28 fevereiro 2013

Regras para travar o incumprimento são "demasiado complexas"


Receber imóveis como forma de pagamento de créditos é uma consequência natural da atividade dos bancos. Mas não é a sua vocação. "Não temos nenhum interesse especial" em que isso aconteça, diz Rui Semedo, presidente do Banco Popular. Nesse sentido, o sector sempre procurou encontrar soluções para os clientes em dificuldade. A nova legislação para travar o incumprimento vai nesse sentido, mas corre o risco de ser "demasiado complexa".

"Não há dúvidas de que a grande preocupação dos bancos é criar, dentro daquilo que é possível, as condições para que os seus clientes atravessem esta fase", utilizando "todos os meios possíveis para isso, como alargamentos de prazos…", diz o responsável ao Negócios. "A legislação não vem mais do que confirmar as preocupações dos próprios bancos". Mas remata: "Temo que se possa criar formas de actuar talvez demasiado complexas".

"Aquilo que vejo é que, de facto, há uma mobilização de energia muito grande dentro dos bancos, nalgumas situações, para resolver casos que seriam naturalmente resolvidos" afirmou Rui Semedo, à margem da conferência "A Gestão dos Activos Imobiliários da Banca na sequência da crise financeira e do sector imobiliário", organizada pela AESE – Escola de Direcção e Negócios, através do seu Agrupamento de Alumni.

Para tentar travar o crescente número de processos de entrega de casa aos bancos, o Governo avançou, no final do ano passado, com um conjunto de regras para prevenir e resolver situações de incumprimento sem envolver os tribunais. A legislação facilita a negociação das condições do crédito com o banco. 

"Há uma vantagem das regras, que é que todos o façam. Que sejam obrigados a normalizar a forma de actuação. Mas que há uma situação complexa na resolução do problema, ou potencialmente mais complexa, isso há", remata. "Se as vantagens que daí advêm vão ser visíveis, a experiência o dirá e ainda é cedo para o confirmar", diz Rui Semedo.

Muitas casas, muito crédito
Os bancos portugueses continuam a receber várias casas por parte de clientes que, dado o contexto macroeconómico adverso, deixaram de conseguir cumprir com o pagamento dos créditos. "Estamos a tentar encontrar formas de atenuar isso. Provavelmente, há agora alguma estabilização", diz o presidente do Banco Popular. No final do ano, os maiores bancos portugueses tinham 3,6 mil milhões de euros em imóveis. 

O peso dos imóveis nos balanços dos bancos, em percentagem do PIB, passou de 0,25% em 2006 para mais de 2% em 2012", revelou Rodrigo Lourenço, "partner" da PwC, na apresentação feita no âmbito da conferência da AESE. "Isto vem aumentar o risco do imobiliário para o sector bancário", rematou, alertando também para o peso do crédito à habitação no total de financiamento concedido pelo sector financeiro português.

No final de 2012, 52% do total de crédito produzido pela banca foi para financiar a compra de imóveis. "Qualquer queda no valor dos activo terá impacto nos bancos, mas também na economia dada a sua alavancagem", alertou o responsável da PwC. 

Fitch alerta que malparado vai continuar a subir 
Os bancos portugueses vão continuar a ser penalizados pelas imparidades de crédito, alerta a Fitch. "Estimamos um aumento do malparado na habitação, especialmente tendo em conta a nossa perspectiva de que a economia portuguesa contraia mais 1,5%, este ano, e a taxa de desemprego ascenda aos 16,5%", refere o relatório divulgado quarta--feira e citado pela Bloomberg. "Há o risco de um aumento de provisões em relação a outros activos, como por exemplo os imobiliários", diz a agência americana, que antecipa que 2013 seja mais um ano de fraco desempenho para a banca nacional, devido ao facto de "a pressão sobre as margens persistir com custos mais elevados no retalho, às taxas de juro baixas e ao custo de capital". Algo que "os esforços de aumentar os 'spreads' nos empréstimos não deverão anular por completo".
Fonte: Negócios

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.