26 setembro 2012

Lisboa reabilitada cria oportunidades únicas


A capital portuguesa passou por um processo de reabilitação nos últimos anos que trouxe o comércio para a rua, instalou novas empresas e conceitos, dinamizando zonas outrora votadas ao abandono. A Cushman & Wakefield analisou o setor e destaca alguns dos projetos de sucesso.


Durante anos, o comércio de rua na capital portuguesa foi "pouco interessante, facto que afastou os consumidores para os centros comerciais, e, desta forma, estendeu para dentro de portas os passeios de fim de semana dos lisboetas", refere a Cushman & Wakefield numa análise. Mas hoje "pode dizer-se que Lisboa se reconciliou definitivamente com o rio Tejo", afirma a consultora, acrescentando que "multiplicam-se esplanadas, jardins, novas zonas de recreio, de lazer e até de trabalho". Neste sentido, deu-se um aumento "no fluxo de turistas, beneficiando os mais variados setores da economia local, quer de forma mais direta, como a hotelaria e a restauração, quer principalmente de forma indireta, como o comércio em geral, os negócios de cultura e lazer, entre muitos outros".

No setor imobiliário, "este é um mercado no qual a maior visibilidade de Lisboa vai ter também necessariamente um impacto positivo". A Cushman & Wakefield considera que uma cidade atrativa para o turismo deve passar a sê-lo para os investidores imobiliários, que identificam o potencial futuro de crescimento de valor. Argumento que "ganha especial força no caso de Lisboa, em cujo centro histórico existem inúmeras oportunidades de reconversão e reabilitação urbana, nomeadamente pela fase que o mercado atravessa, em que a quebra de valor e pressão para a venda de ativos imobiliários cria oportunidades únicas". É ao potencial de reconversão urbana que existe em larga escala na capital que o documento da consultora dá destaque, "nomeadamente às muitas melhorias de que tem vindo a gozar nos últimos anos e que, fruto do que acreditamos ser um processo espontâneo de renovação que atravessa desde meados dos anos 90, hoje começa a ter resultados visíveis". A empresa adianta que as oportunidades criadas pela atual conjuntura "evidenciam as vantagens existentes na reconversão das suas zonas históricas, processo de interesse para os investidores privados, que podem tirar partido do potencial de valorização que o investimento nesta área poderá ter a médio prazo".

Neste âmbito, a consultora faz a análise a algumas das zonas lisboetas que têm vindo a assumir maior protagonismo. Projetos que, segundo a Cushman & Wakefield, merecem destaque pela abordagem de longo prazo; por terem empresários inovadores envolvidos; apostarem em conteúdos com uma identidade própria, fugindo às receitas seguras e "mainstream"; terem um enfoque em zonas degradadas da cidade com potencial urbanístico; arriscarem uma visão mais abrangente além do projeto em concreto, com preocupação de integração na zona em que se inserem; terem um enfoque na gestão urbana. Estes aspetos "devem ser vistos como essenciais para a atividade de reabilitação urbana", sendo "o único caminho para tornar Lisboa mais moderna e metropolitana".

LX Factory
Para a Cushman & Wakefield, este conjunto de antigos imóveis industriais localizado na zona ribeirinha de Alcântara é um excelente exemplo de uma operação de reabilitação urbana. O LX Factory surge a partir da revitalização em 2008, proporcionando espaços de retalho e de escritórios numa área bruta de construção superior a 20 mil m2. Hoje o antigo complexo fabril reúne um conjunto de utilizadores pertencentes sobretudo às áreas de âmbito criativo, novas tecnologias ou de inovação, bem como uma zona de comércio, restaurantes, uma livraria, lojas de decoração e de moda e uma sala de eventos. A LX Factory tornou-se um importante destino de lazer em Lisboa e uma opção de localização considerada por várias empresas. É também um exemplo pouco tradicional de reabilitação/revitalização urbana, dado que não foram realizadas intervenções profundas, como é habitual nestes projetos.

