Pela primeira vez a média da taxa a três meses ficou negativa. Vai ser deduzida ao "spread" dos créditos à habitação revistos em Junho, mas também nos actualizados nos próximos meses. Depois do Verão, os juros deverão voltar para cima de zero.
Maio ficará na história como o primeiro mês em que a média da taxa a três meses utilizada como indexante nos empréstimos à habitação passou para negativo. Um juro com um sinal de menos que vai permitir às famílias com revisão do contrato no próximo mês verem encolher ainda mais o valor da prestação do crédito. Vão beneficiar da política monetária expansionista nos países do euro, a mesma que, por estar a surtir efeito, deverá limitar estes juros abaixo de zero a um número restrito de portugueses.
Depois da Euribor a um mês, agora foi a vez de também a taxa a três meses ter registado uma média mensal (a que é utilizada pelos bancos na revisão dos contratos) negativa. A Euribor, que está no mínimo histórico de -0,013%, regista uma média mensal de -0,010%. E, tendo em conta que "não podem ser introduzidos limites à variação do indexante que impeçam a plena produção dos efeitos decorrentes da aplicação da regra legal", segundo o Banco de Portugal, esta será a taxa a aplicar nos créditos que têm revisão em Junho.
Considerando um financiamento de 100 mil euros a 30 anos, ao qual tenha sido aplicado um "spread" de 0,7%, esta taxa negativa ditará urna redução de 0,84% no valor da mensalidade a pagar ao banco em Julho. Em vez dos actuais 310,20 euros, estas famílias passam a pagar 307,60 euros. Não é uma redução muito expressiva, mas "as famílias beneficiam sempre da queda das taxas, acelerando o ritmo de amortização dos seus empréstimos", diz Paula Carvalho, economista-chefe do BPI.
São 666 mil as famílias que poderão beneficiar de taxas negativas, considerando a percentagem de créditos para a compra de casa com a taxa a três meses. Quem tem revisão no próximo mês consegue beneficiar deste sinal de menos, e quem tiver nos meses seguintes também deverá experienciar o impacto que a política monetária do BCE está a ter nos juros. Mas dificilmente todos tirarão partido destes juros. "O mercado de futuros de taxas de juro aponta para subidas das taxas do monetário dentro de alguns meses", nota Paula Carvalho.
"Continuamos a observar um recuo dos indexantes na generalidade das maturidades", diz Filipe Garcia. Contudo, os futuros da taxa a três meses têm vindo a subir num movimento que, "parece-me, está relacionado com uma eventual redução dos receios de deflação na Zona Euro" fruto da política do BCE, acrescenta o economista da IMF. Os juros negativos podem, segundo os contratos futuros, manter-se em Junho, Julho, Agosto e Setembro, mas depois passam para positivo: a taxa negociada para Outubro está já em 0,01%.
Metade não vê o menos
Se nem todos os portugueses com crédito à habitação indexado à taxa a três meses conseguirão contar com uma taxa negativa, mais de metade das famílias que comprou casa própria com recurso a financiamento não vai, de todo, obter esses juros com um sinal de menos. É que 51,1% dos créditos está indexado à Euribor a seis meses, taxa que "será difícil" atingir esses níveis inferiores a zero, diz a economista-chefe do BPI. Contudo, mesmo sem o menos, continuarão a beneficiar do contexto de taxas muito baixas que permitirá a quem tiver revisão do crédito no próximo mês sentir mais uma redução no valor a pagar ao banco.
Será a segunda vez consecutiva que as famílias com estes créditos vão ver uma redução na mensalidade, elevando para 5% a poupança no espaço de um ano. Num empréstimo de 100 mil euros a 30 anos, estes portugueses vão, de acordo com os cálculos realizados, passar a pagar 310,64 euros, 1,77% abaixo dos 316,25 euros que têm vindo a suportar desde a última revisão do contrato, em Dezembro.
Fonte: Negócios
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