01 junho 2014

2014 O ano da retoma


Estão a vender-se mais casas, o investimento estrangeiro no imobiliário está a subir para níveis históricos e os vistos gold continuam a atrair chineses.

A palavra "confiança" está de no volta ao discurso de quem se movimenta no sector imobiliário. Este ano estima-se que o número de casas vendidas possa rondar as 130 mil, contra as 96 mil em 2013, ano em que se bateu no fundo.


Os dados são avançados pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), mas a tendência que aponta para a inversão do ciclo nesta atividade é referenciada por várias fontes do sector, desde a promoção imobiliária à mediação e também à consultoria.

Há pelo menos três fatores a concorrer para a mudança que agora se anuncia: a banca voltou a conceder crédito à habitação, embora de forma muitíssimo mais criteriosa que no passado; algumas famílias estão a investir as suas poupanças no mercado da pedra, que continuam a ver como a aplicação mais segura no longo prazo e, talvez a puxar pela carruagem, uma vaga de investimento estrangeiro está a encher de otimismo todos quantos vivem e trabalham para o sector.

Estrangeiros investem €2 mil milhões em casas 

De acordo com a APEMIP, estima-se que até ao final deste ano o investimento estrangeiro na compra de habitação possa oscilar entre €1,5 mil milhões a €2 mil milhões. "Um valor nunca visto em Portugal", explica Luís Lima, presidente daquela associação. 

A concessão de vistos gold foi outro dos fatores de sucesso na captação de investimento estrangeiro para o imobiliário, modalidade a que os chineses, em particular, aderiram com grande entusiasmo. Começaram por comprar casas, sobretudo em Lisboa e Cascais, mas já começa a haver casos de aquisição de prédios inteiros. 

Dados apurados pelo Expresso junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros indicam que entre janeiro e 22 de maio deste ano foram concedidos 962 vistos gold, o que corresponde a um investimento de €581 milhões. Do total de vistos concedidos, 788 foram atribuídos a cidadãos chineses, seguidos a grande distância pelos russos, com apenas 33 e os brasileiros com 27 vistos. 

No que diz respeito só ao primeiro trimestre deste ano, e ainda segundo a APEMIP, os britânicos lideraram com 800 transações, seguidos pelos chineses com 550, surgindo os franceses na terceir posição, com 547 imóveis comprados. 

No mesmo período, o total das compras efetuadas por estrangeiros representou 14% das transações (o equivalente a 3.500 negócios). 

Se é certo que os regimes dos vistos gold e do residente não habitual estão a animar o mercado imobiliário, também é verdade que os portugueses voltaram a comprar casas. Com cautela, mas cada vez em maior número. 

Na rede de mediação imobiliária Century 21, os clientes estrangeiros representaram 22% das 1292 transações de venda concretizadas no primeiro trimestre deste ano. O restantes diz respeito a cidadãos nacionais. "O mercado interno está a alavancar os nossos resultados. A banca recomeçou a financiar e está com critérios mais razoáveis", diz Ricardo Sousa, presidente-executivo da Century 21 em Portugal.

Beatriz Rubio, líder do grupo Remax Portugal, corrobora, acrescentando que apesar do financiamento bancário ter regressado ao mercado nacional, sobretudo a partir de fevereiro, "foi em maio que se acentuaram os sinais de abertura de crédito aos particulares". Só esta mediadora tem a seu cargo a comercialização de 6000 imóveis da banca. No entanto, o crédito bancário começa a surgir não apenas para a compra destes imóveis, mas para todo o tipo de operações que vão surgindo no mercado.

No universo Remax, as cerca de 3500 casas vendidas de norte a sul do país, entre janeiro e abril deste ano (um crescimento de 52% comparado com o período homólogo de 2013) distribuem-se por todos os segmentos do mercado e não apenas pelos imóveis topo de gama.

Ao contrário do que dizem os manuais de economia, neste caso o aumento da procura não está a ser sinónimo de aumento de preços. São várias as fontes contactadas a confirmar esta evidência. Ou seja, não se está a correr o risco de formação de uma bolha especulativa, até porque ainda existem perto de meio milhão de casas para vender.

