18 novembro 2014

Vistos 'Gold'. Mediadores imobiliários dizem que ficaram à porta do 'Labirinto'


O sector não se quer ver enrolado nesta teia, atribuindo a culpa a agentes externos. A regulação foi insuficiente para deter a "natureza humana". Resta agora esperar pelas réplicas deste caso.
Não mata, mas mói: é assim que os agentes imobiliários olham para a mais recente polémica com a atribuição dos vistos "gold". Os contornos ainda pouco nítidos do caso não deixam margem para grandes conclusões. A expectativa é de que o mesmo "não afete o sector" a longo prazo. 

Por a Operação Labirinto estar circunscrita "a um conjunto limitado que não são agentes [imobiliários] de referência", os danos reputacionais para a atividade serão menores, acredita Francisco Sottomayor da CBRE. 

O alerta da Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal (ASMIP) vai nesse sentido, pela defesa da "credibilidade" do sector. O presidente Francisco Pais destaca o facto de existirem empresas de investimento e sociedades de advogados a operar "indevidamente" no mercado imobiliário. Pede, por isso, mais e melhor regulação num sector que diz estar "desorganizado".

No caso chinês, é recorrente a referência a agências de imigração associadas a estes investimentos. Os agentes ouvidos pelo Negócios são unânimes em referir que existem empresas a tirar partido deste mercado, cobrando comissões elevadas antes sequer de a operação estar em marcha em Portugal. 

Contra o fim do visto 

As imobiliárias negam responsabilidades neste caso de corrupção e recusam brechas dentro do funcionamento do processo, para encaixarem benefícios. Há, contudo, dúvidas no que toca aos contornos precisos deste procedimento. A partir do momento em que a venda do imóvel está concluída – e é cobrada uma comissão de 5% sobre o valor do imóvel – a imobiliária pode apenas orientar o cliente para aconselhamento legal face à atribuição do visto ‘gold’, explica Ricardo Sousa, CEO da Century 21.

Neste processo, existe inclusive uma dupla fiscalização: uma relativa aos montantes e aos meios de pagamentos dos imóveis transacionados por parte do Instituto da Construção e do Imobiliário (InCI) e outra relativa às caraterísticas dos investidores que se candidatam a esta autorização de residência.

Apesar das transações com vistos ‘gold’ não representarem uma fatia relevante na operação dos agentes consultados pelo Negócios, todos aplaudem o programa como um balão de oxigénio para o sector. “Acabar com ele seria um tiro no pé”, remata Francisco Sottomayor.

A redefinição poderá ser benéfica, a eliminação catastrófica. O facto é que a iniciativa, recorda Eduardo Garcia e Costa da Keller Williams “estimulou a procura de clientes fora do espaço Schengen”. O radar do investimento chinês – embora não focado em Portugal – poderá virar-se noutras direções com a polémica.

Para lá da corrupção, fica a ideia de que o sistema judicial está em cima do acontecimento. “Mais grave seria (o impacto negativo) se a Justiça não tivesse atuado”, defende Gustavo Soares da Sotheby’s.



Fonte: Negócios

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