03 novembro 2014

Cidades inteligentes vão ter mil milhões de euros até 2020


As cidades portuguesas vão ter nos próximos anos uma oportunidade de ouro para se tornarem mais inteligentes e sustentáveis. Assim haja projetos e iniciativa, porque os recursos financeiros da União Europeia (UE) para a inovação urbana vão ser significativos. Até 2020, as nossas urbes vão ter à sua disposição perto de 1,1 mil milhões de euros de verbas comunitárias, no âmbito do programa Portugal 2020, o novo QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional). Uma verba que, de acordo com as orientações da agenda Europa 2020, é 5% do envelope financeiro de €21 mil milhões de fundos estruturais que Portugal vai receber nos próximos sete anos.


Ao mesmo tempo, as cidades portuguesas vão poder obter outros financiamentos para o mesmo fim, se concorrerem com projetos a outros programas específicos (Horizonte 2020, ESPON, URBACT e Smart Cities and Communities, entre outros). Vão poder fazê-lo individualmente ou em consórcio com outras cidades, empresas e universidades dos outros países membros da UE. O mais relevante será o Horizonte 2020, o programa que sucede ao 7º Programa Quadro de Ciência e Tecnologia, que também irá dar especial prioridade a projetos de investigação tecnológica aplicada que permitam aumentar a qualidade de vida aos cidadãos e a tornar as cidades mais sustentáveis.


É neste momento que se abre uma janela à transformação digital das cidades portuguesas que o Expresso, em parceria com a IBM, volta a publicar durante quatro semanas um conjunto de artigos associados que vão cobrir áreas temáticas de grande importância nas cidades do futuro (governação, vida de bairro, economia e mobilidade). Cada um destes temas é acompanhado de referências a casos de sucesso a nível nacional e internacional.

Virar a página

Até ao momento, por falta de visão estratégica dos autarcas ou por restrições financeiras, poucas foram as cidades portuguesas a avançar com iniciativas próprias (ou em consórcio) no âmbito das cidades inteligentes. As que avançaram fizeram-no normalmente em iniciativas-piloto, ainda sem uma visão integrada. Chegou agora a hora de virar a página. Mais do que a experimentação, tudo indica que se vai iniciar em breve um novo ciclo de investimentos de maior envergadura que vão poder tornar as cidades portuguesas mais inteligentes e com mais qualidade de vida para os cidadãos. Logo mais atrativas na captação de investimento e na criação de emprego qualificado.

O movimento das smart cities a nível mundial é imparável, face à crescente concentração da população nas zonas urbanas que irá continuar nas próximas décadas. E entrou na agenda dos autarcas de todo o mundo. Em 2050, espera-se que 67% da população mundial seja urbana. As cidades vão ganhar 2,6 milhões de pessoas e as zonas rurais perderão 300 milhões de pessoas. Uma tendência que se registará essencialmente nos países em desenvolvimento, obrigando a fortes investimentos em redes elétricas inteligentes, na monitorização da rede de distribuição de água, em transportes não poluentes e edifícios mais eficientes do ponto de vista energético.

Por isso, não surpreende que o mercado mundial de tecnologia e de serviços relacionados com a modernização das cidades seja gigantesco nos próximos anos.

Segundo o estudo "Global Smart Cities Market", elaborado pela Transparency Market Research a nível mundial, as cidades vão realizar investimentos que ultrapassam 1.265 mil milhões de dólares (€994 mil milhões) em 2019 quando em 2012 não ia além de 509 mil milhões de dólares (€400 mil milhões). Ou seja, o sector vai conhecer um crescimento médio anual de 14%. Em 2012, a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) tiveram a maior fatia dos investimentos em smart cities, sendo de esperar que venha a ser superado pela Ásia-Pacífico perante a enorme expansão da população urbana da região. A Europa será outro importante polo de investimento, face às metas ambiciosas a nível ambiental e económico e social que têm sido colocadas pela UE.

Ao mesmo tempo, a tecnologia não tem parado de evoluir, sendo fundamental que as cidades inteligentes tirem partido do grande volume de dados que geram. "Há uma transformação desencadeada por três grandes dinâmicas", refere António Raposo de Lima, presidente da IBM Portugal. E concretiza: "Primeiro, os dados serão o novo recurso natural e fonte de vantagem competitiva; depois temos as tecnologias móveis e sociais, que estão a mudar a forma como nos relacionamos; e em terceiro surge a cloud (a computação nuvem), que se tornou a plataforma capaz de integrar todas as capacidades tecnológicas".

Estas novas formas de aceder e disponibilizar os dados são uma oportunidade para ultrapassar as falhas de comunicação nos silos de informação (as 'quintinhas' que geram burocracia) que têm dominado até agora as autarquias. A questão preocupa a Comissão Europeia. Num documento sobre a agenda urbana da UE enviado ao Parlamento Europeu em julho de 2014, refere que a capacidade das cidades "está enfraquecida pelo modelo de governação compartimentada a vários níveis".

Para contrariar estes bloqueios e acelerar a mudança, a palavra de ordem hoje para um número crescente de políticos das cidades é criar estratégias de participação e colaboração transparentes entre os cidadãos. Lisboa é um exemplo positivo nessa matéria por ter lançado um orçamento participativo e apostar em dados abertos (ver página ao lado).

Outra sinal encorajador, que indicia estar a aumentar o espírito de colaboração entre as cidades portuguesas, é a recente constituição da Rede Nacional de Cidades Inteligentes, a Rener Living Lab, que funcionará com o apoio do Inteli (laboratório do Instituto Superior Técnico de soluções inovadoras para a vida urbana). Além das 18 capitais de distrito, conta já com cidades como Gaia, Almada, Loures, Sintra, Cascais, Torres Vedras e Guimarães.

Para o líder da IBM em Portugal, "a competitividade das nossas cidades e regiões está baseada na forma como soubermos aproveitar as novas tecnologias, associadas às competências, ao talento e à ambição da liderança".

Artigo originalmente publicado no primeiro caderno do Expresso de 25 de outubro de 2014

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