24 novembro 2014

O escritório do futuro


Escrevo este artigo de opinião sentado confortavelmente num banco do Alfa-Pendular, a caminho do Porto e com uma secretária rebatível azul na minha frente. Nas últimas semanas tenho feito esta viagem regularmente, e de forma temporária transforma-se no meu local de trabalho. Penso agora na definição de "local de trabalho": levo comigo o telemóvel, tenho um computador portátil, existe rede wifi no vagão, posso trabalhar quase normalmente. Levo também o meu caderno moleskine de capa preta, uma caneta e alguns marcadores, não me falta nada.


Num dia como hoje, em que não estou no escritório, o meu lugar continua lá, arrumado e sem ninguém que o use e à espera do meu regresso. Amanhã estou de volta ao meu lugar, felizardo por poder disfrutar de uma vista deslumbrante sobre a cidade. Por entre reuniões – dentro e fora de portas – visitas a lugares ou obras a decorrer, sei que não mais que 70% do meu tempo é passado efetivamente nesse lugar, talvez menos.

Numa empresa com cem pessoas, e com um modelo e dinâmica semelhante àquela onde trabalho, trinta dos cem postos de trabalho estão, em permanência, desocupados! Se considerarmos que cada posto de trabalho consome, em média, 10 m2 de área útil, falamos de 300 m2 que poderiam ser poupados, ou redirecionados para outro tipo de espaços, desenhados para as pessoas, de colaboração, positivos e altamente versáteis, potenciadores do desempenho e motivação. 

Esta é a condição que nos conduz para uma evolução na forma de trabalhar, aquilo que designamos de NEW WAYS OF WORKING, em que cada colaborador não tem um posto de trabalho fixo. A tecnologia de hoje permite-nos essa mobilidade, chegamos ao escritório, escolhemos um lugar, ligamos o portátil e estamos prontos. Quando saímos arrumamos tudo no nosso armário particular, e a secretária volta a ficar livre e desocupada, à espera de outro freguês. 

Neste novo escritório devem existir um conjunto de espaços que permitam utilizações específicas: salas de reunião, modulares e pequenas; phone-boots, para privacidade nos telefonemas; "office for a day", para umas horas em que precisamos' de um lugar mais tranquilo, para trabalho individual e focado, e espaços lounge, para momentos de pausa e descontração de todos. 

Voltando ainda à empresa das cem pessoas. Com este conceito, provavelmente sobrevive bem com apenas 70 postos de trabalho, num layout ajustado a este modelo. E com isso falamos também de uma redução dos custos fixos, tantas vezes importante para o equilíbrio no balanço das empresas. E para os colaboradores pode significar uma mudança que lhes aumente a motivação e os níveis de produtividade, trabalhando cada vez mais em equipa. Acredito que um dia, os escritórios do futuro serão todos assim.

Por Nelson Paciência, Consultor sénior de Bulding Consultancy da CBRE
Fonte: OJE

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.