Estrangeiros são quem mais compra edifícios históricos para hotéis ou condomínios. Nunca como agora se venderam tantos palácios, palacetes e edifícios com história, um fenómeno que vem acoplado à ‘descoberta’ de Portugal pelos estrangeiros, nos últimos três anos. Espaços fechados há anos, alguns há décadas, estão agora a mudar de mãos e a ser reconvertidos em hotéis ou pequenos e muito exclusivos condomínios de luxo.
E a facilidade ou dificuldade da venda deste tipo de imóvel não tem apenas a ver com a localização, o preço ou a dimensão mas, e muito, com o que a licença de utilização permite fazer ao imóvel.
Certo é que existe muito interesse maioritariamente por parte de estrangeiros, ainda que existam cada vez mais promotores nacionais atentos a recuperar os imóveis e a transformá-los em apartamentos para... estrangeiros.
Só no portal BpiExpressoimobiliário estão atualmente à venda 186 palácios, palacetes e solares em todo o país com preços que vão até aos €50 milhões. Lisboa concentra 103 do total destes imóveis, seguida do Porto com 20. Setúbal tem oito e também o mais caro, o Palácio real da Comenda, do século XVIII, que pertenceu à rainha D. Maria II e está inserido no Parque Natural da Serra da Arrábida.
Particulares, fundos imobiliários, autarquias e Estado, todos sem exceção têm vindo a apostar atualmente na venda deste tipo de património.
É o caso da Estamo, empresa estatal do grupo Parpública, vocacionada para a gestão de imóveis, que esta semana fechou a venda do Palacete da Junqueira, edifício do século XIX que retrata o estilo pombalino e está localizado numa área histórica, a cerca de 5 minutos da Praça do Império (Mosteiros do Jerónimos). O palácio já se encontrava há algum tempo na lista de vendas da empresa, tendo agora esta sido fechada a transação por um valor não revelado mas que terá de cumprir um mínimo de €5,1 milhões, base de licitação da proposta, como explica fonte oficial da Estamo.
Outro imóvel adquirido pela Estamo em 2006 e durante muito tempo disponível no mercado para ser comprado é o emblemático Chalet Faial (na foto). O imóvel do século XIX, localizado sobre a praia da Duquesa à entrada de Cascais, foi durante anos utilizado para as instalações do Tribunal de Cascais e, segundo apurou agora o Expresso junto da Estamo, está neste momento já com contrato de promessa. O preço-base é de €2,9 milhões.
É precisamente nas zonas históricas de Lisboa e Porto, ou em zonas de grande capacidade de atração turística, como Cascais, Estoril e Sintra, que as vendas são mais rapidamente concretizadas.
A Sotheby's, especializada no mercado de luxo, tem atualmente um portefólio com cerca de 50 propriedades designadas por palácios, palacetes e propriedades históricas com valores até €25 milhões. Um portefólio que cresceu nos anos mais recentes. Gustavo Soares, diretor da Sotheby's Portugal lembra que "este tipo de propriedades requer um investimento muito grande em manutenção e por isso, nos momentos mais críticos, muitas famílias optam por vendê-los".
Só em 2015, a Sotheby's vendeu 10 imóveis deste segmento, com um preço médio de €4 milhões, especifica o responsável. "O perfil do comprador é essencialmente de nacionalidade estrangeira, que procura este tipo de imóveis únicos, disponíveis em Portugal, para hotelaria, para habitações de luxo ou para representação das suas empresas".
Ingleses, franceses e chineses constam na lista de compradores da Sotheby's, nacionalidades que se repetem quando se fala com outras empresas do mercado.
Palacetes que ninguém quer
No Porto, a tendência é similar com "grupos de franceses e espanhóis a investirem e a fazerem diretamente a ponte com potenciais clientes no país de origem". Mas "há também portugueses a comprar para os reajustar à hotelaria ou a condomínios com prestígio", sublinha Ricardo Alves da Costa, diretor da Luximo's, filial da prestigiada marca inglesa Christie's.
O Convento da Alpendurada, em Marco de Canaveses, atualmente a ser explorado como hotel, é o edifício mais caro da carteira da Luximo's (por €18 milhões), que conta com mais de 20 palacetes e imóveis históricos em carteira, a maioria dos quais concentrada no Porto.
Carlos Penalva, sócio da Quintela & Penalva, consultora imobiliária que se especializou no mercado de topo em Lisboa e arredores prime como Cascais, Estoril e Sintra, lembra que apesar de começarem a surgir interessados nacionais, são principalmente os investidores internacionais quem mais rentabiliza o seu investimento "pois aqui encontram não só bons preços comparativos neste tipo de imobiliário mas beneficiam ainda de vantagens fiscais" que tornam o investimento uma aposta segura.
"Há ainda muitos edifícios na Baixa, Estrela ou Santa Apolónia (onde existem muitos palacetes lindíssimos) disponíveis no mercado. A grande questão para estes promotores é saber a capacidade de adaptação do imóvel a um uso futuro que pode passar pela hotelaria ou habitação", diz, uma vez que muitos destes palácios e palacetes são classificados e existem regras apertadas de preservação fiscalizadas por entidades como a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). "Mas que frequentemente impossibilitam a venda porque, por vezes, nem numa porta se pode mexer", diz o responsável.
E é precisamente por essa classificação que se bate o Fórum Cidadania Lx, um movimento cívico atento ao património edificado da capital. A associação fez no ano passado um levantamento que incluía mais de 20 palácios de elevado valor patrimonial localizados em zonas históricas, que se encontravam em "avançado estado de ruína, incúria e abandono".
No dia 14 de maio, o Fórum Cidadania irá realizar uma conferência no Palácio Pombal para fazer o balanço do que aconteceu durante o último ano. Mas as notícias não são muito animadoras, antecipa Paulo Ferrero, um dos fundadores do Fórum. "Praticamente todos continuam na mesma - em estado avançado de degradação. Nada se fez pelo Palácio Ribeira Grande (o antigo Liceu Rainha Dona Amélia), o Almada Carvalhais (que é classificado) ou o Palácio Pombal, só para citar alguns". Uma das "poucas exceções vai para o Palácio do Contador-Mor, na Calçada do Combro, que entrou finalmente em processo de classificação pela DGPC", remata ainda Paulo Ferrero.
Fonte: Expresso
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