02 fevereiro 2015

O imobiliário é sustentável?


Muito tem sido discutido acerca do mercado imobiliário pós-crise e especialmente quais as saídas para uma indústria que movimenta milhões de euros e emprega milhões de pessoas. As recentes notícias dando conta de recordes a nível do investimento imobiliário em Portugal, da entrada de capitais por via dos golden visa e da redescoberta do potencial turístico do nosso país são sinais animadores mas impõe-se perceber se são reflexo de mudanças capazes de introduzir alterações sistémicas que conduzam a uma revitalização do sector ou apenas medidas pontuais que poderão tendencialmente influenciar os investidores em determinados contextos mas sem um real impacto na nossa economia a médio e longo prazo.


Como contribuição para este debate, realizou-se no dia 21 de janeiro uma conferência promovida pela Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários e pelo Urban Land Institute sob o tema "Desenvolvimento Sustentável em Portugal e no Mundo", a qual visava elencar os pressupostos sobre os quais a promoção imobiliária poderia assentar com vista a contribuir, através de padrões de construção sustentável, para um efetivo desenvolvimento de alicerces futuros que cada vez mais se afastem de noções de green washing e, ao invés, sejam catalisadores do mercado imobiliário com base na inovação, eficiência energética, resposta às necessidades crescentes dos consumidores e oferta de produtos sustentáveis, plenamente integrados no espaço onde se localizam. 

Sendo óbvio que a construção sustentável é um dos pilares do desenvolvimento sustentável latu sensu, e tendo presente que o edificado tem um impacto expetável superior a cinquenta anos, princípios como a eficiência dos recursos e materiais disponíveis, integração planeada dos imóveis na topografia, preparação dos empreendimentos para as vindouras imposições legislativas neste contexto de economia verde, entre outros, são claramente sinais positivos da recente atividade imobiliária em Portugal e no resto do mundo mas, per se, julgo não serem suficientes para direcionar uma escolha junto da massa crítica de qualquer mercado, os consumidores. 

Se é verdade que cada vez mais estes estão atentos às questões da sustentabilidade, com algum reflexo igualmente a nível do mercado imobiliário - embora muitas vezes tal atenção resulte de alterações legislativas como a imposição da certificação energética dos imóveis -, também não deve ser minorado o papel que a emoção ainda tem aquando das opções dos mesmos, sobrepondo-se amiúde à razão enquanto fator decisivo nessas escolhas. Com efeito, como é possível defender a construção sustentável como via futura para o mercado imobiliário quando as opções pelas tecnologias verdes são, no imediato, possivelmente mais onerosas, ou mesmo quando a nível turístico as preferências passam sempre pela localização das respetivas unidades nas praias, privilegiando unia experiência direta do ambiente envolvente, ao invés da sua oclusão nas florestas ou comunidades? Este imediatismo do consumo leva igualmente ao imediatismo do retorno que está na base das decisões de investimento imobiliário e urge redirecionar o paradigma de consumo para se poder construir um novo mercado onde a sustentabilidade terá um papel determinante no sucesso de qualquer produto. 

Será assim trabalhando também os elementos emocionais dos consumidores, enaltecendo as alternativas e mais-valias inerentes à construção sustentável, ainda que a médio e longo prazo, que poderemos contribuir para uma direção e edição da escolha que em última análise possibilite a diferenciação de produtos imobiliários verdadeiramente sustentáveis como pilares de uma economia verde para a qual inevitavelmente caminhamos. Julgo, sem qualquer margem de dúvida, que devemos começar já a preparar esse futuro e a garantir a Portugal e aos seus empresários do sector imobiliário um lugar de destaque a nível mundial, por muito árdua que pareça a missão. 

Por Nuno Madeira Rodrigues, CEO da HBD STP - Investimentos Turísticos
Fonte: Expresso

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