09 julho 2012

Crédito à habitação. 560 euros só para iniciar processo


habitação
Esqueça spreads baixos (margem financeira do banco) e financiamento a 100% no crédito à habitação. Esta realidade, que era comum há uns anos, deixou de ser possível praticamente a partir de 2008, o que torna os empréstimos cada vez mais difíceis e mais caros. Há agora que encarar uma nova realidade.

“Em menos de quatro anos, o crédito à habitação passou de filho preferido dos bancos a persona non grata. Quem precisa dele para comprar casa só tem duas opções: sujeita-se a um mercado pouco generoso ou adia o negócio”, revela a Associação de Defesa do Consumidor (Deco).


A explicação é simples: o custo do crédito subiu e, devido às apertadas condições de acesso, o número de empréstimos para comprar casa caiu. Se entre Outubro de 2009 e Setembro de 2010 foram realizados mais de 105 mil contratos, um ano depois (Outubro de 2010 e Setembro de 2011) foram celebrados apenas 61 mil, o que representa uma quebra de 42%, segundo os dados do Banco de Portugal (BdP).

Por isso mesmo, a associação garante que o crédito à habitação é um produto “em vias de extinção”, dizendo ainda que “alguns bancos já nem o fazem e, naqueles em que a porta ainda está entreaberta, as condições são pouco favoráveis e, à partida, pouco negociáveis”.

Além disso conseguir obter um financiamento a 100% é praticamente uma missão impossível. A maioria das instituições concede um empréstimo até 80% do valor da avaliação, mas há quem só empreste 50%. É o caso, por exemplo, do Deutsche Bank. Também os spreads aplicados rondam em média os 5% (ver tabela ao lado), mas em alguns casos pode chegar aos 7%.

aumento das comissões. Mas as alterações não ficaram por aqui. Com o mercado imobiliário a passar dias difíceis, a avaliação das casas também desceu. “No balcão do Santander foi apontada uma descida de 15 a 20% e no BES uma desvalorização até 30%”, refere a Deco. Além disso, quanto mais desvalorizada estiver a zona de localização do imóvel mais difícil será obter um crédito com condições vantajosas, ou, pelo menos, aceitáveis.

A penalizar a decisão de compra estão ainda os aumentos generalizados das comissões bancárias. Os custos de abertura pela entrada do processo e sua formalização subiram – em média rondam os 560 euros – e as despesas de avaliação dos imóveis ultrapassam na maioria dos casos os 200 euros. Na pior das hipóteses, se depois da avaliação do imóvel decidir não contratar o empréstimo, perderá no mínimo estes 200 euros.

A somar à factura conte também com as comissões periódicas. “Estas são uma realidade cada vez mais transversal e, em regra, são cobradas mensalmente com o processamento da prestação. São já poucos os bancos que não as aplicam. Quem já cobrava, aumentou o seu valor. Em média, esta comissão ronda 1,50 euros”, alerta a Deco.

Não se esqueça que a contratação de crédito está cada vez mais dependente de outras contratações de produtos. Aliás, este é o truque muitas vezes usado pelos consumidores para conseguirem baixar a sua prestação ao banco. A domiciliação do ordenado ou de pagamentos domésticos podem fazer toda a diferença na mensalidade a pagar ao fim do mês. Mas se estes não têm qualquer custo para o cliente, por outro há outros produtos que são “obrigados” a contratar e podem representar um custo de algumas centenas de euros. É o caso, por exemplo, da subscrição de um seguro ou de um PPR. “Nas rondas que fizemos às várias instituições financeiras foi-nos dito no Santander-Totta que não há nenhum banco que não esteja a trabalhar assim. Há um número de produtos que o cliente tem de ter activo, normalmente quatro ou cinco”, diz.

A verdade é que esta contratação pode fazer toda a diferença. “Perante spreads tão elevados, na casa dos 5%, é difícil não ficar tentado a aceitar a venda associada para diminuir o custo do crédito. Em regra geral, tal permite um desconto entre 0,5% e 1%, valores que fazem diferença na prestação final. Aceitando a venda associada, a média dos spreads para um financiamento de 80% desceu de 5,36% para 4,69%”.

Para travar situações de incumprimento, a associação pede que sejam encontradas soluções de carácter legislativo que travem a subida das taxas de juro no crédito à habitação. “O limite poderia estar, por exemplo, indexado à taxa de refinanciamento do Banco Central Europeu (REFI), ao qual seria somado o spread”. Como a Euribor acompanha a REFI, esta opção acabaria por não ser desvirtuada pelo comportamento do mercado português”, sugere a entidade.

alternativas. A verdade é que dificilmente os spreads vão voltar aos valores praticados há quatro anos, quando os clientes conseguiam obter valores na ordem dos 0,5%, mas a Deco acredita que é possível descer dos actuais cinco e seis%. Por isso, para quem quer continuar a ser proprietário, uma das hipóteses passa por comprar os imóveis dos bancos, pois nestes casos os spreads aplicados são bem menores e há menos restrições e mais facilidades, nomeadamente financiamentos a 100%. Se pode adiar a compra, a opção pelo arrendamento é a alternativa mais sensata.

Fonte: iOnline

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