A crise não bateu à porta de quem compra uma casa por 12 milhões de euros, e os russos continuam a investir.
O mercado imobiliário de luxo não está em crise. Pelo menos no Algarve, onde se continuam a vender bem casas de 10 e de 12 milhões de euros. Os russos estão entre os bons clientes, quando de se fala de negócios de milhões, ocupando lugar de destaque na agenda dos promotores de Quinta do Lago, Vale do Lobo e Vilamoura, mas a sua presença passa despercebida - procuram uma zona de conforto para os investimentos e de segurança para a família. "Estamos numa curva ascendente, sem sombra de dúvida", diz Elísio Martins, agente imobiliário especializado na comercialização de imóveis do segmento médio e alto, olhando o mundo a partir da janela do seu escritório, na Quinta do Lago.
A crise no mercado inglês e irlandês fez "ajustar os preços", mas mostra-se animado quanto à recuperação do sector. Por isso, não pensou duas vezes após acções de diplomacia económica, levadas a cabo por Paulo Portas, nos mercados chinês e indiano: "Fiz as malas e fui para o terreno". A experiência adquirida há mais de uma década na venda de casas, que poderiam chamar-se palácios, colocou-o no ranking dos mercados emergentes. " Estamos a remar a favor da maré", observa. O preço médio das "casas que marcam", na Quinta do Lago e Vale do Lobo, anda pelos três milhões. Mas, quando se fala de moradias que poderiam ser consideradas boutique hotels - com salas de cinema, jogos, piscina, ioga, SPA -, "já estamos na casa dos 10 ou 12 milhões".
Quem compra uma dessas moradias de sonho, diz o promotor imobiliário - também gestor de uma empresa de consultoria financeira e fiscal -, "são grandes empresários, donos de companhias de aviação, directores de bancos e industriais, europeus, sobretudo". Quando chegam ao Algarve, dispensam motorista e segurança, conduzem carros da gama média e fazem compras no tradicional mercado de Loulé. Em casa, têm ao seu dispor uma "corte" de pessoal para cuidar dos serviços - do corte da relva no jardim ao controlo da temperatura da água da piscina e, nalguns casos, contratam o chef de restaurantes da zona, que figuram no Guia Michelin. O custo de manutenção de uma dessas moradias por ano - IMI, electricidade, água e serviços - varia entre os 50 mil e os 80 mil euros. No entanto, o proprietário, quando passeia pela rua, facilmente é confundido com o próprio jardineiro, e é isso que ele mais aprecia: "Estas pessoas gostam do Algarve, porque ninguém os conhece, sentem segurança e não têm paparazzi a espiar a vida privada".
Quem com eles negoceia, Elísio Martins, da empresa O&O - Luxury Real Estate, cultiva a mesma discrição. Sobre os clientes russos, revela apenas que, nos últimos três anos, vendeu 12 casas - incluídas no lote das que custam milhões. No Algarve, esses clientes procuram uma "zona de conforto para o investimento e segurança para a família".
O Colégio Internacional de Vilamoura é frequentado por cerca de duas dezenas de alunos russos, filhos de famílias residentes. Mas há também o lado comercial da questão. Uma casa que custa três milhões de euros, com 600 metros quadrados, pode ser considerado de um valor "irrisório" para eles, quando comparado com um apartamento de 150 ou 200 metros quadrados, em Moscovo, que pode atingir esse valor. "Os russos fazem parte do nosso mercado tradicional", diz Elísio Martins, elogiando, por outro lado, o trabalho levado a cabo pelo ministro dos Negócios Estrangeiros na Índia e na China, dando a conhecer que um investimento de 500 mil euros em Portugal dá direito a autorização de residência imediata. "Abriram-se novas perspectivas ao mercado imobiliário", sublinha.
Em Vilamoura, Reinaldo Teixeira, administrador do grupo Garvetur, mostra-se também optimista, apesar de reconhecer a descida nos preços. "A crise abriu oportunidades de negócio, os valores caíram, mas vendem-se mais propriedades na casa dos 200 mil a 500 mil euros (apartamento T1)". Rússia, China e Brasil são os mercados para onde virou as atenções. A acção promocional desenvolvida por Paulo Portas, sublinha, "só peca por tardia".
Reinaldo Teixeira, cônsul honorário do Brasil no Algarve acrescenta que o "mercado brasileiro e angolano está a mexer" na zona de Lisboa e Cascais, a ritmo diferente do Algarve, onde os investimentos ainda não são tão visíveis.
No caso do mercado chinês, este é visto como "interessante", mas Elísio Martins acha que vai levar algum tempo a chegar ao nível que o russo já representa em Portugal. "Vai ser difícil vender uma casa de três ou quatro milhões aos chineses". O produto que se adequa à classe média/alta da China é o imóvel dos 500 mil a um milhão de euros. "A elite compra nos EUA, Paris e Londres". No entanto, prevê que o Algarve possa ter uma "oportunidade" por via dos campos de golfe. "Na China, está a proliferar a construção dos campos de golfe - estão a descobrir a modalidade - e o Algarve, nesta área, dispõe de excelentes condições".
A crise que se verifica desde há cinco anos ajustou os preços. O Algarve estava caro, reconhece Elísio Martins, mesmo para quem é rico. As casas contemporâneas da Quinta do Lago, com projecto personalizado e para "causar surpresa" no restrito círculo de amigos, saltam para os 10 a 12 milhões de euros. Mas não se pense que a compra é fruto de um impulso. "Quando se trata destes valores, não há paixão - é um investimento, geralmente bem pensado". Os proprietários, diz o promotor, são "pessoas viajadas e têm possibilidades de fazer comparações".
Fonte: Público
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