17 outubro 2015

Como reabilitar sem afastar os locais?


A reabilitação urbana é uma realidade crescente em Lisboa e no Porto, sobretudo no segmento superior. Os baixos rendimentos da população portuguesa funcionam como barreira. Restam os estrangeiros e o turismo. O paradigma alterou-se: da construção nova passou-se para a reabilitação urbana. Manuel Salgado, vereador da Câmara de Lisboa com o pelouro do Urbanismo, acredita que os sinais positivos nesta área começaram em 2011 na capital portuguesa.


“O investimento passa a ser principalmente na reabilitação urbana”, afirmou durante a conferência ‘Observatório: O Imobiliário em Portugal’, organizada pelo Negócios no passado dia 16 de Setembro. 

Também o homólogo do Porto, Manuel Correia Fernandes, admitiu que existem “sinais de retoma” na Invicta. É um passo importante para ir colocando fim ao problema da “obsolescência do parque construído” no centro da cidade. 

Em Lisboa, a autarquia tem apoiado esta política de reabilitar ao permitir a isenção de taxas. O número de pedidos de licença está a aumentar, mas há uma tendência: grande parte do investimento é feito para segmentos superiores. E é aí que surge uma questão a que é preciso dar reposta: os baixos rendimentos da generalidade da população portuguesa impedem o seu acesso a estas novas habitações. Restam os estrangeiros e as unidades para alugar a turistas. 

Apesar de reconhecer este cenário, uma vez que “o rendimento alugado a turistas é superior do que a nacionais”, Salgado opta por não atribuir culpas. “Não se pode dizer que o turismo é o papão que deu cabo das cidades”, reforçou. Até porque a atividade turística acaba por contribuir para o desenvolvimento económico das mesmas.

A saída de residentes locais do centro para a periferia das cidades, em consequência deste fenómeno, leva Correia Fernandes a admitir uma “gentrificação das cidades”. Mesmo que haja uma vontade crescente das gerações mais jovens em regressar ao núcleo citadino, essa opção acaba muitas vezes vedada devido ao aumento dos preços. Coloca-se ainda outra questão para quem se dedica à gestão urbanística: avaliar a pressão colocada em Lisboa e Porto com as entradas e saídas diárias daqueles que vivem nos concelhos limítrofes. Para os dois responsáveis, o caminho para atenuar este “efeito perverso” da reabilitação passa por um maior carinho dado ao mercado do arrendamento, como desenvolvimento de programas de habitação com rendas abaixo do salário mínimo. “O simples jogo do mercado não resolve este problema”, admitiu Salgado. Há que equilibrar os interesses públicos e privados nos pratos da mesma balança.

Fonte: Negócios

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