Em entrevista à revista País Positivo, Rui Quelhas, administrador delegado com funções executivas da Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana, falou sobre o que tem vindo a ser feito por forma a tornar o Porto antigo, em novo. Segundo nos confessa o nosso interlocutor, a Porto Vivo "SRU" tem o objetivo central de promover a reabilitação e revitalização do Centro e Zona Histórica do Porto, fazendo o ajustamento entre a oferta e a procura e sendo um elemento facilitador. Obviamente, "todos estes objetivos são regulados por legislação específica complexa e que é bem mais densa do que a descrição de que acabei de fazer, mas a base é precisamente promover a reabilitação e revitalização, ajustar a oferta e a procura e ser facilitador".
A Sociedade de Reabilitação Urbana não foi constituída para fazer reabilitação por si mesma, isso aconteceu com o modelo falido do passado em que o Estado chamou a si a responsabilidade de reabilitar o património - mas agilizou, facilitou, promoveu e desenvolveu know how, como é o caso concreto dos projetistas. "Desde a criação da Porto Vivo que promovemos a criação de uma escola de novos projetistas para a reabilitação, tentando assim acabar com os 95 anos de ditadura do betão armado e do novo. É preciso refazer o ciclo de construção, desde os projetistas até aos vendedores das casas, porque vender uma casa reabilitada não é o mesmo que vender uma casa nova".
Criar uma fileira da construção para a reabilitação pode não parecer uma tarefa fácil e, de facto, não o é, mas é sem dúvida a única forma de conseguir levar a bom porto este imenso projeto que é reabilitar o Porto.
Além disso, pretende-se com este projeto que todos se envolvam e, para tal, é necessário que se estude os casos um a um e não se desenhe um projeto global, fazendo tudo da mesma forma. Também é por isto que a Porto Vivo é um elemento facilitado, já que, de acordo com Rui Quelhas, "para cada edifício é desenhado um «fato à medida». Fazemos um diagnóstico detalhado das necessidades de cada edifício e uma ficha de medidas a tomar e obras a fazer. Depois, o proprietário analisa e verifica se tem capacidade para reabilitar o seu património e caso não tenha, a SRU dispõe de programas como o Viv'a Baixa que permite a aquisição de vários materiais de construção a preços mais baixos, apoio jurídico em casos complexos de partilhas, atelieres de projeto e arquitetura para desenhar todo o processo de reabilitação, assim como protocolos com três bancos que garantem o financiamento com a melhor taxa e o melhor spread do mercado. E é precisamente isto que fazemos aos investidores, fazendo concursos públicos com parcerias público-privadas e dizemos aos investidores: «quer vir connosco, quer partilhar o risco connosco, não queremos ser construtores da reabilitação mas estamos aqui para ajudar e para partilhar o risco com os nossos investidores".
Apesar das alterações legislativas, a Porto Vivo continua a trabalhar para dar confiança ao mercado e aos investidores, promovendo a reabilitação. E se o intuito não é reabilitar, substituindo os investidores e proprietários, a verdade é que muitas vezes a instituição tem que servir de alavanca a grandes projetos, dando para receber. Segundo estudos feitos, por cada euro gasto pelo Estado, existem oito gastos por investidores privados e isso garante a sustentabilidade do investimento feito por todos nós na reabilitação do património edificado. "É também nossa responsabilidade dar o exemplo e servir de alavanca ao investimento e o caso concreto do Palácio das Cardosas e da Rua do Corpo Militar é um exemplo fulcral. Estamos a falar de dois projetos distintos mas que envolviam elevados riscos e o receio de dar o primeiro passo era enorme. Assim, decidimos ir à frente e, no caso concreto do Palácio das Cardosas investi 13 dos mais de 70 milhões de euros investidos, garantindo a reabilitação e arranjo urbanístico que permitiu ali instalar o Hotel Intercontinental que serve de alavanca económica e gerador de riqueza para toda a cidade e mesmo para o distrito. Este Hotel revitalizou o Turismo no Porto, sem sombra de dúvidas. Com isto, chegaram ao centro da cidade as lojas mais reconhecidas e requintadas, um ambiente mais seguro e dinâmico. Relativamente ao projeto do Corpo da Guarda, chamamos a nós 38 por centro da operação e chamamos os restantes 62 por cento" refere Rui Quelhas.
