O centro da Invicta está a ser procurado por empresas nacionais e multinacionais que esbarram também na inexistência de espaços de escritórios. Graça Cunha, diretora do departamento de escritórios da consultora Predibisa, lembra que a "zona da Baixa tem neste momento uma procura muito elevada mas o que existe são imóveis antigos, com fachadas pequenas e difíceis de acolher áreas em open space".

Por isso, diz, as empresas concentraram-se em 2015 na Avenida da Boavista e esgotaram praticamente tudo o que existia em termos de espaços mais recentes. Nos três edifícios mais referenciais da zona, já pouco resta. "O Boavista Prime está praticamente ocupado, o Bessa Leite ficou apenas com pouco mais do que 300 m2 e no edifício Burgo foram colocados seis pisos dos sete que estavam devolutos", resume ainda a responsável da Predibisa.

Fonte: Expresso

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.