Há dinheiro para investir em Portugal mas faltam incentivos fiscais de peso. Existe interesse imobiliário e cada vez maior conhecimento do mercado, mas a verdade é que Portugal ainda não conseguiu atrair os grandes investidores árabes a apostar fortemente rio país por falta de incentivos fiscais. Quem o diz é Karim Bouabdellah,que liderou durante 35 anos a Câmara de Comércio e Indústria Árabe Portuguesa (CCIAP) e que ainda hoje é uma figura influente nesta instituição, atualmente presidida pela filha, Aida Bouabdellah.
Pai e filha são unânimes em considerar que, para este tipo de investidores, o visto gold português é claramente insuficiente como fator de atração.
"Muitos investidores árabes que conheço sabem exatamente quanto é o metro quadrado em Djerba, na Tunísia, no Algarve, na 5ª Avenida em Nova Iorque ou no centro de Londres, seja para imobiliário residencial de luxo ou escritórios. E sabem também exatamente que rendimento podem ter com o seu investimento. E a verdade é que em Portugal muitos surpreendem-se negativamente com a forma corno são obrigados a pagar pelas mais-valias daquilo que pretendem comercializar. Questionam: se já pago IVA, IRC, IRS porquê pagar ainda mais?", diz o responsável, acrescentando que "seria fundamental que o Estado português olhasse para estes grandes investidores de uma maneira diferente e encontrasse parâmetros de entendimento para que eles pudessem avançar com os seus investimentos".
Para quem tem "cinco ou seis passaportes", o visto gold nada pesa como critério de decisão, prossegue. Mas medidas fiscais mais enérgicas, sim.
Além dessas medidas falta também algo bem menos complexo e que passa tão somente por maior coordenação nas ações empresariais a realizar nestes países. Referindo-se a alguns road-shows realizados por iniciativa de alguns promotores imobiliários portugueses em locais como Doha, Dubai ou Abu Dhabi, o responsável lembra que "o mundo árabe está na moda e que as pessoas estão a conseguir resultados", mas estes poderiam ser potenciados se tudo fosse bem planeado.
"Nós já temos, neste momento, o calendário de atividades que vão decorrer nos países árabes. em 2015. Os fóruns, os seminários, as iniciativas. É. tudo uma questão de preparação, organização e cooperação com a CCIAP", diz Aida Bouabdellah, secretária-geral da associação. Até porque sendo países com muita liquidez e fundos próprios são sujeitos a muitas solicitações.
A responsável reforça, lembrando que a associação "tem conhecimento efetivo do que se está a passar nos países árabes e em todos os mercados. Sabemos quais as oportunidades efetivas e quais os sectores em que as empresas portuguesas tem melhor colocação dos produtos".
Milhões para construtoras
Ao reforço nas ações de captação de investimento árabe para o mercado português junta-se ainda a necessidade de uma aposta estruturada para atrair turistas dos países árabes.
Falta promoção, diz Karim, acrescentando que Espanha, Alemanha ou o Reino Unido, por exemplo, investem forte neste mercado. "Um só turista árabe, jogador de golfe, por exemplo, gasta nunca menos de 5000 euros numas férias."
Os árabes ainda não estão a vir para cá, mas as construtoras portuguesas estão há uma década a apostar nos países árabes.
A crise no setor da construção e do imobiliário em Portugal intensificou a abordagem e levou muitas empresas a desbravar caminho em pelo menos uma dezena dos 22 países que pertencem à Liga dos Estados Arabes. Grandes empresas como a Teixeira Duarte ou a Soares da Costa, mas também médias e pequenas, integram as dezenas de estruturas empresariais da fileira da construção que estão a singrar nos mercados árabes.
Karim Bouabdellah estima em "dois mil milhões a três mil milhões de euros" o montante global que será movimentado até ao final deste ano pelas empresas que estão a trabalhar nos vários países árabes.
"Só na Argélia estão cerca de uma centena de empresas e 40 mil trabalhadores portugueses", exemplifica. Neste país, entre as obras que estão a ser asseguradas por construtoras para atrair portuguesas destacam-se, por exemplo, as obras do viaduto de Constantine, o metro de Argel, o porto comercial de Bejais e 200 quilómetros de gasodutos.
Marrocos, Emirados Árabes Unidos ou Arábia Saudita contam também com o contributo das empresas nacionais.
Fonte: Expresso
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