08 julho 2012

Turismo de luxo poderá destruir último reduto natural do Algarve


Turismo de luxo
Uma empresa que pertenceu à Sociedade Lusa de Negócios – dona do Banco Português de Negócios, fundado pelo ex-secretário de Estado Oliveira e Costa – é responsável por um novo empreendimento turístico que vai mudar para sempre um património natural único em Portugal. 

A Lagoa dos Salgados, no concelho de Silves, vai desaparecer tal como hoje a conhecemos para dar lugar a um gigantesco empreendimento turístico de luxo que, segundo Luís Costa, director da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), é “uma das poucas lagoas costeiras características do Algarve e do mediterrâneo que ainda restam” e “um dos maiores atractivos para os turistas estrangeiros e nacionais que ali vêm observar aves”.

A braços com um futuro “difícil”, por causa das dificuldades financeiras que atravessa, segundo o próprio presidente, Fernando Lima, o grupo Galilei prepara-se para investir mais de 232 milhões de euros na construção do novo empreendimento. A construção dos dois hotéis de cinco estrelas, um de quatro estrelas, dois aldeamentos turísticos e um campo de golfe está previsto arrancar no próximo ano e prevê-se que termine em 2023.

“Dá-me ideia de que o que está em jogo são interesses de empresas particulares de construção e não uma estratégia de turismo que traga lucros e interesse ao Algarve”, admite Alexandra Cunha, presidente da Liga para a Protecção da Natureza. A liga vai juntar-se à Almargem, organização algarvia de defesa do ambiente, numa queixa contra o Estado português junto da Comissão Europeia (CE) até ao final deste mês.

A actuação das associações ambientais levou a que, “aquando da discussão pública, se conseguisse reduzir de de 10 mil para cerca de cinco mil o número de camas, que a altura do empreendimento fosse menor, que o campo de golfe ficasse mais afastado da lagoa e que houvesse medidas de protecção e controlo no acesso à lagoa”, explica Luís Costa. A preocupação “é a de que a lagoa perca toda a importância para as aves e para a natureza”, garante.

QUEIXAS 

O Plano de Gestão de Lagoas Costeiras foi elaborado pela Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH), organismo com responsabilidade na gestão daquele território. Segundo o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (MAMAOT), a sua aplicação contribuiria para a “modelação dos fundos da lagoa, garantindo uma melhor protecção da avifauna”, mas “o facto é que esperamos há anos para que seja feito”, lamenta Luís Costa.

O ambientalista acusa a ARH do Algarve de “não fiscalizar a razão porque a água está a desaparecer” da lagoa e aponta responsabilidades aos gestores do empreendimento já existente na margem leste: “A água está a ser retirada pela Herdade dos Salgados”. Questionado sobre a fiscalização desta actividade, o MAMAOT esclarece que “o actual estado da lagoa deve-se única e exclusivamente às condições naturais de precipitação no Outono e Inverno, bastante inferior à média”.

As associações questionam igualmente a ausência de classificação de área protegida, apesar de há uma década a região ser considerada área importante para aves (Important Bird Area – IBA) pela Birdlife International. “Este ponto continua a não merecer a atenção, ou há aqui uma falta de vontade” política, sugere Luís Brás, responsável da Almargem.

A queixa apresentada pela associação junto da CE visa que, “pelos menos”, o Estado seja “questionado sobre as condições em que foi aprovado o projecto e condicionar o que foi projectado para ali”, explica o activista. Isto, porque “se o projecto fosse posterior ao Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT), não teria sido aprovado”, garante.

Segundo o ambientalista, o projecto constava do Plano Director Municipal do Concelho de Silves, mas, “tendo em conta a perspectiva de revisão do PROT do Algarve, houve um esforço para que o projecto fosse aprovado. E apesar de não estar aprovado à data da publicação do PROT, foi decisão do governo de José Sócrates, em 2007, promover uma prorrogação do prazo de entrada em vigor do PROT, para que uma série de planos que não estavam conformes até à altura pudessem ser aprovados”, denuncia Luís Brás.

De acordo com o ambientalista, o anterior governo socialista agiu de forma contraditória: “O mesmo governo que aprova o PROT compromete-se com a ideia de que os planos poderiam furar a estratégia que pretendiam aprovar”. Ao i, a presidente da Câmara de Silves disse que “a autarquia acredita que serão tomados todos os cuidados previstos no Plano de Pormenor para preservação do ambiente e, nesse sentido, não haverá problemas”.

Fonte: iOnline

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