22 fevereiro 2014

Chineses compram tudo


Bilionários do gigante asiático procuram imóveis no exterior e promovem um verdadeiro feirão de propriedades. Os investimentos dobraram no ano passado, chegando a US$ 8 biliões.

O château Gevrey Chambertin, castelo que abriga uma das mais tradicionais vinícolas da região da Borgonha, na França, pertenceu à família Masson por um século e meio. Há dois anos, a propriedade foi vendida a um investidor chinês. 

O negócio feriu o brio dos franceses mais tradicionais, que preferiam manter a produção dos vinhos nas mãos dos seus conterrâneos. Eles não foram os únicos a lamentar-se. No período 2011-2012, investidores chineses adquiriram nada menos do que 44 vinícolas, especialmente na região de Bordeaux. No ano passado, a tendência de compra asiática chegou à Califórnia, maior produtora vinícola dos Estados Unidos. 

Inspirados pelo astro do basquetebol Yao Ming, ex-jogador da NBA, a liga profissional americana, que fundou sua própria produtora de vinhos em Napa Valley, em 2011, milionários e bilionários do país da Grande Muralha passaram a consultar corretores sobre a possibilidade de adquirir propriedades na região. Essa sede – literal e figurada – dos chineses pela compra de propriedades estrangeiras, no entanto, não se resume a parreirais de uva e cantinas. O mercado imobiliário mundial está vivendo um boom de aquisições feitas por endinheirados e investidores chineses. 

De França ao Reino Unido, passando por Portugal, Espanha, Estados Unidos e chegando ao Brasil, os maiores mercados globais estão recebendo biliões de dólares em investimentos vindos do Oriente. Só no ano passado, o volume de negócios imobiliários fechados por chineses fora de seu país chegou a US$ 8 biliões, mais do que o dobro do registado em 2012, segundo pesquisa feita pela consultoria Jones Lang LaSalle. A tendência deve continuar. A expetativa é de que o dinheiro envolvido ultrapasse US$ 10 biliões até ao final do ano. “É uma mudança estrutural no mercado”, afirmou Alistair Meadows, diretor da divisão asiática da consultoria, ao portal Costar Group, especializado em informações imobiliárias. “Os investimentos chineses são permanentes.”


A maior procura dos chineses é por imóveis comerciais. O setor respondeu por cerca de 80% das transações no ano passado. Nesse mercado, eles colecionam alguns troféus. É o caso do famoso prédio da General Motors, localizado na esquina da 5ª Avenida com a Madison, no coração de Manhattan. A empresária chinesa Zhang Xin, CEO da Soho China, maior promotor imobiliário de Pequim, comprou 40% do arranha-céu, em parceria com o banco brasileiro Safra. No Brasil, a chinesa CTF Development adquiriu uma parcela de 35% do empreendimento Cidade Matarazzo, tocado pela francesa Allard, no início de fevereiro. O valor do investimento foi de R$ 165 milhões.

O imóvel, localizado na região da avenida Paulista, em São Paulo, abriga o desativado Hospital Matarazzo, um prédio tombado que terá teatros, cinemas, galerias de arte e um shopping. Trata-se do primeiro investimento imobiliário de peso feito por uma empresa chinesa no País. “Com esse investimento fortalecemos nossa estrutura de capital e podemos partir para a próxima fase”, afirmou, em nota, Eduardo Machado, CEO do Grupo Allard no Brasil. Embora ainda represente uma parcela pequena do total investido por chineses em imóveis no mundo, o mercado residencial vem se expandindo a passos largos. Os portugueses sabem bem disso.

Atraídos pela possibilidade de receber um visto permanente, milionários e bilionários da China estão transformando Portugal num verdadeiro feirão de imóveis. Para atrair investimentos estrangeiros, o governo luso concede vistos “gold”, que permitem a entrada direta no país, como se fosse residente, para qualquer pessoa que invista € 1 milhão e crie ao menos dez empregos. Em 2013, Portugal concedeu 470 vistos desse tipo, a maioria para chineses. Quase 90% dos investimentos foram destinados para o setor imobiliário, em particular para mansões nas regiões de Cascais e Algarve, tradicionais redutos de ricaços locais. Nesse ritmo, a próxima revisão ortográfica da Língua Portuguesa terá de incluir, também, palavras em mandarim.

Fonte: www.istoedinheiro.com.br

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