29 maio 2012

Opinião: A Gestão do Projeto Imobiliário em Portugal


Por Reis Pereira*

O setor imobiliário atravessa uma crise cuja responsabilidade é atribuída à crise económica e financeira que o país atravessa. Sendo este, um fator sem dúvida nenhuma, preponderante no desequilíbrio entre a oferta e a procura, importa reflectir sobre as formas como se tem efectuado a gestão dentro deste setor.


O crescimento da oferta, uma maior exigência dos clientes, as novas imposições legislativas de qualidade e conforto dos últimos anos tornaram este setor muito competitivo e sofisticado sem que as metodologias de gestão efetuassem a necessária adaptação. Uma certa forma de gestão tradicionalista muitas vezes transmitida entre gerações nunca foi totalmente abandonada pela maioria dos promotores imobiliários, mesmo quando essa gestão deixou os de ser feita por homens com a instrução mínima e passou a ser detida por homens com formação superior.

A Gestão de Projeto tem inúmeros desenvolvimentos e é aplicada em várias indústrias. No entanto, no setor imobiliário não se tem generalizado a sua aplicação como forma de encarar a realização dos seus projetos.

A abordagem a um Projeto, neste caso imobiliário, conduz a uma visão das suas atividades como um todo, focalizada num prazo, dentro de um orçamento e cumprindo um conjunto de especificações previamente definidas. A gestão deve pois ser planeada, orçamentada controlada e estruturada no todo e não apenas numa das suas componentes. Não é apenas a fase de construção que carece de planeamento e orçamento, mas todo o conjunto de atividades irrepetíveis que constituem o projeto imobiliário.

Para alguns promotores imobiliários, nem a fase de realização da obra motiva a execução de um orçamento e planeamento, baseando a construção numa sequência de relações de confiança com empreiteiros designados por “habituais”.

A realização de um projecto não pode ser baseada em impressões ou conceitos de hipotéticos mercados mas com base na realização de estudos eficazes. A realização de um projecto não comporta mais a aquisição de um imóvel que fica em “stock” durante vários anos. A realização de um projecto não pode ser baseada em decisões intuitivas tomadas sobre o acontecimento e isentas do necessário distanciamento.

As crises são sempre geradoras de sofrimentos, incertezas e angústias, mas podem também trazer momentos de reflexão geradores de mudanças. Se atravessarmos uma crise e conseguirmos efetuar as necessárias adaptações às novas realidades então conseguiremos crescer na batalha da competitividade.

A existência de uma gestão por projetos no setor imobiliário abandonaria a gestão do improviso, traria uma focalização na concretização dos objetivos, nomeadamente de prazo, custo e requisitos de todo o projecto. A prática de gestão pouco organizada e intuitiva já não dá garantias de sucesso. O baixo investimento em planeamento tem nos dias de hoje reflexos no custo final do produto neste setor.

* Eng.º Civil, Mestre (OE), Consultor e Docente na Escola Superior de Atividades Imobiliária (ESAI)


Fonte: Artigo produzido para o Blog ImoNews Portugal

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