05 janeiro 2013

Classe média entra na corrida à habitação social


Os pedidos de habitação social dispararam em muitos concelhos e agora é a classe média que vem pedir casa à câmara. Famílias com filhos menores, com os dois membros desempregados, que entregaram a casa ao banco ou deixaram de pagar a renda.

Famílias que já tiveram uma vida organizada mas estão desempregadas e a ficar sem sítio onde morar recorrem às autarquias, que, desde 2009, registaram em média o dobro dos pedidos


Apesar de não haver números globais dos novos pedidos, o Comité Português de Coordenação de Habitação Social diz que têm vindo a aumentar desde 2009 e que há um novo perfil de quem procura ajuda. Mas não há fogos disponíveis, pois a taxa de rotatividade destas casas é baixa. Quem ainda é proprietário, mesmo de algo que já não consegue pagar, nem sequer pode candidatar-se.

"Além dos pedidos habituais de pessoas com historial de pobreza, há um fenómeno novo. Pessoas que tinham a sua vida organizada, com emprego, filhos até no colégio, que perderam o carro, os bens pessoais e agora a casa", disse ao DN Carlos Rabaçal, vereador da Câmara de Setúbal. Entre janeiro e agosto, entraram 197 pedidos, mais 37 do que em igual período de 2011, 20% dos quais da classe média O autarca sublinha o drama destas famílias, "com capacidade de reação e adaptação muito reduzida." Pior, acrescenta, é "não haver casas disponíveis pois estão todas entregues". Em Matosinhos, entre 2010 e 2011, os pedidos duplicaram e até ao 3.° trimestre de 2012 triplicaram. Informações da autarquia mostram que em cada dez pedidos quatro são já da classe média, quatro da média baixa e só dois da baixa.

Também a norte, em Gondomar, é visível um " volte-face no tipo de agregados que recorre à câmara", diz Cristina Castro, adjunta do presidente. "Já não são as pessoas que vivem em habitações degradadas, anexos, barracas, mas a antiga classe média, grande parte proprietária ou arrendatária, que já não consegue pagar." A responsável pela Habitação diz que chegam "envergonhados e desorientados, pois sempre trabalharam, nunca pediram nada ao Estado ê agora estão aflitos". Alguns já têm ordem de despejo e estão na iminência de ficar na rua Contudo, sublinha, nem sequer são elegíveis para habitação social, porque ainda são proprietários. "Tentamos orientá-los, até porque nos apercebemos de outras necessidades. Mas pouco mais podemos fazer", diz, sublinhando que muitos estão deprimidos. Como o empresário que atendeu recentemente, a atravessar um processo de insolvência e a viver no escritório.

Também a autarquia de Loures tem atendido pessoas muito diferentes das que há dois anos recorriam a este apoio. Muitas já passaram pela casa de familiares e amigos e agora, sem alternativa, procuram ajuda da câmara. Metade apresenta perturbações psicológicas. Mistura de classes sociais é positiva A chegada da classe média aos bairros sociais seria, teoricamente, positiva, defende Isabel Guerra, vice-presidente do Centro de Estudos Territoriais. "Era uma forma de arejar o clima cultural, alterando a sua composição social." Contudo, a socióloga reconhece que prevalece a imagem de que estas casas são para os pobres e muitos bairros estão estigmatizados. Por isso, no início, previa uma adaptação difícil para estas famílias.

NA CAPITAL

Perfil está a mudar
Ainda não há números finais do ano, mas a vereadora da Habitação, Helena Roseta, já mostrou preocupação com o número de pedidos que chegaram até ao verão. Em relação a 2010, notou-se, já em 2011, o aparecimento de famílias com filhos solteiros. O perfil das famílias monoparentais ou sem núcleo já não predomina, e agora parece estar a aparecer as famílias mais estruturadas, vítimas do desemprego.

Fonte: Pelouro da Habitação de Lisboa

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