Em algumas zonas, porém, a oferta começa a escassear, como por exemplo no Parque das Nações, em Lisboa, algumas localizações na linha de Cascais, e em Vilamoura, no Algarve.

No entanto, e segundo Miguel Azeredo perdigão, secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), não se vislumbram novos investimentos para os tempos mais próximos. "Começa a notar-se algum entusiasmo, sobretudo pela procura estrangeira, mas da parte de quem investe em novas construções houve uma paragem quase total. Aliás, houve multinacionais associadas nossas, como a francesa Bouygues ou a espanhola Ferrovial, que simplesmente saíram de Portugal", sublinha aquele responsável.

Azeredo Perdigão remata com pragmatismo dizendo que "recomeça a haver vontade de investir. Não há é dinheiro".

Em algumas zonas onde havia empreendimentos já construídos mas sem compradores, há agora um renascer de esperanças com estes novos mercados emergentes. Aniceto Viegas, administrador da Espírito Santo Property dá como exemplo a "boa surpresa que foi o mercado dos vistos gold" para um dos empreendimentos da empresa. "No Oeiras Golf & Residence tínhamos 29 unidades entre moradias em banda, geminadas e apartamentos e em seis meses vendemos 28 casas. 21 destinaram-se a estes clientes de vistos gold".

Investimento: Estrangeiros compram tudo 
€28 milhões foi o valor transacionado no primeiro trimestre deste ano nos chamados ativos de rendimento, um volume exclusivamente assegurado por investidores de origem internacional, segundo o mais recente Market Pulse, da consultora Jones Lang Lasalle (JLL). A consultora realça que o investimento imobiliário está na rota do crescimento e que o retalho foi o principal alvo dos investidores, captando 79% deste investimento. Os escritórios absorveram 21%.

Habitação: Portugueses compram as mais baratas 
Casas de luxo ou do segmento alto para compradores estrangeiros e a habitação de revenda e do médio baixo para os clientes nacionais, assim se divide neste momento a procura no mercado de habitação, como pode confirmar o Expresso junto de vários mediadores. Os preços, garantem, não estão a sofrer pressão para subir, salvo em zonas específicas como o Parque das Nações ou no centro de Lisboa. 

Retalho: Sete novas lojas de luxo na Avenida 
Nestes primeiros meses de 2014 o comércio de rua continuou a dominar a atividade no retalho, com o luxo a manter o protagonismo nesta dinâmica. A Avenida da Liberdade é a mais procurada por estas marcas, tendo registado 10 aberturas em 2013, esperando-se que este ano abram mais sete marcas de referência internacional nesta artéria. Chiado é outra zona com grande procura. 

Logística: Armazéns vazios 
O segmento dos armazéns continua a refletir o ritmo ainda contido de crescimento da economia. No final de 2013 existiam mais de 220.000 m2 "de boa qualidade" (com uma área superior a 5000 m2) disponíveis na região da Grande Lisboa, aponta um estudo da consultora CBRE. A renda prime para logística manteve-se nos €3,25/m2/mês para armazéns de grande dimensão.

Hotelaria: 10 novas aberturas em 2014 
Portugal está na moda e o turismo em alta, por isso sucedem-se as apostas neste segmento de mercado. Só na região da Grande Lisboa está prevista a abertura de 10 hotéis, que reforçarão o mercado com 920 novas camas, refere um levantamento feito pela consultora Aguirre Newman. A maioria são cinco estrelas (cinco hotéis) e quatro estrelas (quatro unidades). Nesta lista, o Sana Evolution Saldanha é o hotel com a maior capacidade com 144 quartos.

Escritórios: de Parque das Nações em alta 
No mercado de escritórios, a ocupação de 17.258 m2 registada no 1° trimestre de 2014 representou um aumento de 42% face ao período homólogo de 2013. 55% desta área foi garantida pela entrada de novas empresas no mercado ou pela expansão de área, refere uma análise da Jones Lang LaSalle. O Parque das Nações, que absorveu 38% da ocupação total, e o Corredor Oeste (Eixo A5, onde se incluem a Quinta da Fonte e o Lagoas Park) com 26%, foram as zonas mais dinâmicas.

Fonte: Expresso

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