09 setembro 2015

Arrendamento já pesou o dobro no negócio das casas


As operações de arrendamento já chegaram a representar mais de 50% das transações de casas das principais redes de mediação imobiliária, mas estão hoje em cerca de 25%. O mercado de arrendamento habitacional está a perder força face ao da compra de casa, depois de, nos últimos quatro anos, ter conquistado a preferência de muitos consumidores portugueses.


De acordo com as principais redes de mediação imobiliária a operar em Portugal, este mercado está atualmente a pesar cerca de metade do que já representou na faturação. No pico do dinamismo do arrendamento, as transações neste mercado chegaram a pesar 55% no total da faturação da Century 21 Portugal, avançou Ricardo Sousa, Administrador desta rede, ao Público Imobiliário, avançando que este volume compara com os atuais 30%. Na ERA Portugal, os números são semelhantes. “Durante os primeiros seis meses do ano, 25% da faturação dizia respeito a operações de arrendamento e 75% a vendas. Já durante o período da crise, o arrendamento chegou a pesar 50%”, diz Miguel Poisson, Diretor Geral desta rede. 


Beatriz Rubio, CEO da Remax Portugal, dá conta de uma diminuição de 16% nos arrendamentos e um aumento de 20% nas vendas no 1º semestre de 2015, adiantando ainda que o peso de cada tipo de negócio se inverteu. “Este ano verificou-se um aumento substancial das vendas e uma diminuição dos arrendamentos, quando há dois anos a tendência era a oposta, em virtude das restrições ao crédito a habitação”. 

Para estes profissionais, o regresso da Banca à concessão de crédito, ainda que em moldes diferentes, será a principal razão para que os portugueses estejam a regressar à compra de casa. “O mercado de arrendamento cresceu enquanto o acesso ao crédito esteve restringido, sobretudo por imposição de entidades externas” diz Miguel Poisson, uma ideia confirmada por Beatriz Rubio que afirma que “com a dificuldade de obterem a aprovação no crédito, diminuiu bastante o número de famílias que conseguia comprar casa. Só, nessa altura, é que se verificou um aumento do arrendamento”. Por isso, “assim que a economia deu sinais de retoma e o setor financeiro voltou a apostar no crédito à habitação, as decisões de compra que estavam paralisadas foram retomadas” afirma Miguel Poisson. 

Também Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário (Ci), uma empresa que produz estatísticas para o mercado habitacional, considera que “a forma como a Banca aliviar ou não os critérios do crédito será determinante para o regresso à compra de casa”. E detalha: “Quanto maior for o loan-to-value (isto é, o rácio entre o valor do empréstimo e o valor da casa) maior será o convite para voltar à propriedade do imóvel”, comenta este especialista. 

Os dados do Portugal Housing Market Survey (PHMS), um inquérito mensal produzido pela Ci e pelo RICS, dão conta desde há vários meses precisamente do que hoje sentem os mediadores. Em maio, a venda de habitação estava crescer ao ritmo mais elevado desde 2010, registando um aumento robusto da procura e com os preços a responderem também positivamente. Aliás, já em janeiro o mesmo inquérito contava que os preços das casas estavam a subir nesse mês pela primeira vez desde início do programa de resgate. Em sentido contrário, o mercado de arrendamento tem vindo a abrandar o ritmo e as rendas estiveram inclusive a recuar, estabilizando nos últimos quatro meses. A procura tem crescido no arrendamento, segundo o PHMS de julho, mas as novas instruções pelos proprietários continuam a cair. 

Para Ricardo Guimarães é preciso não esquecer que “muitos proprietários foram senhorios à força”. “Quando os preços das casas voltaram a crescer, os portugueses começaram a pensar em voltar ao mercado de compra e venda” e daí a contração da oferta de arrendamento. Além disso, numa perspetiva de investimento, como forma de gerar rendimento, “é fundamental que as rendas estabilizem e não desçam, para que o arrendamento seja atrativo” e os proprietários continuem a colocar casas para arrendar em oferta. Obviamente que do lado da procura, isto é, para as famílias ”a descida das rendas é bastante positiva”, mas não é suficiente para manter a procura neste mercado em detrimento da compra de casa. “Para quem tem acesso ao crédito, pode hoje estar a pagar uma casa mais barata do que a renda”, sublinha Ricardo Guimarães. Para isso mesmo alerta também Beatriz Rubio: “o preço é um fator fundamental para a opção do arrendamento, pelo que se as rendas tiverem preços mais competitivos irão certamente reunir maior número de interessados”. E para Miguel Poisson, “se olharmos a prazo, a compra de habitação, mesmo incluindo todos os custos com a habitação como o IMI ou o condomínio, torna-se mais vantajoso do que um arrendamento, uma vez que apesar do valor das prestações do crédito à habitação e da renda serem semelhantes, no futuro há a propriedade da casa, ou seja um ativo”. 

“Ter” casa continua a ser uma questão cultural 
A questão cultural continua também a ser determinante para o mercado habitacional, de acordo com os mediadores. “Tradicionalmente os portugueses preferem comprar um bem que podem deixar aos seus filhos”, diz Beatriz Rubio. Para Miguel Poisson foi a “incerteza no futuro e a dificuldade em obter financiamento que, há dois ou três anos atrás, demoveu grande parte dos Portugueses a avançara com a intenção de compra e a optar pelo arrendamento”, isto porque, na sua opinião, a compra de casa é vista “como uma poupança forçada, geradora de património e que se traduz numa maior tranquilidade para o futuro”. 

Situações temporárias continuam a alimentar arrendamento
Apesar de reconhecer que em Portugal a preferência é, sem dúvida, a compra, e mesmo com o abrandamento do arrendamento, Ricardo Sousa considera que se irá continuar a assistir, nos próximos anos a uma “diminuição do número de proprietários para valores mais próximos dos 70%”, quando já chegaram a representar praticamente 80% do mercado.”. Ricardo Sousa defende que apesar da cultura de proprietário ser predominante, “os jovens estão a optar por arrendar as suas primeiras casas numa fase inicial das suas vidas. E também o impacto da mobilidade profissional está a levar muitas famílias a optar pelo arrendamento”. Também Beatriz Rubio acha que o arrendamento vai continuar a ser uma opção utilizada sobretudo para situações temporárias, incluindo para casais jovens em inicio de vida, ou estudantes, e principalmente nos centros urbanos, como Lisboa e Porto”. “Para quem a mobilidade é uma condição, o arrendamento pode ser uma boa opção”, termina Miguel Poisson. 

Fonte: Público Imobiliário

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