05 novembro 2016

Os sacrifícios que os jovens fazem para comprar casa


Numa altura em que os bancos emprestam apenas 80% do valor de uma casa, os jovens podem levar entre cinco e 30 anos para juntar os 20% da entrada. Pedro é um jovem designer gráfico e trabalha no departamento de Marketing de uma multinacional na área da distribuição de tecnologia, auferindo 850 euros líquidos por mês. Não tem por hábito poupar, até porque gosta de viajar. 

Contudo, deseja vir a adquirir uma pequena habitação própria permanente em Lisboa, no valor de 100.000 euros. Visto que os bancos só emprestam 80% do valor da casa, o Pedro vai ter de colocar 20.000 euros de parte.

Se poupar 50 euros mensalmente, no primeiro ano em que abrir a sua conta-poupança, terá de parte 600 euros. Até aos 20.000 euros o caminho é longo. Se receber um aumento salarial no segundo ano de trabalho e aumentar o valor mensal das suas poupanças em mais 25 euros, conseguirá ter 20.050 euros ao fim de 10 anos e dois meses. Mas se o Pedro poupar apenas 50 euros por mês levará 33 anos e três meses a amealhar 19.950 euros.

Estes são os resultados apresentados pela plataforma gratuita de simulação de produtos financeiros ComparaJá.pt, que analisou vários casos de jovens que têm interesse em comprar casa e o tempo que levam para conseguirem poupar o valor dos 20% da entrada, pedido pelos bancos para concessão de crédito à habitação. Num outro exemplo, de um jovem casal, as perspetivas não são muito diferentes.

A Elsa e o Ricardo vivem juntos há algum tempo e chegaram a uma fase da vida em que pretendem mudar de casa, porque estão a pensar em alargar a família. O T1 onde vivem não lhes permite criar os filhos que desejam ter.

Ambos são de Matosinhos e trabalham em restaurantes, auferindo, cada um, 700 euros líquidos por mês. Neste sentido, pretendem comprar uma moradia nos arredores que custa 100.000 euros, necessitando, também de poupar 20.000 euros para a entrada inicial. O casal está disposto a colocar de parte 50 euros a cada mês, um valor que pretendem aumentar em 50 euros a cada ano. Quantos anos precisarão a Elsa e o Ricardo de poupar para atingirem a sua parte?

Presumindo que colocam de parte 50 euros por mês e aumentam a suas poupanças, ano após ano, em 50 euros, chegarão aos 19.950 euros em sete anos e nove meses.

Já a jovem Madalena, cujo vencimento mensal líquido da sua profissão de fisioterapeuta ascende aos 1.500 euros, tem a ambição de comprar uma casa típica em Odeceixe, para desfrutar de um escape da vida agitada da cidade aos fins de semana.

Sendo uma pessoa habituada a poupar, Madalena decide colocar de parte, logo no primeiro ano de abertura da sua conta-poupança, 50 euros. Contudo, ao fim de um ano, compreende que, com o rendimento disponível que possui, consegue poupar mais. Se esta jovem empreendedora acrescer 100 euros todos os anos ao montante mensal das suas economias, naturalmente que levará menos tempo a conseguir a sua entrada inicial. Ao fim de cinco anos e 11 meses, terá 19.950 euros para dar de entrada para o seu retiro na costa vicentina.

“Avaliando todos os cenários, é possível inferir que é essencial começar a poupar o quanto antes para poder fazer o investimento de comprar uma casa. É claro que o nível de poupança que se consegue alcançar está sempre dependente do rendimento disponível do indivíduo”, revela Sérgio Pereira, diretor geral do ComparaJá.pt. O responsável adianta também que no caso de um jovem recém-licenciado, pelo facto de estar em início de carreira, terá, à partida, maior dificuldade em juntar dinheiro, mas, por outro lado, face a um casal, tem menos despesas para pagar. “Começar o quanto antes é a melhor solução e ir aumentando gradualmente as economias ano após ano é fulcral”, esclarece.

Qual a melhor oferta da poupança-habitação?

A plataforma realizou igualmente um estudo sobre a oferta que existe no mercado em matéria de contas poupança habitação. Embora as taxas de juro que remuneram este tipo de depósitos não sejam atrativas atualmente, vale a pena avaliar qual poderá ser a melhor conforme os diferentes perfis de consumidor.

O produto do BPI possui uma remuneração de 0%, o do Crédito Agrícola, por exemplo, já rende 0,025% ao ano.

A Conta Caixahabitação da CGD poderá ser a que melhor se enquadra num perfil como o do Pedro, visto que o montante de constituição e de reforço é menor (rendendo 0,15% ao ano), ao passo que a conta poupança habitação do Novo Banco poderá ser a mais indicada para a Madalena, que não pretende fazer reforços de menos de 100 euros por mês, sendo a que mais rende dentro das opções apresentadas.

Já a conta poupança habitação geral do Crédito Agrícola poderá ser uma hipótese plausível para o perfil de um casal como a Elsa e o Ricardo, uma vez que só pode ser constituída por titulares que tenham acima de 30 anos de idade (inclusive). Ao abrir esta conta, os encargos com o registo predial e atos notariais reduzem-se em 50% e ainda passam a ser considerados em regime de prioridade e urgência gratuita.

Sérgio Pereira indica ainda que o tempo de aforro necessário para comprar casa pode reduzir-se mais caso se subscrevam aplicações financeiras que gerem uma percentagem de rendimento adicional: depósitos a prazo, Obrigações do Tesouro, Certificados de Aforro, Certificados do Tesouro Poupança Mais e até fundos de investimento. Se para além de se poupar, ainda se puser o dinheiro a render, mais rápido se torna.

Além disso, existem outras formas de reforçar as poupanças para além do valor fixo guardado mensalmente: o tão aguardado reembolso do IRS ou um prémio de produtividade recebido inesperadamente podem ir diretos para a conta-poupança.

“E na altura de pesquisar o crédito à habitação mais favorável, é crucial comparar as diversas opções do mercado, passando pelo valor do spread, pelas taxas de juro (escolher entre fixa ou variável), pela prestação mensal (que vai oscilar se for indexada à Euribor) e pelo montante total imputado ao consumidor, conclui o responsável.

Fonte: Jornal Económico

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