14 fevereiro 2013

Porto: Despejada aos 79 anos com as rendas em dia


Maria Emília Teixeira, de 79 anos, saiu de casa onde viveu 40 anos às oito da manhã de segunda-feira para não voltar mais. Foi a segunda idosa a ser despejada pela Câmara do Porto por não responder a um inquérito.

Foi filho José Manuel quem a levou para a nova habitação, uma casa minúscula numa ilha na Rua de Maceda, perto do bairro do Cerco, para lhe poupar o desgosto de assistir à mudança. Maria Emília e o filho Vítor, que vive com ela, preferiram sair voluntariamente do que obrigados pela Polícia.

No bairro onde viveu 40 anos, os vizinhos do bloco 5 assistiam indignados ao transporte de móveis, que começou de manhã cedo, pelas escadas abaixo. “Toda a gente está revoltada. Com tudo em dia há 40 anos e só por um descuido de um documento... Com esta idade, ninguém diga que está bem”, comentava uma vizinha.

O “descuido” de Maria Emília Teixeira, que reside com o filho desempregado e toxicodependente (no programa de metadona) , foi não ter entregue no prazo um inquérito com informações, pedidas pela Autarquia, sobre rendimentos e composição do agregado familiar.

Pelo mesmo motivo, no passado dia 29 de janeiro, foi despejada, também com a renda em dia, uma idosa de 70 anos do Bairro do Cerco, onde vivia com uma neta de 17 anos. Em ambos os casos, a Domussocial refere ter pedido várias vezes os documentos. Foram notificadas cinco vezes, precisou a Câmara, reiterando que a lei foi cumprida. A Junta de Campanhã acredita ter sucedido o mesmo nas duas situações: incapacidade em compreender o que estava em causa. “Sou autarca há 30 anos e despejos por motivos destes nunca vi. Se fossem pessoas mais novas e com mais saúde, ainda dá para ter razão, mas assim... era preciso ser mais humano”, disse ao JN Filipe Oliveira, vogal na Junta com o pelouro da Habitação.

“Eu não sei se entreguei ou não, porque ia lá e faltava uma coisa e depois faltava outra. Perdi o primeiro papel que me deram e não dizia que dava despejo. Eu ia a pé com a papelada até lá e uma vez pediram-me um papel que não existia”, contou ao JN o filho que vive com Maria Emília, Vítor Bragança.

Ontem, hesitava em escolher o que levaria para a minúscula casa onde iria passar a noite com a mãe. Teriam que deixar muitas coisas para trás, a maior parte dos objetos da casa onde já viveram oito pessoas: os pais e seis irmãos. “É por isto que a minha mãe não está aqui, para não ter o sofrimento de ver isto”, desabafou.

Pagavam uma renda de 70 euros pela casa com três quartos e sala, perto da Praça da Corujeira. Agora, a idosa vai viver numa casa com renda de 200 euros, que pagará com a ajuda de outro filho, José Manuel: é pouco mais de um corredor, de cuja janela vê traseiras e onde vai ficar muito mais isolada.

Foi o melhor que encontraram para a sua reforma de 400 euros, único rendimento da casa. “Não posso fazer uma sala aqui, lá tinha três quartos, cozinha, despensa”, dizia, desolada. “E este cão, que não pára de ladrar...”.

Fonte: JN

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