Se por um lado os números relativos à reabilitação urbana estão mais animadores, por outro, o número de projetos está tão aquém do necessário, que as melhorias palpáveis «ainda não existem», disse Reis Campos, da AICCOPN, durante a conferência “Cidades para as pessoas”. Para o responsável, o mercado da reabilitação urbana «ainda nem começou» em Portugal.
Esta conferência teve lugar ontem, na Culturgest, em Lisboa, inserida nos Green Project Awards. A manhã foi de discussão sobre a reabilitação urbana, o futuro das cidades e a sua sustentabilidade.
Em Portugal, o peso dos projetos de reabilitação urbana continua a situar-se entre os 5% e os 6%, enquanto que a média europeia se situa perto dos 36%. A par disso, Portugal tem 1,5 milhões de fogos para reabilitar, segundo dados da CPCI. Reis Campos considera que «deixámos degradar o nosso património durante muito tempo. Agora, temos reabilitação para 20 anos».
Por outro lado, o responsável considera que isto é uma oportunidade importante e significativa: «será uma pena se o governo não aproveitar a oportunidade que é a reabilitação urbana. E Portugal é atrativo». Ressalvou que os 500 milhões de euros disponibilizados pelo Estado para esta área «não são nada», face ao que há para fazer.
Miguel Castro Neto, secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, abriu a sessão da manhã, reforçando a preocupação que o governo tem tido com as problemáticas da reabilitação urbana e com o «crescimento verde e sustentabilidade». Preocupações estas que se têm traduzido «numa revisão legislativa, e na procura de novas fontes de rendimento». O responsável salientou ainda a criação do Regime Excecional da Reabilitação Urbana, que pretende «uma redução dos custos de contexto. É importante trazer pessoas para os centros urbanos. Viver nos centros não pode ser um luxo».
Por outro lado, está atualmente a ser preparado o documento das Cidades Sustentáveis Portugal 2020. Adicionalmente, o secretário de Estado adiantou que a principal preocupação relativamente ao novo quadro de apoio «é a sustentabilidade e novos apoios para a reabilitação urbana».
Apesar do número de projetos de reabilitação urbana estar aquém do necessário, há números animadores. Ricardo Guimarães, da Confidencial Imobiliário, apresentou alguns resultados relativamente a esta área, que mostram que «o sentimento do mercado está bastante diferente desde 2012, no que diz respeito ao mercado de compra e venda. Embora o sentimento dos preços ainda esteja negativo, está mais perto do 0», referiu o responsável.
Com a crise, o mercado de arrendamento «recuperou especialmente. Está agora estabilizado numa dinâmica pós-crise», sendo que «a estabilização das rendas ajuda a reabilitação urbana».
O responsável acredita que um dos impulsos à reabilitação urbana pode ser o facto de o investimento em arrendamento residencial ser «aquele que tem mais retorno por unidade de risco». E se o “golden visa” aqueceu o mercado, com uma subida de preços na gama alta na ordem dos 56%, «talvez exagerada», acabou por acontecer uma estabilização e normalização dos mesmos preços.
Os números Ci apresentados mostram que o número de projetos de reabilitação urbana tem vindo a aumentar, com 208 projetos de reabilitação licenciados no acumulado de 2012 e 2013, face a apenas 48 projetos aprovados de construção nova. Não obstante a grande diferença que existe entre a atividade em Lisboa e Porto e o resto do país, «começa a haver uma aposta mais profunda na reabilitação urbana», diz Ricardo Guimarães. «Podemos dizer que, finalmente, há reabilitação e há arrendamento. E o potencial regresso do financiamento bancário pode ser uma boa ajuda».
No debate sobre este tema, participaram Pedro Rutkowski, da Worx, Reis Campos, Salvador Malheiro Ferreira da Silva, da Câmara Municipal de Ovar, Isabel Santos, da Ecochoice, Rui Fragoso, da ADENE e Ricardo Guimarães, com moderação de Vítor Norinha, do jornal Oje. Pedro Rutkowski considera que «devemos saber que tipo de reabilitação queremos fazer. Temos que saber que tipo de mercado, é necessário saber para que os projetos sejam viáveis», alertou. Destacou a importância que oes estudantes podem ter no dinamismo dos centros urbanos e da reabilitação urbana.
Por seu lado, Isabel Santos considera que «os fogos novos não têm espaço no nosso mercado. Dado que a construção pesa tanto no nosso PIB, a atividade do setor tem de passar pela reabilitação urbana. Estamos no caminho positivo». Uma atividade que Reis Campos considera «necessária e prioritária». Adverte que «a reabilitação não é só um problema da construção, é do turismo, do comércio, da economia e de outros setores».
Representando uma das áreas do país com menos atividade de regeneração urbana, Salvador Ferreira da Silva considera que esta área «é um dos vetores estratégicos que consegue responder a todos estes desafios do futuro». E se o mercado da reabilitação «ainda nem sequer começou», os autarcas «têm um papel fundamental, a par dos privados. Os modos de atuação nunca serão os de antigamente (quando era o próprio Estado que incentivava a compra de casa própria, por exemplo). Agora, participam os particulares». Comenta ainda que «cabe-nos a nós (autarcas) fomentar a qualidade de vida, reduzir custos e melhorar o município. Porque a realidade do país não é só as boas notícias que ouvimos em Lisboa».
Uma área estreitamente ligada à reabilitação urbana é a eficiência energética, que tem vindo a ser melhorada em Portugal. Rui Fragoso considera que «as evoluções legislativas são importantes para investir na melhoria energética» dos edifícios. E a reabilitação urbana é precisamente uma oportunidade para que isto aconteça.
Ricardo Guimarães apontou ainda que «precisamos de saber o que queremos fazer das cidades. Acredito que a reabilitação urbana não é “o quê”, mas sim “como” (como queremos reabilitar)».
Esta conferência contou ainda com uma apresentação de Franco Caruso, da Brisa, sobre “Mobilidade Sustentável: os desafios de uma abordagem integrada”, uma apresentação sobre “Eco-village Community”, por Rui Vasques, e um debate sobre a mobilidade elétrica nas cidades, moderado por Robert Stussi, consultor em mobilidade, que contou com os oradores Luís Reis, da Associação Portuguesa do Veículo Elétrico, Mário Alves, consultor em mobilidade, Paulo Rodrigues, da Abimota, Óscar Rodrigues, da EMEL, Xavier Martinet, da Renault Portugal e Luís Paulo, dos CTT.
Fonte: VI
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