Durante algum tempo pensei que era maluquice minha, tanto mais que quase ninguém protestou, os partidos calaram-se, as pessoas acharam normal. Caramba! É preciso investimento externo, quem pode estar contra isso?
Por isso engoli a ideia do "visto dourado" ou do "visto gold" que no fundo é um regime especial de visto de residência para estrangeiros que queiram investir.
Segundo li no 'Diário de Notícias', segundo fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, "até 29 de agosto foram concedidas 145 autorizações de residência, com a China, Rússia e Angola a afirmaram-se, por ordem do maior montante investido, como os principais países investidores. Seguem-se o Brasil, Líbano, Paquistão, África do Sul, Índia, Colômbia, Tunísia, São Cristóvão e Nevis, Estados Unidos, Ucrânia, Turquia e Guiné-Bissau".
Pronto. Ficamos felizes. Há malta rica a vir sem que lhe façam as perguntas e as investigações incómodas destinadas aos trolhas e empregadas domésticas.
Até que no dia 1 de setembro, numa entrevista de António Barreto no 'Público', deparei com esta sua frase: "Comprar investimentos com vistos e passaportes de favor é absolutamente repugnante".
Alto!
Eis alguém com quem concordo absolutamente. É repugnante. Como foram (são) os PIN (projetos de interesse nacional, com benefícios legais) como foram e são tantas medidas que os nossos governos vão tomando e mudando muito subtilmente o fundamento do Estado de Direito democrático: a lei deixa de ser igual para todos e passa a depender do estatuto económico. Esta autêntica trincheira social, com a qual todos parecem conviver sem problemas é - confesso-vos - para mim um tormento. Já chegam as torpes divisões entre instalados e não instalados; empregados e desempregados; funcionários públicos e privados. Um país que não consegue ter as mesmas regras - claras e efetivas - para toda a gente sofre de uma distorção democrática clara.
Vistos 'gold' para quem tem dinheiro? Ótimo! Tragam, também, os traficantes que eles, nadando em milhões podem ajudar-nos a sair da crise. Económica, claro; porque da crise moral - que ditou esta crise financeira - não se vê saída.
Fonte: artigo de Henrique Monteiro publicado no jornal Expresso
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