Porto disputado pelos estrangeiros

Comprar casas no centro da Invicta e arrendá-las a turistas é um bom negócio. O centro histórico e com as zonas da Boavista e da Foz são as que registam, neste momento, a maior procura no mercado imobiliário do Porto. Tal como em Lisboa, também aqui os estrangeiros estão a dinamizar o mercado mas há também muitos portugueses com capital para investir e optam por imóveis em detrimento dos produtos financeiros dos bancos. 

Os preços por metro quadrado nas zonas de maior procura, segundo apurou o Expresso junto de várias mediadoras imobiliárias especializadas no Grande Porto, variam em média entre os €2.000 e os €2.500 (casas novas). 

"0 mercado esta a mexer muito neste momento e o produto esta realmente a escoar. A todos os níveis. A banca procura-nos porque quer reforçar o credito à habitação junto das famílias e quer escoar o produto que ainda tem em stock, os promotores que tinham projetos em suspenso desde a crise começam agora a avançar e os estrangeiros estão a investir muito na Baixa do Porto e na Foz, a tal ponto que já começa a escassear produto", diz Nelma Serpa Pinto, que na sociedade de mediação imobiliária Predibisa tem a responsabilidade pela área do residencial e da reabilitação. 

A responsável dá como exemplo o projeto Passeio das Cardosas, no coração da cidade que a mediadora comercializou quase na totalidade em apenas dois anos. 

Dos 53 apartamentos, restam apenas tres. 70% dos compradores são portugueses interessados em rentabilizar as casas para o mercado turístico, os restantes 30% distribuem-se entre diversas nacionalidades desde os já habituais brasileiros e franceses, mas também alemães, paquistaneses e angolanos. Todos eles focados na rentabilidade assente no boom turístico dos anos mais recentes. 

A reabilitação é, alias, neste momento, o grande motor da construção no Porto. Nos primeiros nove meses de 2014 foram emitidas licenças para 213 edifícios no Porto, dos quais 194 se destinavam a reabilitação. Ou seja, uma media mensal de 21 edifícios para reabilitar, segundo os dados mais recentes do Confidencial Imobiliário, empresa independente que presta informação aos profissionais do mercado imobiliário. 

Daniela Loureiro Himmel, da Atlantic Homes Portugal, é a responsável na agência pela comercialização de imóveis na região Norte. A mediadora, que muito recentemente passou a integrar a exclusiva rede de imobiliárias não franchisadas Leading Real Estate Companies of the World (presente em quase 50 países), trabalha maioritariamente com estrangeiros. "Apenas 15% dos nossos clientes são nacionais. De entre os estrangeiros, a procura tem sido maior por parte dos clientes franceses que gastam uma média de €250.000 em bons apartamentos ou pequenas moradias", realça ainda. 

Franceses compram 70 casas por semana 

Os franceses, recorde-se, adquiriram no ano passado 3.680 casas em Portugal, a um ritmo médio de 70 por sernana, segundo dados da APEMIP - Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal. 

O regime do Residente Não Habitual (RNH) que confere isenções fiscais a quem provar que reside em Portugal durante pelo menos seis meses, a somar a vários outros fatores como o clima e a segurança que se respira no país, criaram o enquadramento perfeito para a atual onda de investimento francês. 

"O regime RNH já traz muitos clientes para o Porto e para o norte de Portugal. Tal deve-se, também, ao facto das ótimas ligações aéreas de que dispomos no aeroporto do Porto e que permitem estarmos ligados a todos os pontos mais importantes", confirma Daniela Himmel, da Atlantic Homes. Já os candidatos aos vistos gold (liderados pelos chineses) só mais recentemente centraram o seu radar de investimento no norte do país. "Começa a haver um maior interesse dos investidores vistos gold no Porto, uma vez que os preços em Lisboa, em zonas especificas, já aumentaram muito, fruto, aliás, do investimento chinês. E no Porto, comparando com Lisboa, é possível obter imóveis com muito maior qualidade pelo mesmo preço de investimento. Como os preços não estão inflacionados, a rentabilidade para quem investe é bastante superior". Refira-se que, atualmente, os preços praticados no centro histórico de Lisboa para casas também direcionadas para o arrendamento de curta duração varia entre os €4.000 e os €8.000. 

Também na Luximo's, associada da Christie's, empresa muito especializada no segmento de luxo, os estrangeiros representam a maior fatia, cerca de 70%, destacando-se, neste grupo, os franceses. "Existe em crescendo notório de franceses a comprar no Porto. Na Luximo's, vendemos mais de 50 imóveis a este grupo de clientes que já representam cerca de 40% das nossas vendas", diz Ricardo Alves Costa, diretor-geral da Luximo's, acrescentando que esta clientela privilegia a proximidade ao mar e ao aeroporto, mas o seu leque de escolhas é mais amplo do que os brasileiros, por exemplo (muito centrados na baixa portuense e na Foz) e pode ir até, como limite, a Vila do Conde. 

Os franceses e os chineses começam também a adquirir imóveis devolutos para os reabilitar. "Existem investidores que compram prédios para reabilitação e posterior venda em frações ou para colocar no mercado de arrendamento, quer a longo prazo quer turístico; nesses casos o investimento pode variar entre €100.000 e alguns milhões de euros", sublinha ainda Daniela Himmel, da Atlantic Homes Portugal. 

Num registo mais nacional e mais direcionado para a classe média, continua também a registar uma procura assinalável a zona Oriental do Porto. "Toda aquela zona do Estádio do Dragão tem registado um grande dinamismo por parte de famílias residentes no Porto", confirma Nelma Pinto, da Predibisa. 

Fonte: Expresso