21 julho 2013

Hotéis para tirar ferias das crianças


Hotelaria exclusiva para adultos está a aumentar em Portugal. Diferencia a oferta e faz subir receitas. Aqui não há berços, mas camas king size. Piscinas privadas e jardins para caminhar, em vez de parques com baloiços. Há quem considere abusivo proibir a entrada aos mais novos, mas é legal.

Prometem dias de romance a casais em lua-de-mel. Ou relaxamento total àqueles cujo ideal de férias não inclui choro de bebé como música ambiente ou crianças a mergulharem com espalhafato quando o que mais apetece é fazer uma sesta à beira da piscina. São hotéis só para adultos, populares nas Caraíbas, Ásia e Grécia, mas que também já existem em Portugal.

“Havia situações em que as crianças queriam brincar e outros clientes queriam descansar. De vez em quando havia alguém que levava com uma bola na cabeça. Fomos percebendo que o hotel tinha esta inclinação”, relata João Neuparth, director do grupo Yellow Hotels, que acaba de estrear o conceito. Quando foi inaugurado há três anos, o Yellow Lagos, no Algarve, não limitava o acesso a crianças. Mas desde Maio que este cinco estrelas com 220 quartos, passou a aceitar apenas maiores de 16 anos. “A ocupação mais do que duplicou” face a 2012, indica. Em Maio rondou os 60% e no Verão deve chegar a 90%.

Actualmente, existirão em Portugal meia dúzia de unidades hoteleiras exclusivas para maiores de 16 e até de 18 anos. Localizam-se sobretudo no Algarve e na Madeira. E têm maioritariamente estrangeiros como clientes porque os portugueses ainda não estão familiarizados com este produto. No sul do país são principalmente ingleses e alemães – que o conhecem de outras paragens – a rondar os 50 anos no período de Inverno; na casa dos 30, nas férias de Verão. Já na Madeira, a maior procura vem do Norte da Europa, conta Graça Guimarães, directora do Savoy Gardens, hotel no Funchal que não aceita menores de 18 desde 2009.

Podem ser pais a fazer uma escapadinha sem crianças por perto, recém-casados em lua-de-mel, casais sem filhos, reformados, grupos de amigos ou pessoas que procuram descanso. Pensadas para adultos, nestas unidades pode até ser disponibilizado um mordomo de praia. Nos quartos: cama king size, champanhe, chocolates, flores. Piscina privada na varanda.

Não há parques infantis, mas grandes zonas verdes para caminhar, recantos com espreguiçadeiras para desfrutar. Os restaurantes, muitos com mesas só para dois, servem pratos para partilhar à luz de velas, convidando ao tête-à-tête. Não há menus infantis e por não se ter de tomar conta da pequenada, a ideia é desfrutar mais da gastronomia, do vinho e da companhia.

Quartos comunicantes, berços ou cadeirinhas para bebé, mas também aquecedores de biberons ou espaços para mudar fraldas não são necessários. “Tivemos de adaptar o hotel para um conceito mais romântico e intimista, criando zonas zen e chill out, com vistas magníficas sobre as montanhas e o oceano, spa com tratamentos a dois”, descreve Graça Guimarães.

A aposta em hotéis exclusivos para adultos responde à crescente segmentação da indústria turística. Se há resorts para famílias, para o segmento gay ou temáticos, este é mais um nicho a explorar. É isso que já fazem algumas companhias aéreas, que proibem bebés na primeira classe, e atracções turísticas como o zoo de Londres, que organiza visitas nocturnas só para maiores de 18 anos.

“Unidades hoteleiras há muitas e um quarto, é um quarto. Abrimos em 1992, mas a partir de 2005 optámos por segmentar e apostar forte neste nicho, que já estava a crescer nas Caraíbas e nas ilhas espanholas”, recorda André Aparício, director-geral do Falésia Hotel. E, salientando que “está a correr muito bem”, explica que também foi uma forma de inovar para se distinguir da concorrência e enfrentar a crise que tem prejudicado a hotelaria algarvia

“Grandes operadores como a Tui e a Thomas Cook têm programas em hotéis para famílias e em hotéis para adultos. Em vários casos são os mesmos adultos que utilizam as duas tipologias em alturas diferentes do ano”, analisa Eduardo Abreu da consultora de turismo Neoturis. “Tal como há filmes para todos ou M/6 também há para M/16 ou M/18”, compara, acreditando que este é um formato que “se pode alargar a mais unidades, mas que não se generalizará em Portugal”. Por cá, “a procura é ainda muito baseada em portugueses e espanhóis, que viajam muito com crianças; e nas férias ‘tradicionais’ de Verão que a generalidade dos mercados europeus passa em família”.

Com permanências que podem chegar a duas semanas – e estadias médias superiores às da hotelaria tradicional – esta também é uma estratégia para puxar pela rentabilidade. Por norma, os hóspedes passam mais tempo no hotel e os consumos internos são maiores. No Yellow Lagos, espera-se um aumento das receitas entre 20% a 25% este ano, graças ao novo regime.

Embora haja turistas que torçam o nariz à ideia e considerem excessivo proibir o acesso a crianças, associando uma má imagem à marca hoteleira, não há receio de perder hóspedes. Há outros que se ganham.

Quando uma família desconhecedora das condições chega à recepção do Yellow Lagos ou do Falésia Hotel, é-lhe dito que não poderá instalar-se. Mas são sugeridos hotéis próximos. E mesmo que se questione, o procedimento é legal. Segundo a advogada da Miranda Correia Amendoeira & Associados, Ana Ferreira da Costa, “é possível restringir o acesso, limitando-o a adultos” desde que as normas do hotel “se encontrem devidamente publicitadas, para garantir o seu conhecimento atempado”.

Fonte: SOL

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