É óbvio e ululante que, após o tsunami urbanístico, o mercado imobiliário continua doente. Mas mais grave que a doença de que padece é a atual sensação de hipocondria que se mantém.
Desde setembro de 2007 que a agonia tem sido crescente. Já lá vão quase quatro anos e meio e nem se juntarmos todas as clepsidras, ampulhetas e relógios de sol, conseguimos ver o fim deste novo ciclo.
No ciclo económico e imobiliário anterior, qualquer produto tinha valor comercial, os planos de negócio tinham sempre elevadas taxas de rentabilidade e as taxas de risco eram inexistentes. O mercado tudo absorvia, quer porque a procura fosse maior que a oferta ou, porque o crédito era fácil, rápido e expedito, tudo se vendia. No atual ciclo, em que a oferta é muito superior à procura, é absolutamente necessário analisar e valorizar os recursos, para poderem ser apresentados, no mercado, produtos imobiliários ótimos e imaginativos. São estes os produtos possíveis. Ou eles ou a ruína das promoções.
A crise imobiliária gerou, ou melhor, está gerar, um setor mais eficaz, eficiente e eminentemente profissional, mas com grandes perdas acumuladas.
A cidade - como diria a malograda Jane Jacobs - é onde se produz a economia.
A reinvenção das cidades e dos negócios imobiliários passa pela tremenda humildade de não sermos redundantes e de não fazermos mais e mais do mesmo.
Existem em todas as cidades (pequenas, médias, grandes e metrópoles) milhões de metros quadrados construídos ou por construir abaixo das suas capacidades de rentabilidade; património ocioso que é necessário pôr em valor, património que é preciso transformar de modo a que dê origem a produtos financiáveis e vendáveis. E repare-se que não falamos exclusivamente de antigas fábricas, quartéis ou prisões no meio da cidade, nem de amplas frentes marítimas ou ribeirinhas, de solos libertados de diversas servidões e restrições de utilidade pública obsoletas, mas de muitíssimas promoções que assentaram em estudos de mercado desajustados e que agoniam enquanto consomem juros e capital; de ativos passaram a passivos imobiliários. É necessário potenciar todas as características intrínsecas destas propriedades e aumentar as suas características extrínsecas, adaptá-las, modificá-las ou transformá-las profundamente, se necessário, para que possam voltar a entrar no mercado como produtos que se possam vender, alugar, concessionar, etc.
A criatividade imobiliária poderá ser um fator pioneiro na atração de talento e investimento para as cidades. Mas é necessário ressalvar que o melhor potenciador de atração, o melhor marketeer de uma cidade é o seu próprio habitante. Será ele que, se integrado num habitat urbano equilibrado e inteligente, promoverá a cidade como nenhuma campanha multimilionária será capaz de fazer. Será ele que gerará atividade económica, cultural, social e ambiental passível de multiplicar oportunidades, de atrair novos habitantes, sem, no entanto, desprezar novos talentos ou incorporações, evitando deste modo a perda de riqueza.
Fonte: OJE
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