Os portugueses que têm empréstimos para compra de casa não param de ver as suas prestações aumentarem desde finais do ano passado. A culpa é da subida, lenta mas constante, da Euribor.
No próximo mês há uma nova pequena surpresa desagradável. Para um empréstimo de 100 mil euros a 30 anos, com um spread (margem de lucro do banco) de 3%, a mensalidade de março calculada com base na Euribor a 6 meses, e que terá só efeito em maio, é de 441,69 euros, mais 1,37 euros que em fevereiro e 2,07 euros face a março de 2013. Ou seja, num ano a prestação da casa vai ficar 24,84 euros mais cara.
O valor exato do aumento da prestação dependerá de vários fatores, nomeadamente do spread contratado, do indexante utilizado (Euribor a 3 ou 6 meses) e, obviamente, do montante em dívida.
A tendência de subida do custo do crédito à habitação já se verifica desde novembro de 2013. Aparentemente, nem mesmo a redução da taxa de referência do Banco Central Europeu (BCE) para o mínimo histórico de 0,25%, verificada naquela altura, conseguiu colocar um travão no agravamento dos juros. O mínimo histórico da Euribor a 6 meses foi atingido em maio do ano passado, com um valor de 0,1950%, e o máximo dos últimos dois anos sucedeu em fevereiro de 2012, altura em que atingiu 1,25%.
“A taxa diretora é administrativa. É um instrumento do BCE para sinalizar algo para o mercado. Já as Euribor traduzem a perceção de risco, de liquidez. No fundo, mostram as expectativas”, explica João Queiroz. Dito de outro modo, o lado positivo da subida dos juros é que esse movimento traduz a confiança dos investidores na recuperação das economias da moeda única.As taxas deverão subir mais ainda este ano, mas de forma progressiva, prevê o especialista.
O mercado estará à espera das eventuais medidas a tomar por Mario Draghi, governador do BCE. “Por um lado, a utilização do quantititive easing [injeção de liquidez, através da compra de ativos] pelo BCE permanece em dúvida, tal como o discurso sobre a evolução da inflação/deflação, o que pode fazer descer as Euribor, caso se confirme uma ação que coloque mais moeda em circulação e se a inflação continuar a descer”, afirma o diretor de negociação da GoBulling.
Para quem quer agora pedir um empréstimo para compra de casa o problema é ainda mais grave. É que, para além da subida das taxas e do acesso cada vez mais complicado a empréstimo, os spreads não param de subir. “O que está a encarecer o crédito não é a Euribor, mas sim o spread”, afirma João Queiroz, diretor de negociação da GoBulling. Os spreads mínimos implícitos nos novos créditos andavam pelos 3% em fevereiro último, segundo os últimos dados do mercado. No entanto, numa análise mais concreta a alguns bancos, a Deco Proteste concluiu, recentemente, que a margem média cobrada por uma amostra representativa da banca é, neste momento, superior a 5%.
Mas nem as dificuldades do crédito, nem os juros mais caros parecem estar a demover os portugueses de se tornarem proprietários: o mercado de compra e venda de casas está no “seu melhor nível” desde setembro de 2010, revela o Portuguese Housing Market Survey (PHMS),elaborado pela Royal Institution of Chartered Surveyors e pela Confidencial Imobiliário. As instruções de compra “subiram a bom ritmo” em fevereiro e prevê-se um “forte crescimento das vendas nos próximos três meses”, mesmo que a queda nos preços das casas está já a desacelerar.
Fonte: Dinheiro Vivo
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