Cais do Sodré
O processo de reconversão urbana no Cais do Sodré originou uma mudança na vivência desta zona, com a organização de eventos musicais nos espaços de animação noturna que existiam na Rua Nova do Carvalho e na Rua do Corpo Santo, a atrair um público mais abrangente. O investimento privado na reabilitação urbana foi-se mantendo de forma pontual até hoje, com a recuperação de imóveis de pequena dimensão na Rua do Alecrim e ruas adjacentes, "destacando-se como exemplo o projeto residencial Alecrim Houses, concluído há poucos anos e ainda em fase de comercialização", diz a Cushman & Wakefield. Em simultâneo com a reconversão do edificado, também na Rua do Alecrim, começaram a abrir novos espaços de restauração que atraíram uma maior afluência de pessoas. O ano de 2011 foi um marco, no processo de reconversão urbana, pela conclusão, entre outros, do projeto Pensão Amor. O Cais do Sodré renasceu da decadência e é agora um dos destinos de excelência para o lazer noturno em Lisboa.

Príncipe Real
Vários investidores privados têm demonstrado interesse no Príncipe Real, um dos bairros mais emblemáticos de Lisboa. É o caso da empresa Eastbanc, principal proprietária de imóveis na zona, onde tem em curso um projeto de reabilitação conjunta. A Cushman & Wakefield refere que os efeitos deste investimento "são já visíveis na Praça do Príncipe Real, na Rua da Escola Politécnica e na Rua D. Pedro V, que, nos últimos anos, se têm tornado destino de vários retalhistas nos setores da moda, decoração e restauração, na sua maioria identificados com o estilo urban-chic para o qual esta localização tem vindo a evoluir". Neste exemplo, os projetos de reabilitação assumem uma maior escala, no sentido em que as intervenções nos edifícios implicam uma remodelação total. Numa lógica da gestão urbana, há ainda a organização de eventos como o Príncipe Real Live (festival de rua que teve a sexta edição este inverno) ou mercados no jardim da Praça do Príncipe Real (como o de antiguidades ou o de produtos agrícolas biológicos), "que ajudam a fazer deste bairro residencial um dos mais agradáveis na cidade para viver ou visitar".

Terreiro do Paço
Uma das maiores praças da Europa e uma das mais emblemáticas de Lisboa, o Terreiro do Paço tem uma área de mais de 30 mil m2 e um conjunto de esplanadas e espaços para animação e eventos. É o caso do Páteo da Galé, onde, desde a abertura na primavera de 2011, já ocorreram mais de 30 ações. A recente inauguração do Lisboa Story Centre - Centro de Interpretação da História de Lisboa "é um exemplo de iniciativa pública de renovação urbana que, ao aliar-se ao investimento privado, valoriza não só o património da própria praça, mas também beneficia as zonas circundantes, nomeadamente a Baixa e o Chiado, através do aumento de fluxo pedonal e que coloca toda a zona num dos principais destinos de comércio de rua de Lisboa".

Martim Moniz e Mouraria
Após décadas em decadência, a Praça Martim Moniz passou a ter o Mercado Fusão, que conta com dez quiosques de restauração (com uma oferta gastronómica que vai dos sabores da China a Cabo Verde, passando pelo Bangladesh). O espaço comum é mantido pela empresa gestora, a NCS, que optou por dar particular importância à gestão integral. De forma a atrair pessoas para a zona, a Praça Martim Moniz foi alvo de reabilitação, num processo que se pretende contínuo. Além de que a NCS pretende dar uma nova imagem à zona, via a divulgação e organização de eventos, para que se torne um destino privilegiado da cidade, garantindo a sustentabilidade do projeto.


O lançamento do Mercado Fusão é uma das iniciativas da Câmara Municipal de Lisboa para regenerar o bairro da Mouraria, em conjunto com a recente reabilitação do Largo do Intendente e a organização da primeira edição do evento "Intendente: Renasce um Largo para a Cidade" (que replica o Festival ao Largo, evento musical ao ar livre em frente ao Teatro Nacional de São Carlos). O investimento na reabilitação deste bairro inclui as já concluídas Residências do Martim Moniz (da EPUL), e um edifício propriedade da Câmara, na esquina da Rua da Mouraria com as Escadinhas da Saúde junto à Praça Martim Moniz, que também foi remodelado. Este investimento visa transformar a zona em mais um destino com um conteúdo único e uma identidade muito própria, à semelhança do Chiado ou o Cais do Sodré, que após anos de degradação renasceram, com novos espaços de lazer e cultura.

Fonte: OJE

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