26 abril 2014

"Custo da habitação pode tornar-se proibitivo para os lisboetas", afirma Manuel Salgado, vereador do Urbanismo na Câmara Municipal de Lisboa


A aposta dos promotores imobiliários no mercado estrangeiro de luxo está a permitir requalificar a cidade mas a tornar demasiado elevados os preços da habitação nas zonas prime. Uma tendência que o vereador quer contrabalançar.
Qual foi o peso da reabilitação em 2013 na cidade de Lisboa? 
De janeiro a setembro de 2013 foram emitidos 521 alvarás para obras de reabilitação e apenas 36 alvarás para obra nova. Mais de 95% das obras licenciadas nos últimos três anos foram para reabilitação. 

Como vê a reabilitação de edifícios para o mercado de compradores estrangeiros? 
Esse tipo de investimento tem aspetos positivos, mas também negativos. E o mais negativo é o facto de aumentar o custo da habitação e às tantas ela tornar-se proibitiva para os portugueses que se querem instalar e não têm capacidade financeira para suportar rendas muito altas. Portanto, temos de tomar aqui medidas para balancear esta situação. É importante que se reabilite e que se melhore, mas também temos de ter programas que permitam que de facto a habitação seja acessível. Não podemos só pensar na habitação de curta duração, temos de pensar nas pessoas que vivem cá em permanência.

Neste momento, qual é o tempo médio de aprovação de um projeto? 
O meu recorde quando cheguei à câmara no final de 2007 foi aprovar um processo que estava na CML desde 1983! Neste momento os prazos estão francamente mais curtos. Se o processo entrar de acordo com o que está especificado, o processo de arquitetura aprova-se em menos de um mês. A seguir é necessário entregar as especialidades, mas os prazos não têm nada a ver com o que era antes. 

Em entrevistas tem dito que gosta de "pensar a cidade". Lisboa já começa a estar como a pensou? 
Ainda falta muito... Aquilo que eu penso e tenho pensado ao longo dos anos é que é preciso fazer um grande esforço para reabilitar a cidade. E reabilitar a cidade significa conservar os edifícios que estão em mau estado, ocupar os edifícios que estão vazios e fazer reabilitações profundas nos edifícios que estão em ruínas. Esta é a prioridade das prioridades em Lisboa. Mas depois há outras questões que têm de ser analisadas. Temos de intervir no espaço público e isso passa por dar mais espaço aos peões. Passa por definir outras regras de partilha do espaço público entre automóveis, bicicletas, peões, transportes públicos. Passa por ter uma rede de equipamentos mais densa: melhores creches, melhores escolas, mais bibliotecas, mais equipamentos desportivos. E valorizar aquilo que mais distingue Lisboa: a sua relação com o Tejo e a sua zona ribeirinha que é absolutamente única.

Fonte: Expresso

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