31 outubro 2015

A globalização e o mercado de escritórios. Quem anda enganado?


Os indicadores económicos para o período 2015-2017 foram revistos em alta. Uma vez mais, a maior parte do capital investido foi de origem internacional. A atividade no mercado de escritórios continua em trajetória ascendente, com os níveis de absorção a aumentar. São estas as frases que lemos e ouvimos provenientes das consultoras imobiliárias internacionais sobre o mercado de escritórios em Lisboa!


Efetivamente, o mercado português mantém a tendência de descida das yield prime, como resultado de um desempenho muito positivo do mercado de investimento. Os investidores são aconselhados a apostar no mercado de escritórios. Não será um erro de análise a longo prazo? Não estaremos a ver (quase) todos “muito curto”?

Penso que sim, pois o atual stock existente tem um conceito, um design e uma tipologia que não se adequa ao novo modelo de sociedade, aos novos modelos empresariais e a um novo conceito de cidade. Não só em Lisboa, mas em muitas capitais mundiais, principalmente aquelas muito recentes, onde o capital jorra como o petróleo dos poços, ou as muito conservadoras, que não têm visão.

Após a crise do “subprime”, há um novo ciclo no desenvolvimento urbano e na forma de pensar e “fazer cidades”. A concorrência e competitividade conduzem-nos à inovação e à criatividade. Concebe-se inovação a partir das novas tecnologias e da nova forma de gerir e pensar. “Adapta-te ou morres” é a palavra de ordem. Já Tim Brown, em 2009, no seu livro “Change by Design”, introduziu-nos no DESIGN THINKING, uma nova forma de as pessoas e organizações pensarem e gerirem os desafios de hoje no sentido de criar as oportunidades do amanhã. Curiosamente, nesta última edição mensal da Harvard Business Review, o “Design Thinking” é tema e transcrevo o título e duas Linhas: “Design Thinking Infuses Corporations”(…) Executives are realizing that we need more creativity in the way we work and lead in the skill sets we develop. This is where design thinking can help”.

Há um novo imobiliário depois da crise, há mais racionalidade, há redução de custos e há a necessidade da redução da pegada ecológica.

As TIC deram origem a novas formas e espaços de trabalho, aos escritórios do futuro e novos modelos de trabalho. Temos o coworking, business centers com plataformas tecnológicas de apoio, escritórios virtuais (pode ser a tomar café no Starbuks), o teletrabalho que sustenta a freelance economy ou a crowdsourcing (com a vantagem que ajuda também na retenção dos colaboradores nas organizações). Os hotéis, os aeroportos, as esplanadas ou bares têm redes wi-fi são os escritórios de uma nova geração que quer networking global e maior mobilidade.

Vivemos cada vez mais em “smart cities” na era da digital city. Somos e-People, temos e-Management e e-Keeping. O velho escritório tradicional está moribundo, mas podemos ir com calma, de manhã à “distancia”, à tarde “local”.

Não me esqueço de Richard Branson, líder do grupo Virgin, ter dito um dia: “Daqui a trinta anos, quando a tecnologia evoluir ainda mais, as pessoas vão olhar para trás e perguntar porque é que existiam escritórios”.

Escritório para quê? A cidade sustentável constitui o enigma central para o urbanismo das cidades do amanhã. Seria prudente os investidores e promotores imobiliários ouvirem também outros atores na indústria do imobiliário, ou seja, os urbanistas e arquitetos, os “think tankers” globais, pela formação que possuem.

artigo de Gustavo da Cunha, Arquiteto urbanista e real estate adviser
Fonte: OJE

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