06 setembro 2014

Duas mil lojas fechadas em 2013


O impacto da nova lei do arrendamento e da crise económica tem-se feito sentir no comércio das cidades de Lisboa e Porto. Segundo a União das Associações de Comércio e Serviços (UACS) em 2013 fecharam 1.320 lojas na capital e as que abriram não chegaram a metade desse número. Já a Associação de Comerciantes do Porto aponta para 792 encerramentos na Invicta e, em contrapartida, 528 aberturas. Mas o turismo tem vindo a dar algum dinamismo a esta área e a reabilitação urbana pode fazer a diferença na atração de pessoas e de novos negócios.

"É natural que este ano sejam menos os encerramentos, até porque muitas lojas já estão fechadas. O grosso dos encerramentos teve a ver com o arranque da nova lei do arrendamento que entrou em vigor no final de 2012 e fez-se notar logo nos primeiros seis meses de 2013", revela Carla Salsinha, presidente da UACS. Acrescenta que esta situação teve um "impacto brutal na cidade", basta olhar para algumas artérias. As lojas fechadas notam-se particularmente nas zonas históricas corno a Baixa Pombalina e bairros como a Graça ou Benfica ou, ainda, em artérias outrora emblemáticas como a Rua Morais Soares ou a Avenida Almirante Reis. Nesta úItima, conta Carla Salsinha, "metade das lojas estão fechadas". Na capital a área de atividade mais afetada tem sido a do comércio retalhista não alimentar.

A crise económica foi um motivo forte para o encerramento, mas a lei do arrendamento consistiu para Carla Salsinha na sentença de morte para muitas empresas. Perante rendas que aumentaram, algumas empresas sentiram não ter condições de as suportar. Houve também situações em que os proprietários afirmaram querer fazer obras no edifício e os lojistas tiveram um prazo mínimo para deixarem os espaços, sem indemnização que ressarcisse o investimento realizado. "Numa loja são precisos cinco anos para que um cliente se fidelize, mudar o local a que a pessoa está habituada pode fazer a diferença. O comércio de proximidade vive muito de quem trabalha e vive na zona", salienta a presidente da UACS.

Impacto na cidade

Outro flagelo na cidade são as lojas encerradas há vários anos. "É um espaço que vai deteriorando a imagem da zona e aí a autarquia e o Estado têm de encontrar forma de impor que ao fim de um período, por exemplo dois anos, o proprietário tem de baixar as rendas para que comecemos a ter de novo os espaços comerciais cheios", frisa Carla Salsinha. Como causa da crise que o sector atravessa, aponta ainda o dedo à especulação imobiliária que começou em 2005 com a entrada das lojas chinesas que escolhiam o centro da cidade e que até chegavam a oferecer rendas elevadas aos proprietários. No campo das soluções e para a direção da UACS a reabilitação e requalificação urbanas são uma área de intervenção importante para reavivar as funções das cidades e são um passo imprescindível para respovoar os centros urbanos, reavivando o comércioo tradicional e promovendo a atração de novos negócios.

Tal como em Lisboa, também na cidade do Porto o cenário não é animador. Em 2013 encerraram 792 lojas, segundo a Associação de Comerciantes do Porto. O presidente desta organização, Nuno Camilo, considera que em relação a este ano "a situação já estabilizou. O turismo é um estabilizador para a economia local e muitos encerramentos foram travados pelo crescimento do turismo na região". Já o total de aberturas no último ano foi de 528. "Os empresários estão a reinventar os negócios e a aproveitar o crescimento do turismo", salienta Nuno Camilo. A norte o sector do pronto a vestir tem sido o mais afetado, apesar da quebra nas vendas ser generalizada.

"A lei do arrendamento teve um grande impacto. Primeiro os proprietários dos imóveis cobravam rendas muito baixas em virtude do congelamento legislativo. Os empresários criaram estruturas de custos com base em rendas baixas e com a nova lei os senhorios subiram vertiginosamente estas. Assim começaram os desequilíbrios nas estruturas de custos das empresas, aumento dos custos de contexto e a redução no poder de compra das famílias proporcionou muitos encerramentos", explica Nuno Camilo.

E as lojas fechadas são mais visíveis na Invicta em zonas onde a reabilitação urbana não se tem feito sentir. Para reavivar as zonas mais afetadas, Nuno Camilo apresenta medidas que no seu entender podem fazer a diferença. "As autarquias têm de ter equipamentos e uma rede de serviços que sejam capazes de atrair pessoas", frisa. Existem ainda medidas de âmbito urbanístico que condicionam e muito o comércio, como por exemplo o desaparecimento de estacionamento à superfície e a criação de zonas pedonais. "Zonas onde o edificado está muito degradado deixam de ser atrativas e consequentemente perdem o interesse. Uma zona reabilitada é um espaço que vai atrair investimento e regenera-se economicamente", finaliza Nuno Camilo. 

Novos negócios 

Segundo Sandra Belo, consultora da empresa de consultoria imobiliária Cushman &Wakefield, "no caso de Lisboa e Porto são as zonas históricas que mais beneficiam com a reabilitação urbana e são as de maior interesse, tanto por parte do investidor como do retalhista". Por outro lado, advoga que as autarquias devem ser sensíveis às necessidades dos comerciantes e às exigências do consumidor, criando mais segurança nas ruas, estacionamento, iluminação, passeios largos e esplanadas. Um esforço que deve unir autarcas, investidores e empresários para atraírem consumidores e divulgarem as zonas comerciais. 

Os encerramentos são mais notórios nas zonas secundárias das cidades mas, em contrapartida, há partes da cidade onde a crise não se faz sentir. É, o caso da Avenida da Liberdade e Chiado, em Lisboa e, dos Clérigos e Santa Catarina no Porto. São procuradas para novas aberturas pelas multinacionais que são atraídas pelo fluxo de turistas que aqui circulam. Há outras partes de Lisboa em ascensão como o Príncipe Real com uma oferta alternativa de comércio, o Cais do Sodré e a zona da Ribeira que começam a dar a volta e a impor-se no panorama da cidade. Fala também da Avenida Guerra Junqueiro, que há ano e meio foi muito afetada por encerramentos e hoje esse cenário já se alterou. Sandra Belo explica que com a crise algo está a mudar no mundo do comércio em Lisboa e Porto. "É de realçar o aparecimento de novos conceitos, muito direcionados ao consumo de proximidade, criado por vezes por pessoas que tem a necessidade de criar o seu próprio emprego". O pequeno negócio de bairro começa a ser uma realidade, como sapateiros, barbearias, padarias. etc., porque o consumidor procura, produtos próximos e diferentes.

Fonte: Expresso

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