31 janeiro 2015

Luxo cresce em Lisboa: Avenida da Liberdade é a nossa Calle de Serrano


A Av. da Liverdade, em Lisboa, está a transformar-se na na nossa Saint-Honoré ou na nossa Calle de Serrano. As Ramblas é mais para o Chiado, afirma Sandra Campos, partner e diretora do departamento de Retalho da Cushman & Wakefield.
A Av. da Liberdade, em Lisboa, é um exemplo de como se constrói bem uma marca internacional. Que papel teve a C&W nesse trabalho e o que conseguiu em 2014? 
Tem havido, ao longo dos anos, um trabalho grande porque, naturalmente, para termos concluído as transações que conseguimos concluir este ano, é óbvio que muito trabalho teve de ser feito ao longo dos anos. Em 2014, conseguimos fechar um volume de negócios muito significativo, que representa cerca de 4 mil m2. A avenida está num destino de eleição, está na moda, Lisboa está na moda e, claro, a avenida tira muito proveito disso. Temos um turista muito especial.

Que também tem evoluído ao longo dos últimos dois anos.
Sim, tem-se diversificado. Continuamos a ter uma franja muito grande de turismo angolano e brasileiro, mas, este ano, os chineses deram cartas. Dinheiro proveniente de Hong Kong e do Japão foi, de facto, o grande impulsionador das compras a retalho. As vendas dos nossos retalhistas foram beneficiadas por estas origens do mesmo modo que os recursos. Menos agora, naturalmente, mas foram estes os grandes impulsionadores. Aquela que era a predominância do angolano tem vindo a diluir-se. 

Mas isto significa também uma forte procura de todas as grandes marcas internacionais? 
Fortíssima. Temos aqui duas grandes dificuldades, temos uma procura que ainda não é satisfeita pela oferta que temos para responder a estas necessidades, mas temos também uma procura que é muito exigente. Ou seja, porque é tão difícil uma marca abrir uma loja na Avenida da Liberdade? Porque, em Lisboa, cabe uma loja daquela marca - não é uma cidade com uma dimensão como Milão, por exemplo, onde variadíssimas ruas podem ter uma loja daquela marca. Em Lisboa, só a Avenida da Liberdade pode ter aquela loja. Daí que, quem vem para cá, tenha de ter a loja com aquelas caraterísticas todas. 

É a flagship?
É, em todos os sentidos. Se tivéssemos duas ou três lojas que eles pudessem abrir, se calhar algumas podiam não corresponder àqueles padrões que a marca exige, agora como só abrem uma, tem de ter aqueles "x" metros de janela, aqueles "x" metros de móveis, de ter o pé direito, têm de ter isto e aquilo e o outro, o que torna dificílimo outras marcas entrarem neste mercado. Por outro lado, começamos agora a sentir os efeitos de alguma reabilitação urbana que se tem feito em Lisboa, no país, e muito na Av. da Liberdade. Temos muitos dos 83 ou 86 edifícios desta avenida a serem alvo de reabilitação. Mais tarde um ou mais cedo, vão criar aqui oportunidades de retalho, mas este mais cedo ou mais tarde é, muitas vezes, mais tarde e as marcas preferem esperar para terem aquela loja do que abrir só por abrir.

Isso significa que há marcas que já sinalizaram o espaço que querem e possivelmente vão abrir dentro de dois ou três anos? 
Já. Já apontaram se vão conseguir aqueles locais ou não, logo que os tenhamos. Mas há marcas que negoceiam determinado espaço com dois ou três anos de antecedência para garantirem que vão abrir ali mesmo. 

Onde querem e quando querem? 
Exatamente. E isto faz com que toda esta dinâmica esteja a revolucionar este mercado. É verdade que temos umas rendas em crescendo na Avenida. Quando reportamos aquelas rendas na casa dos 90 euros por m2, é bom percebermos que estamos a falar de localização prime para uma área de cerca de 100 metros. Temos de ter sempre assim alguma referência, senão podemos dar valores errados. Quando estamos a falar de 300 ou 400 euros, não estamos a falar dos mesmos 90 euros por m2, só para lhe dar uma ideia quando damos estes números. 

Isso quer dizer que o melhor centro comercial está 20% abaixo disto? 
Sim. Mas o melhor centro comercial é muito mais abrangente para as marcas do que uma Avenida, que é muito mais elitista. O melhor centro comercial consegue captar toda uma gama de lojistas que não é ainda o público da Avenida e, se calhar, nunca vai ser. E ainda bem porque, deste modo, convivem todos de forma muito harmoniosa e muito pacífica. Outro fenómeno a que estamos a assistir na Avenida da Liberdade - e que é curioso -, é que, se até há uns anos, tínhamos dois quarteirões a funcionar, os do meio, e com procura ativa e lojas a instalarem-se, vemos hoje uma Avenida que está a estender-se mais para o lado dos Restauradores, bem como mais para o lado do Marquês de Pombal. O que ajuda, pois não ficamos tão restringidos a estes dois quarteirões. 

Em 2015 vai haver novas marcas a entrar?
Vai com toda a certeza. Ainda não consigo levantar a ponta do véu, mas posso dizer que já fechámos, no final de 2014, quatro negócios cujas aberturas aqui na Avenida estão previstas para 2015. Estamos, naturalmente, obrigados a confidencialidade. A dinâmica vai manter-se. Mais espaços tivéssemos, pois muitas marcas estão muito empenhadas em vir para Lisboa. Há que compreender um fenómeno: as grandes capitais europeias começam também a ficar muito esgotadas - falo de Milão, Roma, Paris, capitais onde as marcas já têm uma presença muito forte, sentindo necessidade de alargar a sua área geográfica. Lisboa está muito no seu horizonte. 

A Avenida de Liberdade está a transformar-se numa zona de Ramblas? 
Eu diria mais que se está a transformar numa Saint-Honoré, nuns Campos Elísios ou talvez mais numa Calle de Serrano.

Foi convidada a integrar uma área internacional de luxo... 
Aconteceu logo no início de 2014 a integrar um grupo que existe dentro da C&W, que é o grupo de retalho de luxo, muito restrito e que atua a nível de toda a Europa e faz a ponte com as outras geografias, Ásia e EUA. Acontece que, quando o mercado de luxo de determinado país começa a ter relevância, entende-se por bem que o diretor de retalho desse país integre esse grupo. Este grupo potencia o contacto com as marcas de luxo e percebe as necessidades ou intensões de expansão dessas mesmas marcas. Acho que é um ponto de contacto muito importante para o retalhista. 

DO LADO DO SOL 
A história, de há dois ou três anos, de que os lojistas preferiam um lado a outro da Avenida, também acabou? 
Esse é um fenómeno muito engraçado. Está ligado com o sol, mas, de facto, no verão, há um lado muito mais simpático. Há marcas que vêm cá e os meus clientes internacionais que vêm pela primeira vez dizem que é naquele lado que têm de estar. Os lojistas que já cá estão, que foram alguns dos nossos clientes deste ano, como é o caso da Hugo Boss e da Ermenegildo Zegna, estão do lado contrário, do lado da sombra, não querem mudar para aquele lado. Foram dois lojistas que este ano abriram mais lojas, a Hugo Boss, manteve a loja que já tinha e transformou-a numa loja de senhora e abriu uma nova loja de homem. Estava cá há 16 anos e sentiu a necessidade de crescer urgentemente. A Ermenegildo passou de 250 metros para 1.000 metros, onde era a Lanidor.

Fonte: OJE

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