Oferta e procura
Questionado sobre os índices de procura por habilitações reabilitados no centro do Porto, Rui Quelhas é perentório: "A procura é imensa, superior à oferta existente em outras cidades do país. No entanto, esta refere-se ao arrendamento e não à venda e, de facto, não existe ainda uma bolsa de arrendamento de imóveis reabilitados já que os investidores estão à espera da nova lei do arrendamento para avaliar se esse é o caminho a seguir".
É muito caro reabilitar e o preço por metro quadrado é bastante caro no Porto e, como tal, as habitações reabilitadas são mais caras do que seria de esperar. Mas também existem excelentes condições e oportunidades para arrendamentos de custos mais baixos. Neste sentido, o nosso interlocutor confessa que o mercado de arrendamento low cost é cada vez mais uma prioridade. "Queremos apostar, sobretudo nos estudantes de Erasmus que não necessitam de grandes luxos para viver mas que existem às centenas todos os anos, garantindo assim a viabilidade económica dos projetos de reabilitação de casas não devolutas. Existe um sem número de oportunidades no centro e zona histórica do Porto, apenas necessitamos de mais investimento e mais apetência para o risco".
Apesar dos enormes sucessos obtidos, muitas vezes a Porto Vivo é acusada de reabilitar para os ricos e esquecer os pobres que são quem habitam estas zonas. Rui Quelhas é direto: "Uma sociedade faz-se de ricos e pobres, de classes, e é preciso fazer envolver estas classes para que todos possam aprender entre si. Queremos criar aqui oportunidades para todos os portuenses, ser um foco de contágio de conhecimento, arte, cultura e lazer. Se me disserem que a SRU só tem casas para a classe alta, eu tenho que concordar, porque de facto tivemos que atuar nos casos mais complexos e o custo final da obra foi altíssimo portanto não é possível disponibilizar habitações com custos acessíveis porque se assim fosse os investidores estariam a perder muito dinheiro".
Passado, presente e futuro
A crescente procura turística é já um reflexo de todo o trabalho realizado pela Porto Vivo que, com muito trabalho, conseguiu reunir todas as condições para que a baixa e a zona histórica portuense se tornassem atrativas e que a cidade fosse considerada como um dos melhores destinos turísticos da Europa.
Se o Porto tem vida? Com toda a certeza, mas a verdade é que cada vez mais o centro perde população. Existem muitas pessoas a escolher esta zona para viver. O Porto de hoje não é o Porto de outrora. Vê-se as ruas cheias de gente, os passeios repletos de pessoas durante a noite e uma procura tremenda no comércio. No entanto, é necessário potenciar ainda mais os eixos fundamentais desta cidade: "Temos três pilares de fundamentais de desenvolvimento no Porto: o aeroporto, o património e o Rio Douro. Potenciar estes eixos e juntá-los a um quarto, a Escola do Porto que é procurada por centenas de novos arquitetos de todo o mundo que chegam sedentos de curiosidade de conhecer a escola do Souto Moura e do Siza Vieira. Potenciemos estes vetores e podemos crescer ainda mais", refere Rui Quelhas.
Um destino natural
Hoje, o porto está na moda e tem razões para isso. Aqui, existe a melhor noite da península ibérica, um património riquíssimo, uma história contagiante, um rio que nos faz perder de amores e uma gastronomia cada vez mais rica. Por tudo isto, "venham descobrir o Porto e descubra as riquezas que esta cidade esconde".
Artigo publicado na revista País Positivo, edição de 14 de Julho de 2012
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