16 agosto 2016

As casas em Lisboa já estão ao preço das de Paris


Vai ser cada vez mais caro viver no centro da cidade. Há determinadas zonas da capital em que o preço por metro quadrado já chega a atingir os 10 mil euros. O turismo e a concessão de crédito para comprar casas para arrendar são as principais causas deste aumento.


Vai ser cada vez mais caro viver no centro de Lisboa e, a curto prazo, muitos portugueses vão ter de optar por outras zonas mais baratas e que vão ao encontro das suas condições financeiras. A culpa deve-se, em parte, ao turismo: o aumento da procura está a levar a uma subida dos preços cobrados pelo metro quadrado na capital. O alerta é feito pelo partner e cofundador da Quintela e Penalva – Real Estate, Francisco Quintela, em declarações ao i. 

“Esta subida de preços tem acontecido nos centros urbanos que são internacionalmente cobiçados por turistas e investidores. E normalmente gera grandes clivagens a nível dos preços praticados nos diferentes mercados imobiliários”, salienta.

Isso é visível em determinadas zonas da cidade. Em algumas áreas da capital já se cobra o mesmo preço por metro quadrado do que em Paris. É o caso das habitações no Chiado e na Avenida da Liberdade, que chegam a variar entre os sete e os 10 mil euros por metro quadrado.

Aliás, estas zonas, assim como o Bairro Alto, registaram valorizações de 18 a 30,% entre 2014 e 2015. Estas subidas devem-se sobretudo ao interesse dos investidores estrangeiros. “Há vários indicadores que refletem e incentivam este fluxo de investimento, como o Global Property Fund Index: no universo de 32 países analisados, Portugal está entre os países que geraram retornos mais elevados em 2015 a nível do mercado imobiliário. Apenas nove países apresentam retornos de dois dígitos, com o nosso país a registar o sétimo melhor retorno, ex aequo com os EUA”, salienta. 

Francisco Quintela lembra ainda que zonas como a Baixa e o Castelo estavam até há pouco tempo quase abandonadas, especialmente a zona da Baixa, com uma enorme quantidade de prédios vazios e esquecidos. Atualmente estão entre as zonas onde mais se investe, sobretudo em apartamentos turísticos, e onde se pedem 6500 euros por metro quadrado sem estacionamento. 

Nova moda 

Para o responsável, há outras zonas que ainda não foram abrangidas mas que, no seu entender, apresentam muito potencial. É o caso de Campolide e da Avenida Almirante Reis. “São duas zonas com um potencial de valorização significativo dada a proximidade com o centro e o fato de serem bairros muito compostos, com imóveis com qualidade e ruas com vida e comércio próprio.” 

O mesmo acontece com o Cais do Sodré, que já valorizou, mas que a Quintela e Penalva – Real Estate acredita que ainda tem margem para crescer. A explicação é simples: “Está a tornar-se uma extensão do Chiado.” Mais perto do rio Tejo, o eixo São Paulo-Alcântara terá tendência para valorizar com a nova sede da EDP – um exemplo que é seguido por Xabregas, que será também valorizada pelos projetos urbanísticos pensados para esta zona ribeirinha e pela dinâmica que será introduzida pela criação de espaços de co-working, à semelhança do que foi conseguido no espaço da LXFactory. 

“Há cada vez mais confiança de que o país irá continuar a atrair a atenção de turistas mundiais e esta atração irá ter um impacto continuado no mercado imobiliário, independentemente dos indicadores macroeconómicos”, salienta.

Retorno 

Também o maior acesso ao crédito explica esta tendência. Atualmente, com os cortes sucessivos nos spreads, os novos créditos dispararam quase 80% em 2015, o valor mais elevado em quatro anos. Neste momento, a maioria dos bancos emprestam até 85% do valor da garantia. 

“O facto de Portugal estar a atrair cada vez mais turistas, novamente com alguns focos geográficos como Lisboa e Porto, tem levado os portugueses a apostar em casas para arrendar. Com efeito, quem consegue crédito tem um investimento quase seguro, com um retorno anual de cerca de 5%, mais do que tem sido o retorno médio no mercado de capitais”, afirma o responsável. 

Ainda assim, Francisco Quintela elogia a existência de várias medidas políticas que têm como objetivo conciliar o interesse do investimento de reabilitação imobiliária, com a atração de jovens e de famílias portuguesas para o centro de Lisboa e do Porto. “É muito importante que estes incentivos públicos continuem e se de-senvolvam, pois trazem um equilíbrio que o rápido crescimento do mercado, gerido apenas pela oferta e pela procura, não contempla”, acrescenta.

Mercado de luxo sobe 

O segmento imobiliário de luxo também acaba por refletir esta dinâmica, ao crescer 28% em 2015. Mas são os portugueses os principais interessados em comprar habitações de luxo, sendo responsáveis por cerca de metade de todos os investimentos. No entanto, este mercado também beneficiou do investimento estrangeiro, com os investidores chineses a darem um grande contributo. Aliás, a Associação de Empresários de Xangai (Shanghai Entrepreneur Association) anunciou recentemente que tem 10 mil milhões de euros para investir em Portugal. 

“Começou a surgir procura da parte de mercados que não eram tradicionais, como o da China, que lidera o número de pedidos de vistos gold, tal como outro tipo de mercados que nunca olharam para Portugal como um país de investimento, como Irão, Jordânia, Iraque e Líbano, entre outros. Somos considerados um refúgio para a maior parte das zonas de conflito, tanto no turismo como no investimento imobiliário”, conclui.

Fonte: iOnline

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