19 agosto 2013

Metade do malparado está na construção e imobiliário


O malparado não dá sinais de querer recuar em Portugal. No final de Junho, os bancos detinham 16,8 mil milhões de euros em créditos de cobrança duvidosa, segundo dados do Banco de Portugal. Este montante já ultrapassa em 17% os 14,37 mil milhões de euros que se encontravam em incumprimento há um ano. Representa ainda 7,2% do total de 235,3 mil milhões de euros de empréstimos às empresas e às famílias portuguesas.

Apesar do malparado atingir de forma transversal a generalidade dos segmentos da economia nacional, alguns são mais afectados. Mais de metade do crédito em incumprimento está no betão, na área da construção e do imobiliário. Os números do Banco de Portugal indicam que o crédito à habitação, do lado dos particulares, e os sectores da construção e das actividades imobiliárias, do lado das empresas, somam conjuntamente 8,82 mil milhões de euros em créditos de cobrança duvidosa. Isto equivale a 52,4% do total de empréstimos em incumprimento.

Estes números não surpreendem o economista da IMF, Filipe Garcia. Segundo este responsável, a situação resulta do facto de que grande parte do crédito foi atribuído ao imobiliário e "em condições de facilitismo ou menor rigor". "Dado que na maior parte dos casos o crédito era concedido com uma garantia real - o imobiliário propriamente dito - e havia a perspectiva de que não perderia valor, foi concedido um grande volume de crédito sem ter em conta o risco de incumprimento. Para os bancos, o 'pior' que poderia acontecer seria a execução da garantia, que depois se colocaria no mercado", explica. Recorde-se que, do total de 235,3 mil milhões de curou em empréstimos concedidos 'ás empresas e aos particulares existentes no final de Junho, 60% estava atacado ao crédito á habitação (107,7 mil milhões), ao sector da construção (19 mil milhões) e ao sector das actividades imobiliárias (14,2 mil milhões). 

Apesar do corte na concessão de novo crédito, o malparado não pára de subir nas áreas ligadas ao imobiliário. Os três segmentos contam hoje com mais 1,3 mil milhões de curou em situação irregular face aos valores que se verificavam há um ano. "É notório que o mercado imobiliário ainda se encontra com pouco movimento. As perspectivas são ligeiramente mais animadoras, o mercado de arrendamento está a crescer e há também já algum investimento no sector. Porém, os preços não sobem, a procura - nomeadamente de novos empreendimentos é baixa, o que não ajuda o sector e, neste caso, as promotoras e construtoras. Junte-se a este cenário o agudizar do desemprego e explica-se o porquê de o cenário abranger empresas e famílias", refere Filipe Garcia.

Se, do lado das famílias, os números do malparado no crédito à habitação não são tão preocupantes - o montante em incumprimento representa apenas 2,2% do total de empréstimos para essa finalidade- o mesmo já não se poderá dizer em relação ás empresas com actividade na área da construção e imobiliário. Na construção e nas actividades imobiliárias, o malparado é o mais elevado entre os sectores de actividade, representando 22,4% e 15,9% do crédito concedido a cada um destes sectores.

À subida do malparado nestes segmentos estão inerentes riscos, não só para os bancos como para a economia e para as empresas. Filipe Garcia explica que "para os bancos, trata-se da degradação da sua base de capital e a necessidade de assumir perdas avultadas, que é o que temos testemunhado desde 2008. E acrescenta ainda o economista: "Estes perdem também espaço de manobra na sua actividade corrente e futura. Já' do ponto de vista da economia e das empresas, "o problema passa por se criar um contexto em que o sector financeiro não se encontra totalmente disponível para desempenhar o seu papel", refere o economista da IMF. 

A expectativa dos especialistas aponta para que o malparado continue a crescer mas a um ritmo cada vez menor. Ainda no início de Agosto, a Fitch emitiu uma nota a dizer isso mesmo. "Esperamos que os créditos malparados cresçam em 2013 e 2014, embora a um ritmo mais lento se a recessão económica diminuir", assinalava a agência de notação financeira, alertando precisamente para a construção e o imobiliário, conjuntamente com as pequenas e médias empresas e o consumo doméstico. São os segmentos de empréstimos que mais riscos acarretam para a qualidade dos activos dos bancos nacionais.

Fonte: Diário Económico

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