26 dezembro 2014

Estado apenas vendeu 3 dos 43 imóveis que levou a leilão


Taxa de sucesso foi de 7%. Os três imóveis vendidos situam-se na zona histórica de Lisboa. Hastas dos serviços locais de Finanças ficaram todas desertas. Os passos apressados de dois rapazes e uma rapariga ecoam a toda a largura dos corredores de pedra do ministério das Finanças. É ali, no rés-do-chão do histórico edifício do Terreiro do Paço, que a Direcção Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) realiza mais uma hasta pública de imóveis do Estado. No total, são 23 os lotes que vão a leilão - como sublinha fonte oficial do ministério das Finanças, é "a mais antiga modalidade de alienação de imóveis públicos" -, mas a maior parte acabará por não ter interessados. Um funcionário vê-os, acelerados. "Já começou", diz-lhes, apontando a sala onde irão passar o resto da manhã, sem nunca fazer uma licitação.


O imaginário luxuoso dos leilões da Christie's desaparece assim que se entra na sala mal iluminada. As imagens de uma sala repleta de aristocratas com dinheiro - secretamente, havia a esperança de pelo menos um monóculo - são substituídas por uma sala fria, de cadeiras azuis, com um pequeno estrado onde três funcionárias da DGTF conduzem o leilão - uma, de pé, faz de mestre de cerimónias; as outras duas, sentadas em frente ao computador, registam as licitações forem sendo feitas. Não estão mais de 25 pessoas, que ouvem a funcionária repetir três vezes a mesma pergunta: "Há alguém interessado em adquirir este imóvel pelo valor de 438.765 euros"?

Não houve. O T6 na avenida António Augusto Aguiar, em Lisboa, não teve interessados, a hasta ficou "deserta". É esse o termo técnico correcto para designar o resultado dos imóveis que não têm interessados, explicou uma das funcionárias. Um termo que, nesse dia, acabaria por se aplicar a 20 dos 23 imóveis que foram a leilão. No total, valiam 7.979.675 euros, mas a DGTF acabou por arrecadar "apenas" 564.100 euros.

O início do leilão até foi prometedor, os dois primeiros imóveis, ambos em zonas históricas - um para os lados do Castelo, outro perto da Praça da Figueira -, foram arrematados por valores superiores à base de licitação. Mas a partir daí as coisas tornam-se tão rápidas como desinteressantes, à medida que se avolumam os imóveis sem proposta. Em tom monocórdico, a mestre de cerimónias apresenta os imóveis, a sua tipologia, localização e valor base. Por trás, projectadas na parede, imagens dos mesmos. Nada de fotografias detalhadas sobre o interior dos edifícios, apenas uma fotografia da parte exterior, uma espécie de planta e uma imagem do Google Maps com a localização. A monotonia do leilão vai sendo interrompida pelas gargalhadas e conversa animada que se ouvem na sala ao lado, onde uma equipa da DGTF trata da papelada dos imóveis que foram vendidos com quem os comprou.

O discurso repetido que se vai ouvindo no leilão tem, de repente, uma novidade. Chegou a vez de duas fracções autónomas na Rua dos Fanqueiros, vendidas como lote único, que tiveram duas propostas por envelope antes do início da hasta. O valor base do lote era de 233 mil euros rapidamente deixa de ter validade, já que um dos interessados, Rui Correia da Silva, ofereceu 252.100 euros. É esse o novo valor base, a partir do qual, ao longo de nove licitações, o imóvel na rua dos Fanqueiros é disputado com o outro interessado Francisco Matias. Pelo meio, uma rapariga tenta a sorte e levanta a mão, mas rapidamente desiste quando percebe que aquilo é mesmo uma disputa a dois.

Aos 279.100 euros, Francisco desiste, apesar da insistência da mãe, que lhe pede para fazer mais uma proposta. O imóvel é atribuído a Rui Correia da Silva, mas não sem que antes se gere um burburinho. As funcionárias da DGTF enganaram-se e não registaram uma das licitações, pelo que o lote é atribuído a Rui Correia da Silva pelo valor da última proposta de Francisco Matias - os tais 279.100 euros - e não pelos 281.100 que com que ganhou a hasta. A mestre de cerimónias está confusa. "Se calha é melhor pedirmos a ajuda da sala", sugere. Não é preciso, porque Francisco diz que não quer o imóvel pelos 279.100 euros, pelo que vai mesmo acabar nas mãos de Rui. Levantam-se os dois e cumprimentam-se, um mais sorridente que o outro.

Ainda havia vários imóveis, agora já nos arredores de Lisboa, mas o leilão como que acabou ali. A sala esvaziou e rapidamente ficaram menos de 10 pessoas a assistir ao fim da hasta pública, que terminou com a mesma falta de glamour com que começou. No final, apenas três imóveis vendidos, um resultado ainda assim acima do conseguido no dia seguinte, quinta-feira, nas hastas públicas do Estado levadas a cabo pelos serviços locais de Finanças de vários distritos: em Viseu, Porto, Faro, Évora, Coimbra, Braga, Beja e Aveiro foram a leilão mais 20 imóveis que, a juntar aos 23 desse dia, somavam um total de pouco mais de 10 milhões de euros. Ficaram todos desertos.

Fonte: Económico

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