16 janeiro 2013

Portugal sem investimento é um país sem futuro


As afirmações de Durão Barroso, proferidas há poucos dias, são claras: Infelizmente, nem todos os governos nacionais dão a mesma prioridade ao crescimento do que a Comissão Europeia”. Esta frase, que não pode deixar de ser interpretada como uma condenação expressa de políticas de austeridade cegas e incapazes de promover a retoma económica, coloca a tónica num dos principais problemas que continua a afetar o nosso País e que se prende com a incapacidade de crescer de forma sustentada.

O peso do Investimento no PIB está a níveis nunca vistos desde a década de 50. Esta situação reflete, não só, a falta de perspetivas de futuro e de confiança, por parte dos potenciais investidores privados, mas também a inexistência de uma política efetiva de promoção do investimento. Deveria ser escusado dizê-lo: Sem investimento não há crescimento, pelo que só com a inversão do atual cenário é possível começar a antever alguma retoma. Porém, o nosso País tarda em reconhecer esta realidade.


Note-se que o setor da Construção e Imobiliário é responsável por cerca de 61% do Investimento total de economia, que não se resume, apenas, aos projetos promovidos pelo Estado, mas abarca uma parte muito significativa do investimento empresarial nos mais diversos domínios, como a indústria, o comércio ou turismo, bem como o segmento habitacional e, dentro deste, a reabilitação urbana. 

Assim, não deixa de ser surpreendente registar que, ao invés de se preocupar com a captação de mais e melhor investimento e com o correto aproveitamento dos 10 mil milhões de euros que ainda se encontram por executar no QREN, dos quais 3,6 mil milhões dizem respeito a este setor, o discurso político ainda esteja centrado no anúncio do fim das rotundas e dos pavilhões desportivos.

É evidente que não se trata apenas de um problema de quantidade, uma vez que a qualidade do investimento importa. Mas se há alguma lição a tirar de eventuais erros do passado, é que foi a falta de uma visão estratégica e as sucessivas indefinições e os consecutivos avanços e recuos políticos que originaram grande parte dos problemas que hoje enfrentamos. Foi a falta de coragem para assumir os verdadeiros problemas do País, procurando bodes expiatórios em obras virtuais, que nunca saíram do papel, que explica grande parte das razões para o descalabro das contas públicas, associada a um nível insustentável de despesa pública improdutiva, que nunca ninguém quis cortar.

Com plena consciência das dificuldades que enfrentamos, estou convicto de que ainda é possível desenvolver uma aposta efetiva no crescimento económico e no emprego. A economia portuguesa e o sector estão a divergir da média europeia, a caminhar de uma forma dessincronizada e desalinhada em relação aos nossos principais parceiros comerciais. Num contexto em que o crescimento sustentado, alicerçado no investimento e, dentro deste, no investimento em construção, deveria centrar a atuação de todos, Portugal desinveste e não cria condições para a retoma da confiança. O nosso País não pode continuar a remar em sentido contrário à Europa Comunitária.

A reabilitação urbana e o mercado do arrendamento, a internacionalização e o investimento público nos equipamentos e infraestruturas de proximidade, com elevado alcance económico e social de que o País carece, são apostas essenciais para garantir o futuro de Portugal.

Por Reis Campos, Presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário

Fonte: Público

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.