12 junho 2014

Recuperação da economia traz mais procura para lojas de rua


Depois de décadas de marasmo, o comércio de rua reemergiu nos últimos anos como uma alternativa no imobiliário de retalho. A crise acabou por afetar também este segmento, mas a recuperação da economia está agora a impulsionar a procura.
A forte crise económica sentida em Portugal nos últimos anos afetou, de forma transversal, todos os segmentos do mercado imobiliário, inclusive o comércio de rua. 

Apesar de, nos últimos anos, este setor ter vindo a reemergir como uma alternativa consolidada no imobiliário de retalho – uma realidade que tem sido obviamente mais patente nas cidades de Lisboa e Porto -, as quebras no consumo e no rendimento disponível das famílias tiveram um impacto negativo também na procura deste tipo de imobiliário, afetando a compra de bens e, por conseguinte, as vendas dos retalhistas. 

De acordo com Ricardo Sousa, Administrador da Century 21 Portugal, apesar do “segmento residencial ter sido também muito afetado pela crise nos últimos anos, a grande diferença é que neste segmento tem havido procura constante e no segmento não residencial – no qual se inclui o imobiliário de retalho – não tem sido bem assim”. Mas o responsável pela Century 21 em Portugal, rede de mediação imobiliária que em paralelo ao mercado habitacional, está também a trabalhar imobiliário não residencial, sublinha que “desde o último trimestre de 2013, e como consequência dos sinais positivos que se têm feito sentir na Economia, há mais procura para o imobiliário de retalho”. A tendência deverá manter-se já que “todos os indicadores apontam para uma revitalização progressiva da atividade económica e, como consequência, deste segmento”, revela. 

As boas perspetivas devem-se à dinamização deste nicho de mercado devido aos sinais de recuperação económica, mas também ao trabalho que a rede tem vindo a desenvolver nesta área, no reconhecimento de que “a abordagem adotada no mercado não residencial é totalmente diferente do mercado residencial”, considerando as variáveis que cada imóvel envolve e também o tipo de potenciais clientes. “Estamos a falar de empresas e negócios”, o que exige uma abordagem “mais direta e profissional”. Além disso, “as decisões são mais racionais do que no segmento residencial”, considera Ricardo Sousa.

Assim, a Century 21 tem apostado numa abordagem especificamente trabalhada para o segmento de imobiliário não residencial, com uma estratégia desenvolvida em conjunto com os seus parceiros para este mercado, como é o caso do Millennium bcp, em cuja carteira imobiliária os imóveis de comércio têm já um peso de 22% a nível nacional, o segundo mais representativo logo a seguir à habitação, conforme revela José Araújo, da Direção de Negócio Imobiliário do Banco. Esta abordagem diferenciada passa por uma estratégia de recrutamento, formação e acompanhamento de especialistas em imóveis não habitacionais”. E atualmente “são cada vez mais a lojas da Century 21 que apostam neste segmento, que possuem equipas especializadas e que já contam com resultados interessantes e, mais importante ainda, com excelentes expectativas a curto-médio prazo”. Para Ricardo Sousa, estas ações começam agora a surtir efeito, tendo em conta que “estamos neste momento com um stock considerável de negócios em vias de concretização que nos permitem estar mais optimistas sobre o fecho do 1º semestre e, naturalmente, sobre o futuro”.

A mesma visão é partilhada pelo Millennium bcp que revelou que apesar de os primeiros cinco meses do ano não terem revelado um aumento claro da dinâmica em termos de unidades (lojas) vendidas, em termos de valor regista-se já um aumento de mais de 50% face ao ano anterior. A expectativa, revela José Araújo, “é manter um maior ritmo de concretização, até pelas atuais novas parcerias estabelecidas e uma maior animação da nossa economia”. Em 2013, o Banco alineou mais de 3 centenas de imóveis de comércio num valor global de 19 milhões de euros, com Lisboa e os concelhos limítrofes como Amadora, Sintra, Setúbal e Almada, a apresentarem a melhor performance.

Comércio de Rua Lidera também no investimento

Na opinião de Ricardo Sousa, também “os investidores têm visto atrativo neste segmento, sobretudo pelo ajustamento produzido nos preços, encontrando oportunidades de negócio”. Esta perspetiva é confirmada por dados recentemente divulgados em relação ao mercado de investimento imobiliário em ativos de rendimento, que dá nota de que cerca de 79% dos 28 milhões de euros investidos em Portugal no 1º trimestre foram em imóveis de retalho, com a consultora JLL, que é responsável pelo estudo, a referir no documento que “as lojas arrendadas a marcas reconhecidas situadas nas zonas prestigiadas de Lisboa, como a Avenida da Liberdade e o Chiado, são um produto bastante procurado por investidores nacionais e internacionais”. Um outro estudo da consultora Cushman & Wakekefield revela que as yields oferecidas pelo investimento no comércio de rua nestas duas principais localizações de referência, nomeadamente Avenida da Liberdade e Chiado, é de 6,5%.

Estas zonas têm sido as duas principais estrelas do ressurgimento do comércio de rua que, com a emergência dos centros comerciais na década de 80 e o boom desta indústria nos anos 90, foi, lentamente, ficando adormecido e praticamente moribundo na maior parte das cidades portuguesas, também devido a uma lei de arrendamento estagnada, que só recentemente foi revista de forma profunda.

Só na Avenida da Liberdade em 2013, abriram 10 novas lojas especialmente de produtos de luxo, e espera-se que este ano 7 outras marcas de referência internacional abram lojas nesta Avenida, que é já reconhecida como “o” destino das compras de luxo em Portugal. No Chiado, a situação é semelhante em termos de dinâmica, com uma elevada procura, mas mais direcionada a marcas mass market e premium, revela a JLL. A zona do Príncipe Real tem também ganho protagonismo no comércio de rua em Lisboa. Já no Porto, a Rua de Santa Catarina mantém uma procura constante para lojas de rua, diz aquela consultora, sublinhando, no entanto, que é a zona dos Clérigos a que mais destaque tem conquistado na Invicta. Aliás, para a Cushman & Wakefield, os Clérigos são precisamente um bom exemplo de que existe uma tendência crescente de procura de lojas de rua fora das localizações prime, nas quais têm vindo a emergir novos clusters de segmentos específicos de comércio.

Fonte: Público

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